Para o coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), Claudio Landim, essa competição tem sido, desde sua criação, uma fonte de oportunidades para jovens brasileiros talentosos, um eficiente instrumento de estímulo ao estudo, de recompensa ao mérito e de mobilidade social.
Doutor em matemática pela Université Paris Diderot - Paris 7, com pós-doutorado pela Courant Institute New York University, ele tem mestrado em estatística e probabilidade pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e graduação em matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Diretor adjunto do Impa, Claudio Landim, também é presidente da Sociedad Latino Americana de Probabilidad y Estadística Matemática (Slapem) e integrante do corpo editorial da Academia Brasileira de Ciências e do Latin American Journal of Probability and Mathematical Statistics (Alea).
Jornal do Professor – Qual a principal contribuição trazida pela realização das Olimpíadas de Matemática, tanto a das escolas particulares (OBM) quando a das escolas públicas (OBMEP)? A realização desses eventos fez com a matemática deixasse de ser uma disciplina temida pelos estudantes?
Claudio Landim – A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas tem diversas finalidades. Em primeiro lugar, detectar jovens alunos talentosos através de uma prova destinada a cerca de 20 milhões de estudantes do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio das escolas públicas. Os problemas da prova, elaborados por um comitê de professores com experiência em olimpíadas, são concebidos para poderem ser resolvidos por alunos sem muitos conhecimentos formais em matemática. Eles exigem apenas capacidade de abstração e de raciocínio.
A Obmep distribui anualmente 3.200 medalhas aos melhores colocados nas olimpíadas. Este número vai crescer ao longo dos anos, atingindo a marca de 10.000 medalhistas em 2015. A Obmep oferece no ano subsequente ao da olimpíada, uma Iniciação Científica a todos os medalhistas. O programa consiste em dez aulas presenciais, a razão de uma por mês, e de 15 encontros virtuais através do fórum da Obmep.
Este programa de Iniciação Científica, implantado em quase 200 polos disseminados pelo país, permite que os alunos premiados tenham aulas com professores universitários. Essas aulas com bons professores, com professores motivados, a possibilidade de interagir nas aulas presenciais ou de forma virtual no fórum da Obmep com outros alunos também interessados por matemática, vai mudar o destino de muitos destes alunos.
O primeiro contato com a universidade seja através do professor, seja pela ida mensal à universidade, uma vez que as aulas na maioria dos polos ocorrem em câmpus universitários, torna o ingresso em uma instituição do ensino superior uma meta natural a todos os premiados.
Por outro lado, as aulas, muito mais voltadas para o ensino da lógica e do raciocínio, da compreensão do enunciado de um problema, da análise das etapas de resolução, tem tido um impacto no desempenho escolar dos alunos. O método transmitido na Iniciação Científica da Obmep fornece ao aluno um instrumento que o ajudará em todas as outras disciplinas do conhecimento. Por exemplo, em redação, onde uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos na elaboração de um texto argumentativo reside na organização de suas ideias. De modo que a Obmep tem sido, desde sua criação, uma fonte de oportunidades para jovens brasileiros talentosos, um eficiente instrumento de estímulo ao estudo, de recompensa ao mérito, enfim, de mobilidade social.
JP – Quais as características necessárias a um bom professor de matemática?
CL – Motivação em seu trabalho, vontade de ensinar, desejo de transmitir aos seus alunos os conhecimentos que ele mesmo adquiriu pelas mãos de um professor. Desejo de se atualizar, de superar as dificuldades materiais encontradas no ensino público do país, criatividade na superação dos obstáculos. Capacidade de percepção das dificuldades individuais de seus alunos, atenção aos alunos, capacidade de motivar seus alunos. Compreensão da importância do seu papel na formação dos indivíduos. Quem não lembra de seus professores primários?
JP – O que é mais importante no ensino de matemática (bons professores, material didático etc)?
CL – Antes de mais nada, professores motivados, como descritos na resposta à pergunta anterior. Professores bem formados, professores estimulados pela direção da escola e reconhecidos pelo conjunto da sociedade. Bons livros de matemática. Aliás, a Obmep envia todo ano a todas as escolas que participam da olimpíada alguns exemplares do Banco de Questões, uma apostila contendo problemas de matemática que podem ser utilizados em sala de aulas com alunos de todos os segmentos. Neste ano, em um projeto piloto em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a Obmep está oferecendo em cinco polos uma formação para professores de escolas públicas com o propósito de estimular a utilização dos bancos de questões em sala de aula, mostrando a relação entre os problemas das provas da Obmep e do Banco de Questões e os conteúdos do currículo oficial do ensino fundamental e médio. Este projeto piloto deverá ser estendido ao restante do país, em 2013. Finalmente, boas condições materiais, salas de aulas confortáveis, silenciosas, arejadas.
JP – É verdade que alguns alunos têm mais facilidade para o aprendizado de ciências exatas?
CL – Assim como há crianças com maior aptidão para correr, para dançar ou para cantar, há crianças com maior facilidade para matemática. No entanto, não adianta ter apenas um dom para matemática. Sem esforço ou sem dedicação não se chega muito longe. Um aluno com menos aptidão para matemática que se dedique um pouco terá melhores resultados na escola, na prova da Obmep ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do que um aluno mais talentoso que não estude.
Nós temos na Obmep inúmeros exemplos para sustentar essa tese. Em vários municípios recônditos do país, em várias escolas municipais, professores oferecem fora do horário escolar uma preparação às provas da Obmep com resultados extremamente positivos. Pequenos municípios como Quixaba em Pernambuco, Coité do Noia em Alagoas, o já famoso caso do município de Cocal do Alves no Piauí, a escola Francis Hime no Rio de Janeiro, têm tido de forma consistente vários alunos premiados. Isso só se explica pelo empenho de professores muitas vezes apoiados pelas secretarias municipais de educação.
Nos próximos meses, para estimular iniciativas similares, a Obmep estará lançando os Clubes de Matemática. Grupos de três ou mais alunos poderão criar um Clube de Matemática, reconhecido e apoiado pela Obmep. Estes clubes receberão livros de matemática com problemas desafiadores, terão acesso a um fórum concebido especialmente para os clubes onde serão postados problemas e soluções, e onde serão organizados competições entre clubes.
JP – Qual a colaboração que as instituições de ensino e de pesquisa podem dar para a disseminação do conhecimento matemático?
CL – As instituições de ensino e de pesquisa tem dado um enorme impulso à disseminação do conhecimento matemático no país através da Obmep que tem atingido anualmente 20 milhões de alunos, e do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat) que tem procurado melhorar a formação dos professores de matemática do ensino público.
JP – O Impa promove um curso de aperfeiçoamento para professores de matemática do ensino médio em instituições superiores de ensino. Que avaliação o senhor faz dessa iniciativa, desde que foi criada até agora? O Impa tem algum acompanhamento dos resultados obtidos nas escolas, após a participação dos professores nesses cursos?
CL – O programa, coordenada pelo professor Elon Lages Lima, do Impa, visa oferecer treinamento gratuito para professores de matemática do ensino médio de todo o Estado do Rio de Janeiro. Realizado, sob diversas formas, desde 1990, ele aborda assuntos relativos às três séries do ensino médio. Deste programa resultou uma série de livros especialmente voltados para o professor de ensino médio, publicados na Coleção do Professor de Matemática da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A coleção representa a melhor referência disponível no Brasil para formação de professores de ensino médio de matemática. O programa, realizado duas vezes por ano durante as férias escolares, ocorre simultaneamente no Impa e em mais de 40 instituições parceiras. As aulas expositivas são transmitidas ao vivo, via internet, do Impa para as instituições participantes em outros estados, utilizando a infraestrutura da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), atingindo mais de três mil professores em todo o país.
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