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Edição 109 - Prêmio Vivaleitura-7ª Edição
12/01/2015
 
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Magistério é vocação, diz professora paulista

Sandra Santos procura valorizar e resgatar a cultura brasileira

Sandra Santos procura valorizar e resgatar a cultura brasileira

Autor:Luciene Cecília Barbosa


Doutora em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), com graduação em jornalismo e em história, Sandra Santos está no magistério há 20 anos. Integrante de uma família de educadores, na qual mesmo quem não atua diretamente na sala de aula exerce atividades como gestor, palestrante ou formador, ela leciona história na Escola Estadual Visconde de Congonhas do Campo, na capital paulista, e participa de inúmeras outras atividades, mas faz questão de manter vínculo com a escola pública.

Em relato enviado ao Jornal do Professor, Sandra faz profissão de fé na escola pública:

“Eu acredito na escola pública. Acredito que o magistério é uma vocação. Senão, como dizem os colegas, já teria saído correndo... e nem olharia pra trás. Ao longo de 20 anos de carreira, já vi muitos fazerem isso. Não vou dizer que é fácil. Construí minha carreira lecionando (sou efetiva desde 1999) no magistério estadual. É precário, ainda falta muito para ser considerado ensino de ponta. Pode ser perigoso (já sofri ameaças físicas), pode ser insalubre (várias vezes, tive de interromper a aula porque o pintor ou o vidraceiro só podia trabalhar exatamente ‘naquele horário’). Muitas vezes, falta material (nem sempre os livros didáticos chegam na hora certa. Às vezes, não chegam mesmo).

Mas tem uma coisa que faz a gente acordar todos os dias, cedo, enfrentar trânsito para chegar correndo e ter ânimo de cantar, dançar, contar histórias e falar da história. E não é exatamente o salário, nem a boa educação exemplar da maioria, nem o apoio incondicional dos colegas e amigos — mesmo alguns da família já desistiram. Acredito que é uma vontade de construir algo para o futuro (não material), é a possibilidade de ver o futuro se construindo na minha frente, os jovens crescendo, descobrindo que podem mudar a realidade de suas vidas, do seu lugar, do país, através da educação, do aprendizado coerente e aplicável às suas vidas.

No cotidiano, ensino com a prática para a vida, não apenas para um mero conhecimento a ser despejado em provas, avaliações, vestibulares, concursos em geral. Conhecer a si mesmo, sua cultura, sua família e valorizar tudo isso, utilizando materiais simples e cotidianos. Não é necessária a tecnologia de ponta (mesmo porque ela não está disponível para todos), mas a simplicidade do cotidiano, observando a família: a avó costurando, a mãe trabalhando, o pai ou o tio trocando lâmpada, as diversões, os jeitos de falar e como tudo isso se insere num todo maior: a sociedade. Quais as origens do que se faz e se vive hoje. História, política, economia...

Então, tento pôr a ‘mão na massa’ (às vezes, literalmente...). Os carnavais, as festas populares, os temperos. Quem sabe fazer tricô e crochê? Você conhece a Cuca e o Saci? Qual o time de futebol de sua preferência? Quem é o ‘contador de histórias’ na sua família?

Porque todos foram formados da interação de várias culturas, formas de pensar, de atuar, de orar, de buscar a felicidade, tudo isso é história, é cultura, é passado, mas também é alicerce para o futuro.

Como tenho formação multidisciplinar, tento levar isso para a sala de aula. Utilizo textos de literatura, jornais e revistas, postagens na internet, filmes (documentários, animação, curtas e longas), e incentivo os estudantes a colocar a criatividade em ação. Procuro estabelecer um diálogo.

A primeira vocação de toda criança, quando vai à escola pela primeira vez, e gosta, é o magistério. Lembro de dizer sempre que queria ser professora. Brincava de ‘escolinha’ quando era criança. Depois, acabei esquecendo isso durante um tempo, mas confesso que voltei pela necessidade: escrever para jornais era esporádico e cada vez mais incerto. Então, fui dar aula e acabei gostando, ficando. Hoje, não me vejo não fazendo isso. Faço outras coisas, mas sempre mantenho o mínimo de vínculo com a escola pública. Atenção: escola pública.

Alguns dizem que os docentes do magistério público são malformados. Na realidade, acredito (e sou testemunha) que são, na realidade, malcompreendidos, malremunerados, mal-assessorados. Mas, na atual escola em que leciono, são vários os bem-graduados (em universidades públicas estaduais e federais), os bem-intencionados, os bem-matriculados em pós-graduações (mestrados doutorados) de instituições de ponta que todos os dias acordam para fazer o seu melhor, apesar de...”

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