20/12/2010
Aléxia Pádua Franco
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Cultura e diversidade cultural |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Cidadania e participação |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | História | Relações de poder e conflitos sociais |
Ensino Fundamental Final | História | Cidadania e cultura no mundo contemporâneo |
Ensino Fundamental Inicial | História | Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos |
O desenvolvimento desta aula ocorrerá de forma mais dinâmica e aprofundada se os alunos conhecerem o que são fontes históricas e a sua importância para o trabalho do historiador.
ATIVIDADE 1: Analisando a relação entre as diferentes posições sociais dos sujeitos e suas diferentes memórias sobre um mesmo acontecimento
Apresentar, para os alunos, em uma transparência, cartaz ou folha sulfite, a charge de Millôr Fernandes publicada no Caderno Mais, da Folha de São Paulo de 2000 e na Revista VEja, 21 de junho de 2006: http://veja.abril.com.br/210606/millor.html
Discutir com os alunos como a charge representa o problema da verdade histórica, baseando-se nas seguintes questões:
- Existe uma representação única e absoluta de um fato histórico? Por quê?
- Como o grupo social a que pertence o sujeito da história interfere na representação que ele faz de um momento histórico?
ATIVIDADE 2: Desafio historiográfico
Após discutir, através da atividade 1, de uma forma mais geral, a questão de como existem várias representações, memórias sobre um mesmo fato, conforme a posição social de quem vivenciou o acontecimento, o professor pode apresentar para os alunos duas fontes históricas sobre a questão indígena, confrontá-las, entender as razões das diferenças entre elas e os cuidados que o historiador deve ter ao analisá-las.
Para isto, sugerimos a entrega do seguinte roteiro de atividades para os alunos:
DESAFIO HISTORIOGRÁFICO
Você já conhece como trabalha o historiador, não é mesmo? Ele procura as fontes, faz a leitura, interpretação e comparação delas e, a partir daí, escreve a história do assunto que está pesquisando.
O Desafio Historiográfico é um jogo cujas regras se baseiam neste trabalho do historiador.
Você vai encontrar duas fontes sobre o confronto entre os índios e os portugueses no processo de formação das cidades do Triângulo Mineiro. Leia-as com atenção para entender o que cada uma está dizendo, compare-as para encontrar o que elas falam de diferente ou semelhante sobre o assunto estudado e, finalmente, responda as questões propostas para conhecer mais sobre o tema que estudamos.
Para jogar o Desafio Historiográfico você pode convidar seus amigos, pais, avós, irmãos. Depois, entregue, para a professora, em uma folha separada, as respostas que vocês encontraram para as questões propostas. Estas respostas devem ser escritas POR VOCÊ, com suas próprias palavras.
As peças deste jogo DESAFIO são duas fontes publicadas, em 2009, no Jornal Correio de Uberlândia para discutir a questão indígena em nossa região:
A fonte 1 foi escrita pelo Sr. Antônio, jornalista, memorialista e escritor de crônicas sobre a memória de nossa cidade.
A fonte 2 foi escrita por Lídia, antropóloga do Museu do Índio da Universidade Federal de Uberlândia.
As regras do jogo envolvem o desenvolvimento das seguintes atividades:
Leia a FONTE 1 com bastante atenção;
Leia a FONTE 2 com bastante atenção, grifando as críticas que ela faz ao que foi escrito na fonte 1;
Grife, na fonte 1, do Sr. Antonio, as partes criticadas na fonte 2, por Lídia.
Responda as questões abaixo:
a) A fonte 1 chama os índios Kayapós de atrasados, indolentes e fala que eles transformaram a vida dos colonizadores em um inferno ao assaltar as suas caravanas e bandeiras. A fonte 2 concorda com esta visão da fonte 1? Explique sua resposta.
b) Você concorda com a visão da fonte 1 ou da fonte 2? Explique sua resposta.
c) Pelo que você percebeu ao ler duas fontes sobre um mesmo assunto com visões diferentes sobre ele, você acha que um historiador pode confiar em todas as fontes que encontra, sem compará-las, confrontá-las com outras? Explique a sua resposta.
FONTE 01
Crônica da Cidade por Antônio Pereira - jornalista e escritor.
Jornal Correio de Uberlândia - 13-09-2009
A CONDIÇÃO DO INDÍGENA
Os caiapós, bugres atrasados, porém gentis, receberam bem os primeiros paulistas que passaram por suas terras no Triângulo. Até os ajudaram, mas os bandeirantes estavam mesmo era a fim de arrastar os coitados para o cativeiro. Aí, a coisa ficou feia. Os caiapós reagiram e se tornaram um inferno para as caravanas que se aventuravam a furar a região em busca das riquezas goianas. (...) O tempo passou, a estrada sossegou, acabaram-se os assaltos dos caiapós às bandeiras. (...) Primeiro (os bandeirantes) tomaram posse das terras abandonadas porque o indígena é meio indolente mesmo e ganhar chão para trabalhar nele é um absurdo pra quem tem esse mundão véio aberto sem porteira cheio de caças, peixes, raízes e frutos gratuitos e sem precisão de trabalhar para fruição. Então, alguns, abandonaram tudo e voltaram para o mato. (...) Os chegantes e os que já estavam aqui de olho nas boas terras juntaram-se mais as “otoridades” da época e puseram a indiaiada pra correr. O governo da província sabia e aprovava. Índio que saia por bem retornava sossegado com a família para o interior das selvas. O que encrencava era passado a ferro, quente ou frio.
FONTE 02
Ponto de Vista por Lídia Maria Meirelles - Coordenadora do Museu do Índio da UFU
Jornal Correio de Uberlândia - 19-09-2009
A CONDIÇÃO DO INDÍGENA
Não poderia me furtar sobre as observações feitas pelo cronista Antônio Pereira em sua coluna no domingo 13 de setembro. Respeito e considero muito o seu trabalho como memorialista que é. No entanto, considero ofensivo e racista o modo como retrata as populações indígenas em sua crônica. Como estas populações estão distantes de nós, tornam-se presa fácil destas manifestações.
Começaria pela denominação Kayapó, forma correta de escrita por convenção da ABA (Associação Brasileira de Antropologia) de 1955 e, sem plural, pois trataria de hibridismo.(...) Eles não eram indolentes nem atrasados. Sr. Antônio, viver num ambiente hostil requer muito esforço, já que os instrumentos de trabalho não são adquiridos, têm que ser confeccionados. Se quiserem comer e se defender, terão que produzir as armas. Se quiserem proteção contra as intempéries, terão que criar instrumentos que possibilitem o corte de fibras, madeira e outros para proceder à construção da casa. Aliás, as casas são tão perfeitas que, mesmo diante dos maiores temporais, não cai uma gota de água sequer. Entre os Tapirapé, em Mato Grosso, presenciei isso. Aliás, muito devemos a estas populações, que na sua “indolência” nos ensinaram a tomar banho todo dia; a dar nomes a todos os acidentes geográficos brasileiros; a ampliar a nossa gastronomia tornando-a uma das mais ricas do mundo, basta lembrar o milho, feijão, mandioca e guaraná, só para citar alguns poucos. Estas sociedades, com sua destreza e paciência, souberam apreciar o que a natureza lhes ensinou. São milhares de anos de observação e saber acumulados, de vivência e adaptação ao ecossistema tropical. Imaginemos a quantidade infindável de fitoterápicos experimentados por estas populações; de frutos comestíveis e tantos outros elementos associados ao conhecimento profundo sobre o ambiente. Estes povos souberam resistir bravamente à penetração das frentes de ocupação econômica. Nós é que transformamos suas vidas num inferno e não o contrário. Eles eram donos de toda esta terra e estavam aqui antes de chegarmos com nossa arrogância e intolerância. Não temos, portanto, o direito de chamá-los de atrasados. O que é atraso? E o que é avanço? O que é trabalho? Bater ponto? Assinar carteira? Será este o único modo de reconhecer a dignidade humana? Acaso, trabalhar para sobreviver, mantendo suas tradições, vivendo de forma adaptada ao meio sem destruí-lo, sem ganância, sem exploração dos seus próximos, sem mentiras, não serão projetos humanos válidos?
ATIVIDADE 3: Sintetizando os estudos sobre a relação entre as fontes históricas e a verdade histórica
Para sintetizar as análises realizadas nas atividades 1 e 2, em uma atividade multidisciplinar envolvendo História e Português, os aluno devem produzir um texto dissertativo, narrativo ou poético que aborde a questão de como o historiador precisa estar atento para analisar as fontes históricas, considerando que elas não são retratos fiéis do acontecimento, mas produções histórico e sociais.
Para saber mais sobre a linguagem da charge e como ela pode contribuir nas aulas de HIstória, o professor pode consultar a aula publicada neste portal pela Profa. Leide Divina Alvarenga Tutrini, intitulada "A charge na sala de aula: uma perspectiva para o ensino e a aprendizagem de História", http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=5406
Outros recursos que o professor pode utilizar para debater com os alunos a questão da verdade histórica nas fontes históricas podem ser encontrados na aula publicada neste portal pela Professora Leide Divina Alvarenga Turini: "Princesa Isabel e o 13 de maio: desconstruindo a interpretação oficial da abolição da escravidão", http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=5438
No decorrer da realização das atividades propostas em Estratégias e Recursos, o professor deve observar se o aluno consegue compreender que as fontes históricas são uma construção social datada historicamente, que elas trazem visões diferentes sobre um mesmo fato, as quais o historiador precisa confrontar e interpretar para escrever os textos históricos.
Cinco estrelas 1 classificações
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07/02/2015
Cinco estrelasVi as suas diferentes aulas sobre Fonte Histórica. Parabéns!