Nessa aula pretendemos que o aluno possa avaliar criticamente sua posição dentro de um grande cenário de produção e consumo, como sujeito receptador, consciente ou não, de um ou mais gêneros musicais, e capaz de atribuir – sozinho ou em grupo – novos significados à prática musical. No contexto do EJA, esse seria o objetivo fundamental, que norteia não apenas essa aula, mas toda a série que estamos propondo: o resgate do discurso silenciado.

Nesse momento o aluno já deve ser capaz de refletir sobre as práticas socialmente estabelecidas que contextualizam todo e qualquer fazer musical. O próprio conceito de 'música' estabelecido 'a priori' (ver "Música - Uma proposta de Aula Introdutória no contexto da EJA (aula 1)") já deve estar sendo repensado pelos alunos que agora devem estar atentos para os elementos não musicais presentes na música (ver "Música - Gêneros Musicais: Aspectos etnográficos (aula 3)").

A aula deve começar com uma apresentação informal sobre os trabalhos previamente realizados onde cada aluno deve ter feito um relato descritivo de alguma prática musical escolhida por ele mesmo (ver "Música - Gêneros Musicais: Aspectos etnográficos (aula 3)"). Nesse momento, os trabalhos menos detalhados podem ser ampliados em sala, com o estímulo do professor, de modo que, ao final desse primeiro momento, tenhamos uma pequena amostra etnográfica.

A partir daí, o professor deve sugerir que cada aluno, tendo em vista a escolha de um gênero que de fato tenha relevância em seu cotidiano, escolha um dos exemplos e comece a refletir a respeito de sua própria posição dentro do processo. Procuraremos direcionar o foco para nós mesmos enquanto ouvintes, anônimos, desconhecidos e ao mesmo tempo identificados com uma coletividade.

Nossas práticas podem e devem ser, agora, exploradas com a maior naturalidade possível a fim de evitar os 'descaminhos' da busca pela resposta certa. Frequentemente, os alunos - e mesmo qualquer interlocutor - fazem isso; isso é ainda mais presente no contexto do EJA onde os sentimentos de atraso e de exclusão acompanham cada um dos alunos. Professor e alunos devem aos poucos tentar mapear como cada aluno ouve a música em questão, como eles se inserem no grupo de consumidores daquela música e quais são as práticas estabelecidas coletivamente que eles compartilham com seus pares.

O professor pode confrontar coletivo vs. individual, na tentativa de encontrar as formas e caminhos escolhidos individualmente. A produção - podemos chamar dessa forma - dos consumidores se dá nas suas escolhas, no seu jeito único e ao mesmo tempo universal de ouvir música. Daí segue, se for do interesse dos alunos, a discussão a respeito de quais os níveis que separam e determinam essa produção individual da produção coletiva, e poderemos chegar ao ponto de perceber que o coletivo se estabelece no individual e que o individual constrói o coletivo, não como simples tautologia, mas como uma relação de interdependência onde todo o comportamento é construído socialmente.

Use os exemplos abaixo como ilustração e exemplificação da discussão. Além disso, toda referência ao vestuário, ao comportamento, à linguagem e aos padrões de conduta cabem como bons exemplos dessa aula. Os exemplos abaixo estão disponíveis no endereço eletrônico:

http://blogs.myspace.com/index.cfm?fuseaction=blog.view&friendId=349285712&blogId=513731318

Exemplo 1

Nesse exemplo podemos perceber a participação ativa da plateia de forma que os níveis de produção e recepção se confundem. Interessante observar que no momento em que Bobby McFerrin propõe a ideia, o público reage com estranheza e demora a aceitar a inversão com naturalidade. Muitos da plateia não abrem mão do seu lugar de ouvinte, permanecendo calados.

http://www.youtube.com/watch?v=RHcEFk1i3b4

Exemplo 2

O ambiente da música popular urbana, a rua, a mesa de bar, o público à vontade, em pé, no meio da rua. Esse vídeo permite observar quais os comportamentos típicos dos ouvintes, e como eles se posicionam em relação à música. Com participação ativa, de forma ruidosa e descompromissada, a informalidade se estabelece como elemento fundamental desse tipo de atividade.

http://www.youtube. com/watch?v=XNvzUdU4XAY

Exemplo 3

Nesse exemplo observamos o que se chama ' Roda de Pogo', uma dança ritualizada típica de shows de rock e punk onde as pessoas se batem umas nas outras, em frente ao palco, de forma a retroalimentar a ebulição da performance.

http://www.youtube.com/watch?v=9vbY3rPb9Wg

Nessa aula seria muito interessante o uso de vídeos que exemplifiquem práticas musicais contextualizadas onde se perceba nitidamente os diversos fazeres que compõem o entorno dos processos de produção e recepção: a roda de samba, de jongo ou de capoeira, os bailes funk, as festas populares, as procissões, as missas, os desfiles de carnaval, etc.

Peça aos alunos que façam uma descrição de alguma prática musical, observando comportamentos padrões, maneiras de se vestir e de falar, e tudo que seja possível verificar na construção do processo de identificação coletiva de diversos sujeitos fliliados a esta ou àquela prática musical. Os alunos devem mapear os exemplos e trazer para a continuação na próxima aula.