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JORNAL
Edição 93 - Dança na Escola
17/10/2013
 
ou

Lisete Arnizaut Machado de Vargas (UFRGS): "Dança traz benefícios a todos que a praticam"

A dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes

A dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes

Autor:Arquivo pessoal


Professora no curso de licenciatura em dança da Escola de Educação Física (Esef) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Lisete Arnizaut Machado de Vargas atua nas áreas de graduação, pós-graduação e extensão. Graduada em educação física, tem doutorado em filosofia e ciências da educação pela Universitat de Barcelona, com tese defendida Dança, Educação e Sociedade no Rio Grande do Sul.

Pesquisadora em dança, líder do grupo de pesquisa Arte, Corpo e Educação (Grace), é autora de vários artigos, livros e trabalhos nas áreas de dança — dança-educação, dança-terapia e figurinos de dança. Atuou como bailarina do Ballet Phoenix, de Porto Alegre, e dirige o Balé da UFRGS.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Lisete diz que a dança traz benefícios a todos os que a praticam, como auxílio ao desenvolvimento das funções mentais, do senso estético, da expressão artística e no aprimoramento das funções motoras, como equilíbrio e flexibilidade. Para ela, a prática da dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes. "O objetivo da dança na escola engloba a sensibilização e a conscientização dos estudantes, tanto para a postura, atitudes, gestos e ações cotidianas quanto para a necessidade de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interatuar na sociedade em que vivemos", avalia. "Ao praticar diferentes formas de dança, os alunos não só reproduzem expressões, mas encontram nelas todo o elemento social que os converte em seres totais."

Jornal do Professor — Quais os benefícios da dança a seus praticantes?

Lisete Vargas — A prática da dança auxilia o desenvolvimento das funções mentais, como atenção, memória, raciocínio, curiosidade, observação, criatividade, exploração, entendimento qualitativo de situações e poder de crítica. Ela aprimora as funções motoras — coordenação, equilíbrio, flexibilidade, resistência, agilidade e elasticidade. Através da educação do movimento, a dança desenvolve o domínio da orientação espacial, o domínio do sentido muscular para a resolução de problemas físicos com economia de esforços e permite a obtenção de melhores resultados. Promove ainda a melhora das funções respiratória e circulatória e a boa formação corporal e da postura. Por seu caráter artístico, desenvolve o senso estético, a expressão cênica, a educação do sentido rítmico e musical, a sensibilidade e a expressão artística.

Quais os benefícios da dança, na escola, para os estudantes?

— Além dos benefícios gerais a todos praticantes, a dança na escola pode contribuir para a educação de crianças e adolescentes de diversas formas. O relacionamento social é favorecido pela prática da dança, por estabelecer laços de solidariedade e companheirismo e desenvolver a democracia, o respeito e a união entre o grupo. As relações também se estreitam, pelo fato de se encontrar os colegas em aula, olhar os outros enquanto dançam, ouvir música, conversar sobre o conteúdo aprendido, sobre as atividades escolares e demais interesses. Uma coreografia em conjunto pode oferecer aos praticantes a experiência de sentir como as pessoas podem se adaptar e se auxiliar mutuamente. O trabalho coletivo permite vivências de organização, comunicação, partilha e cooperação que contribuem para a construção do ser humano e sua inserção na comunidade. Pode também apresentar uma série de riscos, incertezas, desafios e diferenças, que contribuem fortemente com a formação do caráter dos participantes.

A prática da dança desenvolve o senso de responsabilidade, que se traduz no desejo de executar da melhor forma possível os movimentos e coreografias, nos quais o auxílio mútuo se faz indispensável para o êxito do trabalho do grupo. O movimento e a aceitação do próprio corpo estimula a sensualidade, traz novas vivências e novas sensações que regulam as tensões e enriquecem as próprias experiências. Além disso, brincar, tocar, dar as mãos, pegar pelos ombros, dançar ao mesmo ritmo com um companheiro ou com uma companheira pode contribuir também de maneira saudável para a educação sexual. Ao praticar diferentes formas de dança, os estudantes não só reproduzem expressões, mas encontram nelas todo o elemento social que os converte em seres totais.

A dança pode representar ainda um fator de comunhão e preservação cultural quando transmite ideias e costumes de uma geração a outra, sobretudo em sua forma folclórica, baseada em tradições, lendas, cerimônias religiosas e fatos, prolongando no tempo o espírito de uma comunidade. A aproximação das gerações se faz muitas vezes por meio das linguagens corporais e da dança tradicional quando, em algumas ocasiões, os meios verbais já não são suficientes. Fomentar a dança na escola não significa buscar a perfeição ou a execução de danças espetaculares e brilhantismos isolados, levando em conta somente a estética, a beleza plástica e a descoberta de talentos, mas permitir que o efeito benéfico da dança ajude no desenvolvimento dos estudantes pela recreação e pela criação. O objetivo da dança na escola engloba a sensibilização e a conscientização dos alunos, tanto para a postura, atitudes, gestos e ações cotidianas quanto para as necessidades de expressar, comunicar, criar, compartilhar e interatuar na sociedade em que vivemos.

A partir de que idade os estudantes podem participar de aulas de dança?

— Em nosso curso de licenciatura em dança, na UFRGS, nossos alunos realizam práticas docentes na educação infantil desde o berçário. Claro que com atividades adequadas a essa faixa etária. Trabalhamos em todas as fases do desenvolvimento humano. Sempre há uma metodologia e uma proposta de aula que atenda qualquer idade.

Há danças mais indicadas do que outras para serem oferecidas nas escolas?

É necessário que as primeiras experiências em dança vivenciadas pelas crianças sejam suficientemente neutras no aspecto estilístico e estético, até que essas crianças tomem consciência de seu corpo e de suas possibilidades. Não é conveniente a prática de danças muito estilizadas ou codificadas, que ofereçam precisamente um modelo a ser seguido, resultando em uma aprendizagem pacífica frente a imposições e prescrições pré-estabelecidas. Os movimentos de uma aula de dança na escola devem ser trabalhados e moldados de acordo com as experiências vividas, com as referências que as crianças trazem, acrescentadas pelo que o professor propõe e com a fruição estética proporcionada, de forma a permitir técnicas particulares, que recriam passos, gestos, gostos e movimentos e propiciam uma maneira particular de dançar.

Como os professores podem incluir, nas aulas de danças, pessoas com diferentes deficiências? Existem metodologias apropriadas para isso?

— Nas experiências com a dança praticada pelos alunos com algum tipo de deficiência, vimos que quase não há uma maneira específica de trabalhar. As metodologias mudam muito de acordo com a deficiência, e esta direciona e adequa o trabalho. O grupo é muito importante, pois as relações estabelecidas podem gerar afetos que desenvolvem ambas as partes. Vimos escolas onde alunos com e sem deficiência vivem uma relação de compreensão e auxílio que traz o crescimento de todos. Cada caso é particular, e o professor é preparado nas licenciaturas para tratar dessas questões. Uma experiência negativa, um trabalho corporal inadequado ou uma exposição não desejada frente ao grupo pode acarretar um trauma para qualquer aluno, deficiente ou não, e consequentemente uma negação a novos encontros com a dança. O professor deve, com toda a sensibilidade, buscar resolver tais situações, respeitadas as individualidades e os limites de cada aluno, para transformar essas vivências em experiências positivas frente a novas circunstâncias que possam se apresentar.

Os estudantes devem participar de eventos de dança na própria escola e em outras ou em teatros? Por quê?

— Certamente, ver e ser visto é parte integrante do processo artístico. Estabelece relações entre os estudantes, suas famílias e a comunidade em geral. Estimula a participação e a colaboração, principalmente nas apresentações em que, muitas vezes, deles depende a confecção de figurinos, cenários e saídas. Participar de atividades de dança em outras escolas é ainda mais rico, pois a troca de experiências e a observação do trabalho dos colegas agrega repertório. O teatro, a assistência a espetáculos de dança, viver o palco com os elementos que enriquecem uma apresentação também contribuem com o entendimento da dança como expressão cênica.

O interesse e a procura dos estudantes pelo curso de licenciatura em dança tem aumentado?

— A partir da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 [Lei de Diretrizes e Bases da Educação], que considera a arte obrigatória na educação básica, a procura foi significativa. Atualmente, o crescimento do número de cursos de licenciatura em dança tem possibilitado a formação, até agora restrita a poucas faculdades. Ainda temos um número pequeno de licenciados para a demanda que vem se estabelecendo, mas é cada vez maior o número de alunos que buscam a formação. (Fátima Schenini)

Confira a página da licenciatura em dança da Escola de Educação Física da UFRGS

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