Por Alexandre Vicente
Meus primeiros passos como exibido profissional foi fazendo teatro infantil amador. Contava uns 12 anos e interpretava uma espécie de mago malvado ou duende, não sei bem. Pelo meu peso e altura devia ser um duende mesmo. Ainda aos sete era tão magrinho, mas tão magrinho que minha mãe tinha medo que o vento me carregasse. Era comum a formação de redemoinhos em nossa região e temendo que o pé de vento repentino roubasse a cria, acudia às minhas irmãs para que fossem me buscar na rua. “Deniiiise, Delciiii….corre e pega o Alexandre!!!”. Para meu embaraço, sua preocupação era muito sincera.
Revelado o meu porte, volto a contar a história do teatro. O projeto começou com uma professora de inglês quando eu cursava a antiga quinta série do primeiro grau, hoje, ensino fundamental.A escolha do elenco foi muito difícil e acirrada. Quem quisesse participar… participava. Fui escolhido para interpretar o pequeno vilão. Não fiquei muito feliz mas… como posso dizer… “aquele papel foi um presente prá mim”.
Eu decorei as falas e minha tia Francisca preparou minha roupinha de seda verde. Era uma bermuda bufante, um colete com paetês e uma touca estilo Noel. O ideal era que eu usasse uma sapatilha, mas não fosse por minha tia, o figurino já não teria sido o luxo que foi. Como um bom artista, improvisei o calçado. Peguei meu velho Kichute (essa não é para os mais jovens) e adaptei um acabamento no bico feito em cartolina à moda Alladin.
Ensaios após as aulas e nos fins de semana na casa da professora Aleluia, idealizadora do projeto. O lanche era sempre bom. Éramos todos da mesma classe e o garoto mais bonitinho (segundo as meninas) e inteligente (segundo minhas notas) ficou com o papel de príncipe, ao lado daquela que era minha princesa (não só na peça, mas também em meu coração infantil). Suas roupas foram bem trabalhadas em azul e detalhes em dourado que pareciam reluzir ao lado de meu velho tênis preto. Sua irmã também interpretava algum personagem e estava igualmente bem vestida. Todos com o figurino muito bonito.
Eles iam para as apresentações de carro, enquanto eu e o amigo Valdemar íamos de ônibus ou a pé. Ainda outro dia encontrei-o em um Subway e ele não lembrou de mim por nada. Diz minha filha que ele deveria ser meu amigo imaginário. Talvez. Afinal, eu era um Duende!
Tudo em volta me mostrou que eu não tinha bala para ser o príncipe. Nem corpo, nem notas, nem roupas e muito menos um carro. Acho que foi a primeira vez que entendi o que era diferença de classes. Tudo bem… sem dramas… não sofri bullying. Era só la vie se mostrando irremediavelmente. Ele era o príncipe, ela a princesa e eu o vilão que terminava humilhado, puxado por uma das orelhas e levando um baita sermão.
Deste eu não lembro muito, pois o danado do príncipe fazia questão de ser bem realista ao punir o duende. Por outro lado, não tive como esquecer a outra lição. Vejo-a todos os dias desfilando por nossa cidade.
Nossa turnê passou por várias escolas e fomos aplaudidos de pé, apesar do amadorismo. Dessa época, nem uma foto. Só a lição, mesmo.
Disponível em: http://curtacronicas.com/2014/04/14/os-duendes-tambem-amam/ Acesso em: 17 maio 2014.
CRÔNICA 3
Regue, não negue
Postado no 10/04/2014 por curtacronicas
Por Aryane Silva
Amasse todos os jornais e faça espadas com eles para brincar no quintal. Troque os noticiários noturnos sobre os países em guerra por um filme de comédia. Guarde os boletos atrasados na gaveta e pegue um livro de poesia para ler. Delete aquela planilha e escreva uma carta. Ignore as fofocas no telefone e ponha Caetano para tocar pela casa.
Só por hoje.
Dê bom dia ao chefe com um sorriso sincero. Chame aquele amigo para almoçar depois de anos sem vê-lo e, se ele roubou sua namorada na época da faculdade, esqueça. Ajude a senhorinha a carregar sacolas de mercado até à portaria do prédio. Pague um lanche para alguém que esteja faminto, mesmo que isso acabe com todos os trocados da sua carteira.
Só por hoje.
Doe uns minutinhos do seu dia para escutar e compreender, mesmo que aquela sua vizinha reclame do governador pela décima vez na semana e não tenha outro assunto. Dê um “chega pra lá” no seu mau humor matinal e cumprimente o seu Manoel da padaria com um sorriso e se mesmo assim for difícil, se esforce. Nada de esmolas, ofereça afeto.
Só por hoje.
Perdoe aquele cunhado folgado que bebe nos natais e deixa a verdade sair pelos poros, presenteie a esposa/namorada/noiva/ficante/paquera com o chocolate preferido, mesmo que não seja doze de junho, não deixe no esquecimento o beijo de boa noite do filho e brinde suas conquistas, peça colo de vó e doe seus ouvidos para que ela conte as histórias de mil novecentos e antigamente, com direito a bolo de fubá e café quentinho.
Só por hoje.
Veja o mar. Enterre os pés na areia. Entre em comunhão com a natureza. Agradeça as maravilhas que o Criador colocou à sua disposição. Pare por um minuto e deixe que seus olhos repousem na vida e seja grato pelos seus tropeços e acertos, pelos pais que teve (mesmo que eles não tenham sido os melhores), pelo amor do Alto que te acorda todos os dias e te dá a oportunidade de caminhar, sentir, cheirar, tocar, pensar e querer. Viver.
Só por hoje.
E por todos os outros dias.
Seja bom.
Seja melhor.
Seja do bem, para o bem.
Semeie, cuide e colha.
Regue, não negue.
Disponível em: http://curtacronicas.com/2014/04/10/regue-nao-negue/ Acesso em: 17 maio 2014.
CRÔNICA 4
Presente do tempo
Postado no 20/03/2014 por curta cronicas
Por Carol Szabadkai
Pensando em como eu era antes e como eu sou depois de você, entendi os tempos do viver.
Eu era passado, vivia de uma saudade de coisas que se foram.Sem caminho certo, sem a sua mão para me guiar, era sempre mais seguro – e mais bonito – olhar para trás. Vivi de lembranças e de um pensamento inútil, feito de “Como seria se…”.
Mas isso porque eu não tinha você! Meu presente era insosso, meu futuro era incerto e no passado eu era imagens…
O passado é sempre mais interessante para aqueles que não veem planos fixos de futuro. O que passou é editado. Tão bem editado, que mesmo as dores parecem menores do que realmente foram, as alegrias parecem ainda mais intensas e você pode mudar pequenos fatos e frases, sem nem mesmo perceber, afim de se convencer da sua perfeição.
As dores do presente sempre doem mais, a alegria nem sempre é tão plena e aí se encontra a armadilha.
As pessoas tem a tendência de visitar o passado. Fotos, vídeos, tudo marcado na internet – tudo que é bom, na maioria das vezes – como um livro aberto, refletindo a vida que se teve… Hoje em dia é tão fácil viajar no tempo! Difícil é resistir à tentação de passear pela própria vida, reconstruindo momentos, cultivando esse jardim com as flores já abertas, tão mais fáceis de se lidar.
Faze-lo, vez ou outra é muito bom, até mesmo necessário, só não se pode viver lá, no jardim do esquecimento, e abandonar o que se passa hoje.Se assim for, do que viveremos amanhã? Que flores haveremos plantado? Ficaremos cada vez mais atrás no tempo, mais longe de nós mesmos, sempre no mesmo pedaço de jardim.
Eu passeava entre minhas flores, tentando inutilmente arruma-las – aquelas flores imutáveis – e aí veio você, colorindo meu futuro de promessas e objetivos, mostrando-me borboletas no presente, dando-me motivos para desejar seguir em frente e correr sem olhar para os lados, muito menos para trás. Não temos tempo para voltar! A vida tornou-se tão desesperadamente intensa no atual, traçando planos, desejos, sonhos… E como eu queria, como eu quero, esse futuro com você!
Na certeza de que estou no caminho certo, sigo apenas andando para frente, sem querer voltar e nem pensar num passado diferente. Um mínimo detalhe modificado, já estragaria a perfeição do meu hoje.
Hoje em dia, meu jardim florido é só para dar uma olhadinha junto com você, com as crianças.Vertudo o que conseguimos e logo voltar para os sonhos de hoje em dia. Viver lá, nem pensar… Tentar mudar algo, muito menos!
Segure minha mão, vamos continuar correndo para o futuro, seguindo as borboletas. Que cada minuto passado a frente, representam mais vitórias, mais amor.
E agora entendo o nome do hoje:presente.
O presente da vida, só faz sentido para quem não vive de passado, para quem mira no futuro, aproveitando cada minuto, sabendo que tudo está acontecendo exatamente da maneira que tem que ser. O grande presente é fazer cada dia com perfeição, cultivar seu jardim no hoje, para que seja mais florido a cada breve olhar no que se foi.
Pra que viver de passado? A vida é PRESENTE.
Disponível em: http://curtacronicas.com/2014/03/20/presente-do-tempo/ Acesso em: 17 maio 2014.
- Professor, o objetivo é que os estudantes leiam os textospor prazer. Não dê atividades para eles resolverem sobre as crônicas. Conversem com eles sobre os temas, o vocabulário e até sobre as ilustrações.
MÓDULO 2
ATIVIDADE 1 - 6 DICAS PARA ESCREVER UMA CRÔNICA
- Professor, reproduza cópias das 6 dicas para os estudantes. Ler e conversar com eles a respeito das dicas.
6 Dicas para Escrever uma Crônica
1. A Escolha do Fato
Já que estamos trabalhando com a crônica, escolher um fato cotidiano e, de preferência, atual, é de extrema importância. Esse fato pode ser escolhido em jornais, situações que você mesmo tenha vivido ou presenciado, aliás, pode até ter acontecido com você.
O importante aqui, além de ser um fato cotidiano, é ter uma opinião formada sobre aquilo que aconteceu, pois, assim, você poderá partir para qualquer uma das classificações fornecidas.
2. Personagens?
Por se tratar de um fato cotidiano, a crônica não exige a presença de personagens, exatamente por levar ao leitor um ponto de vista do autor, a crônica, muitas vezes, perde essa concepção de pessoa, tempo e espaço, sendo possível a sua leitura muito depois do fato ter acontecido.
Assim, ao escolher a crônica como um meio para expressão sua opinião, busque fugir de personagens, foque nos acontecimentos e generalize as atitudes, caso seja esse o teu objetivo.
3. Evite Fantasiar
A crônica não é um conto. Portanto, nada de imaginar histórias que fogem ao fato escolhido. Mantenha os pés no chão. Fantasiar é permitido, desde que você mantenha o fato em destaque, utilizando a sua experiência para criar essa fantasia. Mas lembre-se: o fato é o centro do texto, não a fantasia.
4. Sua opinião é importante
Na classificação fornecida por Mariana Cabral, vê-se que a crônica é focada na experiência e na posição crítica do autor. Ou seja, é utilizar o fato para expressar sua opinião sobre o assunto. Porém, evite fatos muito polêmicos, pois, ao invés de criar uma crônica, você poderá criar uma crítica e gerar mais discussão do que reflexão.
5. Tamanho da Crônica
Esse é um grande problema. Por utilizar um fato cotidiano, a crônica tende a ser mais rápida e curta, pois acaba utilizando os conhecimentos do leitor para completar o texto. Assim, não exagerem nas descrições, argumentações e floreados. Seja direto, principalmente nos dias de hoje, onde textos muito longos tendem a não atrair muitos leitores. No entanto, tudo dependerá do seu público alvo.
Portanto, saiba para quem você está escrevendo e mantenha sempre a ideia de revisar o texto e retirar passagens que não agreguem qualidade ao texto.
6. Terminei, e agora?
Agora que você já escolheu o fato, deu a sua opinião e manteve a crônica num tamanho razoável, chegou a hora mais importante: Ler, reler e ler de novo.
Muitas vezes, ao escrevermos um texto, achamos que ele é uma obra de arte e queremos, o mais rápido possível, passá-lo para os outros. Porém, no calor do momento, podemos deixar alguma frase solta, erros de português e ideias desnecessárias. Logo, aqui que entrará a revisão do texto, uma das partes mais importantes.
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Jovens, façam as revisões necessárias, pois, por mais que você seja um excelente escritor, você ainda pertence à raça humana e, como todos nós sabemos, errar faz parte. Assim, revise e lembre-se de que você pode sair perdendo sem essa última e preciosa dica.
Disponível em: http://www.folhetimonline.com.br/2012/06/25/dicas-6-dicas-para-escrever-uma-cronica/ Acesso em: 17 maio 2014.
ATIVIDADE 3 - PRODUZINDO UMA CRÔNICA
Professor, peça a seus alunos para produzirem uma crônica. Mas antes faça uma pequena motivação.
Você pode dizer:
Caro aluno, ao ler crônicas, você conhece a visão de mundo daquela pessoa que escreveu o texto. Tão interessante quanto isso é você mesmo tentar encontrar a sua forma de ver e questionar o mundo ao seu redor. Como?
Escrevendo sua própria crônica. Além de observar mais atentamente as pessoas e situações que fazem parte do seu cotidiano, você estará exercitando sua redação ao tentar construir textos claros e, ao mesmo tempo, criativos.
Professor, reproduza cópias das etapas abaixo e entregue aos estudantes:
As etapas abaixo podem servir como um guia, caso você esteja começando a se aventurar pelo mundo da crônica. Com o tempo, você desenvolverá seu próprio processo criativo e o texto surgirá de forma natural, sem que seja necessário seguir etapas definidas.
Etapas para escrever sua crônica:
1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. (O professor deverá levar para a sala revistas e jornais)
Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica. (O professor deverá deixar os alunos livres na escola para andarem e observaremo que está acontecendo)
É importante que o tema escolhido desperte o interesse do aluno, cause nele alguma sensação interessante:
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entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.
2. Caro aluno, agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular algumas opiniões sobre esse fato. Faça uma lista com essas ideias, antes de começar a crônica propriamente dita.
Frases como as que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista:
"Quando penso nesse fato, a primeira ideia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
Caro aluno, como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica: uma visão pessoal de um evento.
3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora de escrever sua crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao longo do texto.
Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso que faz de um escritor um bom cronista.
Sugestão adaptada de http://tvcultura.cmais.com.br/aloescola/literatura/cronicas/facasuacronica.htm Acesso em: 17 maio 2014.
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- O professor deverá recolher o texto de todos os alunos e lê-los. Devolver na próxima aula com um feedback.
Postado no 14/04/2014 por curtacronicas
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