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JORNAL
Edição 18 - Brinquedos Educativos
27/04/2009
 
ou

Neologismos e outras complicações da língua portuguesa

Autor:Arquivo pessoal


Licenciado em física e bacharel em engenharia civil, Antonio Luiz Canelhas Júnior é professor no Centro Integrado de Educação Pública Astrogildo Pereira (Ciep 258), em Saquarema (RJ) e em uma escola rural de Nova Friburgo (RJ).

Especialista em docência no ensino médio, ele também é músico formado na Escola de Música Vila Lobos: ritmista/percursionista e baterista.

Professor de música nos anos 80, só começou a trabalhar em escolas regulares a partir de 1996, atuando predominantemente no ensino médio, com a disciplina de física. Lecionou em diversas instituições, como o Colégio Cenecista de Saquarema e de Maricá, Escola Politécnica de Araruama, e nos Cieps 372 e 258, de Saquarema.

Natural de São Paulo (SP), vive em Saquarema desde 1993. Costuma publicar seus textos no site Recanto das Letras.

Publicamos, abaixo, um texto que o professor Canelhas enviou para o Jornal do Professor.

 

O que é dar uma “coisada na paradinha”?

A.Luiz Canelhas Jr.

Será que é coisa de velho? “Coisa” virou verbo mesmo? Uma paradinha seria um desfile em pequena escala? Só sei que fico esperando o desenrolar dos acontecimentos para poder entender o que vem a ser a tal “coisada na paradinha”. Quando um adolescente manda essa, é duro saber se está falando de sexo, limpeza de algum objeto, instalação de um programa no computador, fazer um cálculo, apontar o lápis...

Complicado mesmo é quando não entendemos o exposto! Viramos uns “caras” complicados, querendo que sejam usadas “aquelas” palavras. Que palavras seriam essas? Quando estamos falando de economia temos que usar o, tão falado, “economês”, política gera o “politiquês”... Os grandes doutores do “mundo acadêmico” geram toda sorte de palavras que o dicionário não reconhece. Quem será proprietário do direito de criar palavras ou reinventar o significado das que já existem?

No dia-a-dia vou tentando dar um jeito nessa confusão. Não sou jovem e também não fiz doutorado... Vivo apanhando dos dois lados! Quando dou de cara com determinados textos, construídos por grandes pensadores, contemporâneos, tenho que me virar sem usar o “desatualizado” dicionário. Na outra ponta estão as “paradinhas”, muitas e diversificadas, para trabalhar e decifrar. Logo eu, que sou das ditas ciências exatas, tenho que lidar com esses trecos todos, criações da esmerada imprecisão humana.

Sou péssimo em análise sintática! Até hoje acredito que um “objeto direto” seja um pedrada na testa, ou em qualquer outro local, como queira. O tal “agente da passiva” não é o sujeito gay que mora lá na esquina? Sempre acreditei que o “agente apassivador” fosse um cara degenerado que sai por aí fazendo a cabeça dos jovens na intenção de despertar seu lado inativo!

Realidade é que sem o “santo” editor de texto e o Aurélio eletrônico eu só teria minha imaginação e uma forte vontade de expressão. Será que despertar esta vontade nos jovens não seria uma boa coisa? Eles não gostam de ler, não sabem interpretar textos, apresentam sérias dificuldades no momento de manifestar suas opiniões. Podemos viver sem conhecer o que pensam aqueles que tomarão conta da nossa velhice?

Outro dia, um jovem, queria explicar uma questão a respeito dos fenômenos ligados à propagação da luz, a falta de vocabulário estava matando-o, quase que teve um ataque de nervos. Quando tentei ajudar ficou pior ainda... – “Quero dizer do meu jeito”! – Fiquei preocupado, naquele momento, em tentar verificar se ele conhecia os fenômenos. Apesar de estar criando novos termos, deixando de lado os que são amplamente utilizados pelos mestres, demonstrando entendimento, naquele instante, estaria satisfatório. Depois mostrei que durante sua vida acadêmica, seria impossível caminhar sem dominar o vocabulário específico de cada ciência.

Será que um trabalhador carregando sacos de cimento, com 50 kg de massa cada, em um pátio perfeitamente plano, irá aceitar que o trabalho realizado por ele é “zero”? Acho que quem disser isso, pro camarada, vai tomar uma “bifa na orêia”! Já é complicado explicar que a lâmpada interna, de um ônibus, pode não estar em movimento quando o danado está andando. Nem é bom falar que a casa dele está viajando ao redor da galáxia!

Cada um puxa a “brasa da sardinha” pro seu lado. Os grandes escritores querem a linguagem rebuscada. Os das ciências biológicas usam termos que somente com treinamento são pronunciáveis. Até na lanchonete existe confusão, são egg-x-saladas, hot-dogs, milk-shakes... Quero saber quem vai dar uma força nessa confusão?

Fico triste em saber que, dentro das universidades, os próprios acadêmicos dizem: ― “Os doutores só servem para formar outros doutores”. Para termos acesso aos bons canais de televisão, aqueles que educam, temos que pagar. É bom ver que algumas tentativas são feitas, mas ainda é muito pouco. Como despertar, realmente, o interesse pelo conhecimento humano assistindo novelas? Acredito que somente os fofoqueiros fiquem plenamente satisfeitos com essa falta do que falar.

Em fim... Vou dar uma coisada, aqui nas paradinhas do computador, tentando deixar este texto “legível”, nada tão lindo quanto um “homem de fardão” poderia fazer, pois sou apenas um mortal, um cara como outro qualquer, “caminhando para a morte pensando em vencer na vida”. É assim mesmo, né?

Todo ano, como este que estamos vivenciando, as “almas do outro mundo” vêm com esta historinha: “Importante é educação e saúde. Sem um trabalho sério e investimentos nada será construído nessa nação”.

E como dão espaço pra eles na mídia!

Cadê o trabalho? Cadê? Será que fazendo uma pesquisa na “Net” eu acho? Somente com uma “máquina de busca”... Não é assim? Como então?

Rapaz eu queria ver esses camaradas vivendo com o que eu ganho. Com dinheiro no bolso é mole, quero ver fazer isso duro!?!?

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