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JORNAL
Edição 24 - Software Livre na Educação
10/08/2009
 
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Frederico Guimarães: computação e educação sempre estiveram ligados

Frederico Guimarães, coordenador do projeto Software Livre Educacional.

Frederico Guimarães, coordenador do projeto Software Livre Educacional.

Autor: Arquivo pessoal


Coordenador do projeto Software Livre Educacional, que reúne profissionais da tecnologia e da educação para desenvolver e difundir ferramentas livres para a área, Frederico Guimarães é um defensor fervoroso pela liberdade no uso de softwares para a educação. Formado em biologia, ele está envolvido com o tema software livre há dez anos.

Atuou no projeto de formação de professores em tecnologia da informação, na rede municipal de educação de Belo Horizonte (MG) e hoje trabalha na manutenção da distribuição Libertas GNU/Linux, utilizada nessa mesma rede, em todas as escolas. Além disso, dedica-se à tradução de programas livres voltados para a educação e espera que essas tecnologias possam chegar o quanto antes em todas as escolas brasileiras.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Guimarães avalia que o software livre seja uma ferramenta perfeita para ambientes educacionais. Além disso, destaca que a computação e educação sempre estiveram ligadas.

Jornal do Professor - Como o senhor se interessou pelo software livre na educação?

Frederico Guimarães - Eu uso computadores há muito tempo, desde meados da década de 80. Com o tempo, meu envolvimento com os computadores foi aumentando. Eu enxergava essa tecnologia como uma boa ferramenta educacional. Ao longo da minha história, computação e educação sempre tiveram uma associação muito forte. Quando conheci o software livre, em 1998, percebi que aquela era a tecnologia perfeita para ambientes educacionais, devido à sua flexibilidade e possibilidade de interferência no produto. Desde então, tenho me dedicado a entender cada vez mais como melhorar essa relação.

JP - Como essa tecnologia pode auxiliar professores na sala de aula?

FG - De várias formas. Você pode ser simplesmente um usuário do software livre e se beneficiar de sua estabilidade, segurança contra vírus e suporte distribuído por toda a rede. Se você quer se envolver um pouco mais, pode fazer alterações no software para que ele atenda a necessidades específicas ou traduzi-lo para seu idioma. Ou então pode usar o modelo em si como ferramenta educacional, trabalhando com os alunos alterações no código (para ensinar programação, por exemplo) ou a sua tradução (em um curso de idiomas, por exemplo). Também pode se beneficiar dos inúmeros programas livres desenvolvidos no ensino. Existem hoje programas para ensinar matemática, línguas, astronomia, língua portuguesa, entre outros.

JP - Há uma variedade de programas hoje para trabalhar com todas as disciplinas ou ainda é difícil encontrá-los?

FG - Existem softwares disponíveis para várias disciplinas. E eu não saberia citar todos os existentes, até mesmo pela própria natureza dinâmica do software livre. Mas determinadas áreas do conhecimento possuem uma variedade maior de aplicações. Por exemplo, encontram-se muito mais softwares para matemática do que para geografia. Mas nada impede que o uso do software seja extrapolado para outras áreas não previstas em seu foco original. Por exemplo: existe um jogo livre chamado FreeCiv que pode muito bem ser utilizado para trabalhar questões de história, mesmo não sendo ele, à princípio, criado para ser um "software educativo".

JP - Quais a dificuldades para se trabalhar com software livre na educação brasileira?

FG - Mais do que o software livre existe uma dificuldade em se trabalhar tecnologia, de uma forma geral, na nossa educação. Seja pela falta de recursos disponíveis ou pela falta de formação dos professores. Quando se insere o software livre no contexto, em particular o GNU/Linux, acrescenta-se uma nova variável que é um sistema operacional diferente do que as pessoas normalmente usam em casa. Não acredito que aprender a usar o GNU/Linux seja mais complicado do que aprender a usar qualquer outro sistema operacional. A dificuldade encontra-se em mudar a lógica de se trabalhar determinadas ferramentas.

JP - Como inserir essa tecnologia na vida dos professores e dos alunos?

FG – Através de várias iniciativas. A primeira delas é fazer todo um trabalho com os profissionais que lidarão com o software livre antes da sua implementação. Afinal, toda mudança é complicada, mas uma mudança na qual as pessoas envolvidas não têm clareza dos objetivos é ainda mais complicada. Esse trabalho de sensibilização pode ser feito através de reuniões ou de palestras. Outra iniciativa que pode ter um impacto positivo é disponibilizar alguma distribuição GNU/Linux que funcione diretamente em CDs ou DVDs. Isso ajuda as pessoas a se familiarizarem com o sistema sem a necessidade de o instalarem em suas máquinas. Também é importante um suporte de apoio aos usuários nas primeiras semanas de migração, para que eles não se sintam desamparados. É muito promissor, por exemplo, oferecer formações periódicas sobre o novo ambiente, que podem ocorrer tanto presencialmente quanto à distância, bem como disponibilizar um fórum permanente de discussões online. Por fim, é interessante apoiar encontros periódicos entre os usuários, tanto para discutir problemas quanto para apresentar o que eles têm realizado em seu trabalho cotidiano. Estimular a participação desses usuários em encontros de software livre também é muito bom.

JP - Qual a diferença do aprendizado de um aluno que faz uso dessas tecnologias para um que não faz?

FG - Essa é uma pergunta que daria um bom projeto de pesquisa. O que eu posso afirmar é que usando tecnologias livres o aluno pode "experimentar" mais o software e adequá-lo ao seu uso. Isso, por si, já é um aprendizado e tanto.

JP - Qual o futuro do uso do software livre na educação?

FG - Eu defendo que é única saída ética para o uso de computadores em escola. Isso porque o software proprietário lhe aprisiona a determinado produto que não pode ser manipulado, aperfeiçoado ou mesmo estudado internamente. É uma atitude absolutamente oposta ao que eu acredito que deva ocorrer em um ambiente educacional. Esse tipo de ambiente é o local da experimentação, da descoberta, da manipulação, da discussão. Isso não é possível com o software proprietário, uma vez que o único tipo de interação que ele permite é o seu uso. Uma educação que restrinja seus atores é uma educação pela metade. Tenho esperança em um futuro onde o software livre será padrão em ambientes educacionais. E seus usuários terão um grau de interação de modo que as escolas serão as grandes colaboradoras na criação e manutenção desses softwares.

JP - Como surgiu a comunidade Software Livre Educacional?

FG - A ideia de montar um grupo para discutir o uso educacional dos softwares livres surgiu em 2007, no Fórum Internacional do Software Livre (FISL). Chegamos a montar um grupo naquele ano, mas ele não foi para a frente. Novamente em 2008 lancei a ideia de montarmos um grupo, para os presentes na palestra que apresentei sobre softwares livres educacionais. Dessa vez a ideia vingou e avançamos um pouco mais nas discussões. Participamos com um estande no Latinoware em 2008 e no FISL em 2009. O Software Livre Educacional possui dois objetivos básicos: traduzir e documentar softwares livres utilizados na área educacional. Com isso, pretendemos fazer uma "ponte" entre o pessoal técnico e o pedagógico. Inclusive, a maioria dos participantes do projeto tem formação pedagógica ou de licenciatura.

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