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Leveza e brevidade: montando uma antologia de Crônicas

 

14/12/2009

Autor e Coautor(es)
ANA GRAZIELA CABRAL
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

Edna Maria Santana Magalhães

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Língua Portuguesa Leitura e escrita de texto
Ensino Médio Língua Portuguesa Gêneros discursivos e textuais: narrativo, argumentativo, descritivo, injuntivo, dialogal
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: processos de interlocução
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O aluno poderá aprender a:


- Reconhecer o gênero textual Crônica;


- Lembrar conceitos como narração em 1ª e 3ª pessoa;


- Adequar a linguagem da narrativa à situação explorada;


- Conhecer o significado do termo antologia.

Duração das atividades
5 aulas de 50 minutos cada (250 minutos)
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

É importante que os alunos saibam de antemão reconhecer a diferente que existe entre as forma de narração, especificamente as em 1ª e 3ª pessoa. Para isso, fica como sugestão o site http://www.algosobre.com.br/redacao/narracao.html - [acesso em 10/12/09].

Eles devem saber também o significado do termo Antologia. Maiores informações podem ser encontradas no site http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/antologia.htm - [acesso em 10/12/09].

Estratégias e recursos da aula

1ª AULA – 2 aulas de 50 minutos cada


Professor, esta sequência de aulas tem por objetivo levar o aluno a compreender o que é o gênero textual Crônica.

http://www.germinaliteratura.com.br/imagens/cronica_tit.jpg - [acesso em 10/12/09].

Para isso, comece apresentando aos alunos a crônica de Luís Fernando Veríssimo “O Nariz”.

Para que a leitura seja mais dinâmica, você pode escolher alguns alunos para que leiam o texto de acordo com cada personagem: o narrador, a filha, a mulher, o cliente, a secretária, o psicólogo. Esse formato de leitura ajudará a evidenciar a presença narração em 3ª pessoa, entrecortada pelo discurso direto.


O Nariz – Luís Fernando Veríssimo

Era um dentista, respeitadíssimo. Com seus quarenta e poucos anos, uma filha quase na faculdade. Um homem sério, sóbrio, sem opiniões surpreendentes mas uma sólida reputação como profissional e cidadão. Um dia, apareceu em casa com um nariz postiço. Passado o susto, a mulher e a filha sorriram com fingida tolerância. Era um daqueles narizes de borracha com óculos de aros pretos, sombrancelhas e bigodes que fazem a pessoa ficar parecida com o Groucho Marx. Mas o nosso dentista não estava imitando o Groucho Marx. Sentou-se à mesa do almoço – sempre almoçava em casa – com a retidão costumeira, quieto e algo distraído. Mas com um nariz postiço.
- O que é isso? – perguntou a mulher depois da salada, sorrindo menos.
- Isso o quê?
- Esse nariz.
- Ah. Vi numa vitrina, entrei e comprei.
- Logo você, papai…
Depois do almoço, ele foi recostar-se no sofá da sala, como fazia todos os dias. A mulher impacientou-se.
- Tire esse negócio.
- Por quê?
- Brincadeira tem hora.
- Mas isto não é brincadeira.
Sesteou com o nariz de borracha para o alto. Depois de meia hora, levantou-se e dirigiu-se para a porta. A mulher o interpelou.
- Aonde é que você vai?
- Como, aonde é que eu vou? Vou voltar para o consultório.
- Mas com esse nariz?
- Eu não compreendo você – disse ele, olhando-a com censura através dos aros sem lentes. – Se fosse uma gravata nova você não diria nada. Só porque é um nariz…
- Pense nos vizinhos. Pense nos cliente.
Os clientes, realmente, não compreenderam o nariz de borracha. Deram risadas (“Logo o senhor, doutor…”) fizeram perguntas, mas terminaram a consulta intrigados e saíram do consultório com dúvidas.
- Ele enlouqueceu?
- Não sei – respondia a recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos. – Nunca vi ele assim. Naquela noite ele tomou seu chuveiro, como fazia sempre antes de dormir. Depois vestiu o pijama e o nariz postiço e foi se deitar.
- Você vai usar esse nariz na cama? – perguntou a mulher.
- Vou. Aliás, não vou mais tirar esse nariz.
- Mas, por quê?
- Por quê não?
Dormiu logo. A mulher passou metade da noite olhando para o nariz de borracha. De madrugada começou a chorar baixinho. Ele enlouquecera. Era isto. Tudo estava acabado. Uma carreira brilhante, uma reputação, um nome, uma família perfeita, tudo trocado por um nariz postiço.

- Papai…
- Sim, minha filha.
- Podemos conversar?
- Claro que podemos.
- É sobre esse nariz…
- O meu nariz outra vez? Mas vocês só pensam nisso?
- Papai, como é que nós não vamos pensar? De uma hora para outra um homem como você resolve andar de nariz postiço e não quer que ninguém note?
- O nariz é meu e vou continuar a usar.
- Mas, por que, papai? Você não se dá conta de que se transformou no palhaço do prédio? Eu não posso mais encarar os vizinhos, de vergonha. A mamãe não tem mais vida social.- Não tem porque não quer…
- Como é que ela vai sair na rua com um homem de nariz postiço?
- Mas não sou “um homem”. Sou eu. O marido dela. O seu pai. Continuo o mesmo homem. Um nariz de borracha não faz nenhuma diferença.
- Se não faz nenhuma diferença, então por que usar?
- Se não faz diferença, porque não usar?
- Mas, mas…
- Minha filha…
- Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!

A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra.
- Você vai concordar – disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele – que seu comportamento é um pouco estranho…
- Estranho é o comportamento dos outros! – disse ele. – Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento de meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar, Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como era antes.
- Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
- É… – disse o psiquiatra. – Talvez você tenha razão…
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.

Link: http://artes.wordpress.com/2007/10/04/o-nariz-luis-fernando-verissimo/ - [acesso em 10/12/09].

Agora, após fazer a leitura, discuta com os alunos alguns aspectos do texto: a linguagem empregada é formal ou informal? Peça para que falem quais são os personagens e de suas características; questione sobre o fato que causa o conflito do texto. Instique-os a tentar dividir a história em partes, isso será importante para ajudá-los a entender como se organiza esse gênero textual. Anote as respostas no quadro para retomar as contribuições deles quando você for falar sobre esse tema abaixo.

Aproveite a pergunta do próprio autor e peça para que os alunos respondam no caderno: o personagem que usa o nariz de plástico tem razão em continuar a usá-lo mesmo causando a aversão de seus amigos, familiares e pacientes? Diga aos alunos que eles deverão usar bons argumentos para criar sua resposta.

Assim que os alunos terminarem de responder a essa pergunta, faça um debate em que cada um tenha o direito de expor sua resposta. É importante que eles entendam que por trás do texto curto e da história aparentemente simples, há uma reflexão crítica do autor em relação ao comportamento humano.


Após analisar o conteúdo do texto, é hora de explicar a eles um pouco sobre a estrutura da crônica. Diga que essa é uma narrativa que tem por característica ser curta e leve. Não tem muitos personagens e, em geral, é uma história que foi retirada de uma notícia de jornal ou revista. Isso faz com que ela possa ser caracterizada como um texto jornalístico, sendo também um texto literário. Caracteriza-se por ter um tempo e um espaço limitado, no caso da crônica acima, apenas o tempo entre a esquisitice do homem de usar o nariz de borracha e a sua ida ao psicólogo. É o espaço é basicamente o ambiente familiar e o consultório do psicólogo.


A crônica pode ser escrita tanto em 1ª como em 3ª pessoa. No caso do texto de Veríssimo, está em 3ª pessoa.
Voltando ao conteúdo, é típico o uso de registros de fatos do dia-a-dia, encontrados em jornais ou revistas, a que é acrescentado um tom de humor, ironia, lirismo, tudo com a intenção, por parte do cronista, de despertar uma reflexão crítica do leitor diante dos fatos cotidianos da vida ou produzir uma diversão.


Então, uma crônica pode ter várias faces, mas nunca perde de vista suas características fundamentais: um flagrante da vida real, modificado lite rariamente e podendo também ser imaginário.


Professor, dê essas orientações aos seus alunos sempre fazendo conexão com a crônica que vocês já leram. Estimule-os a encontrar informações por eles mesmos. Indicamos também o site abaixo, que traz mais informações sobre crônicas e citações do nome de grandes cronistas. Estimule os alunos a lerem mais, torne-os curiosos. Eis o link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%B3nica – [acesso em 10/12/09].

3ª AULA – 2 aulas de 50 minutos cada


Agora que os alunos já conheceram a estrutura da crônica, eles produzirão uma. Para estimulá-los a fazer um bom trabalho, explique a eles que eles farão um texto que fará parte de uma antologia de crônicas. Então, é importante explicar que antologia é uma seleção de textos feita segundo um determinado critério, nesse caso estabelecido pelo professor. Você encontrará mais informações sobre antologia no site: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/antologia.htm - [acesso em 10/12/09].

Produção da Crônica

Professor, leve para a sala revistas e jornais em que os alunos escolherão o tema de sua crônica. Deixe-os escolher a vontade, desde que seja um fato mais recente.


• Os assuntos podem ser variados:
- um atentando em Israel;
- uma criança que procura o filho desaparecido;
- um artista que se casa;
- um mico que invade o quintal de uma família para roubar frutas;
- a assalto a um banco etc.

• Lembre a eles que poderão desenvolver o texto na linha crítica, humorística, reflexiva ou crítica e que podem misturar esses formatos para causar um novo efeito. Se for preciso, explique em que cada uma dessas escolhas pode significar em termos da construçãos (efeitos) de sentidos e de habilidades de leitura exigidas do leitor desse texto.


• Eles deverão escolher se o texto será em 1ª ou 3ª pessoa.


• Peça que construam, de preferência, uma crônica narrativa, que escolham os personagens e suas ações, usando discurso direto, como na crônica modelo, ou indireto. Se for preciso, elabore orientações e exercícios sobre as formas de registro de vozes no texto (discurso direto, indireto e indireto livre), mas nunca se esqueça de mostrar exemplos práticos desses usos e registros. É impotante mostrar como se dá a correlação entre os tempos verbais a serem usados e as implicações disso para a modalização do discurso.


• Eles devem criar um texto envolvente, chamativo, cuja conclusão cause surpresa no leitor. 


• Agora é preciso pensar na linguagem: é mais adequado, para atingir o efeito esperado, usar linguagem informal ou formal? É positivo usar, no decorrer do texto, frases em português coloquial? Isso causará algum efeito positivo. Eles não podem esquecer de levar em conta quem os lerá: a família, os colegas, a comunidade escolar...


Apenas após considerar todos esses pontos, os alunos devem começar a produzir. É interessante que eles escrevam o texto em sala de aula, contando com absoluto silêncio. Lembre-se, professor, de que as condições de produção de textos influenciará na qualidade dos textos e nas suas decisões sobre o que avaliará nos trabalhos finais. Seria aconselhável deixar espaço entre esta aula e a próxima para que os alunos possam trabalhar várias versões do seu texto, discutir com os colegas e com você. O processo de escrita deve ser longo o sufciente para que os alunos tenham segurança sobre os resultados.


5ª AULA


Agora é o momento da primeira leitura dos textos. Em círculo, a classe apresentará aos colegas a sua produção. Ouça o texto de cada um, professor, e dê sugestões para que seja alcançado um efeito satisfatório. Observe o conteúdo, a linguagem, a elaboração dos personagens e a criação de uma expectativa no texto que cative o leitor. Após ouvir a leitura, faça também uma correção a nível gramatical do texto e dê mais um tempo para que os alunos o reescrevam. O texto deverá ser reescrito quantas vezes for necessário para que possa compor a antologia de Crônicas.


Para não desvalorizar o trabalho de nenhum aluno, sugere-se que todos os trabalhos sejam colocados na antologia. Caso algum trabalho tenha ficado muito fora do esperado, é sinal de que o aluno precisa de uma intervenção mais direta. Dê a ele atenção especial, até que consiga formular um trabalho satisfatório.


Ficam duas opções para a criação da antologia: ela pode ser impressa, com o objetivo de circular na comunidade escolar e na casa dos familiares dos pequenos escritores, como pode, também, ser divulgada em meio virtual, através de um blog. O passo-a-passo para o desenvolvimento do blog pode ser encontrado numa aula do Portal do Professor, a partir do seg uinte link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9804 – [acesso em 10/11/09].

Recursos Complementares

http://www.algosobre.com.br/redacao/narracao.html - Tipos de narrativa. [acesso em 10/12/09].

Link: http://artes.wordpress.com/2007/10/04/o-nariz-luis-fernando-verissimo/ - Crônica “O nariz”, de Luís Fernando Veríssimo. [acesso em 10/12/09].


http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%B3nica – O que é Crônica. [acesso em 10/12/09].

http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/A/antologia.htm - O que é Antologia. [acesso em 10/12/09].


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9804 – Aula do portal do Professor: LITEROBLOG: a criação de um blog literário em sala de aula. [acesso em 10/12/09].

Avaliação

Professor, esta proposta permite que o aluno seja avaliado quanto à capacidade de produção escrita, a criatividade e os recursos empregados na construção da crônica. Observe se a escolha da linguagem e do título foram pertinente, se optou por um bom tema, se soube criar um efeito envolvente e que chame a atenção dos leitores.

Em termos atitudinais, avalie o interesse do aluno ao criar o seu texto. Note se ele demonstrou entusiasmo pela execução da proposta.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 1 classificações

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Opiniões

  • Celso, Escola Municipal !João Ribeiro Rosa" , Minas Gerais - disse:
    celsodrigues@hotmail.com

    22/07/2011

    Cinco estrelas

    Sua aula é muito interessante, bem harmoniosa e bastante interativa. Vou aproveitar aproveitar um pouco de sua gentileza e copiar sua aula para realizá-la também com meus alunos. Muito obrigado!!!


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