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JORNAL
Edição 20 - Educação Integral
27/05/2009
 
ou

Ana Cavaliere: conceito de educação integral é um conceito em construção

Autor:Arquivo pessoal


Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação da mesma instituição, Ana Maria Villela Cavaliere participa do Grupo de Estudos e Pesquisas dos Sistemas Educacionais (Gesed/UFRJ). Também faz parte do Núcleo de Estudos Tempos, Espaços e Educação Integral (Neephi - UniRio/Ufrj/Uerj).

Doutora em educação, trabalha com o tema da ampliação da jornada escolar desde os anos 1990, discutindo as experiências brasileiras do passado e do presente. Em entrevista ao Jornal do Professor, Ana Maria Cavaliere diz que uma concepção democrática de educação integral deve caminhar na direção de uma prática educativa rica e multidimensional, capaz de incorporar diferenças e relativizar padrões.

A educadora, que já atuou na educação básica como professora em escolas de tempo integral da rede municipal do Rio de Janeiro, acredita que a estabilidade da estrutura administrativa e o apoio aos profissionais da educação são pontos imprescindíveis para a ampliação das funções dos sistemas educacionais.

Jornal do Professor - Em que consiste a educação integral? É só passar mais tempo na escola?

Ana Maria Cavaliere – O conceito de educação integral, quando referido à escola contemporânea, é um conceito em construção. Resulta da reavaliação do papel da instituição escolar, ou seja, relaciona-se à busca dos limites e possibilidades de atuação dessa instituição social.

JP - Quais são as principais vantagens da adoção desse modelo de educação? Quais os benefícios que ela traz?

AMC – Não creio que possamos considerar educação integral como “modelo”. Vários modelos de escola, com objetivos até mesmo antagônicos já se autodenominaram como de educação integral, no Brasil e no mundo.Uma concepção democrática de educação integral caminharia na direção de uma prática educativa rica e multidimensional, capaz de incorporar diferenças e relativizar padrões.

JP – Quais os principais modelos ou tipos de educação integral que existem?

AMC – Eu identificaria, grosso modo, dois formatos: um mais centrado na instituição escolar propriamente dita, com investimentos no interior das unidades escolares, em seus espaços e em seus profissionais. Outro que se lança para fora da escola, buscando apoio e parcerias com agentes externos a ela.

JP – A educação integral é adotada em outros países? Quais os principais?

AMC – Apesar do conceito não ser normalmente utilizado, a idéia que ele traz, de uma educação com responsabilidades ampliadas, em geral com forte atuação nas áreas da cultura, dos esportes, das artes, ultrapassando a atuação restrita à típica instrução escolar, está presente em programas educacionais de diversos países. A França é um deles, com o programa nacional “Éducation prioritaire”.

Em geral, políticas públicas que tentam dar conta do fracasso escolar, dos problemas de integração social e escolar de determinados grupos sociais, investem mais fortemente numa concepção ampliada de educação escolar, se aproximando daquilo que seria uma proposta de educação integral.

JP – Como implementar a educação integral nas escolas?

AMC – Não existe uma fórmula para isso. As propostas de implementação dependerão sempre das realidades específicas onde se situam. Sempre implicarão em mudança na cultura escolar, na cultura institucional. Ressalto que a estabilidade da estrutura administrativa e o apoio aos profissionais da educação são pontos sem os quais não se pode pensar na ampliação das funções dos sistemas educacionais. Especialmente quando se busca a ampliação da atuação da escola através de parcerias externas a ela, a estabilidade do quadro administrativo e a valorização dos profissionais são a garantia da preservação dos genuínos interesses educacionais coletivos.

JP – A comunidade deve ter alguma participação na educação integral?

AMC – Não é possível um projeto de educação, que se pretenda mais ambicioso do ponto de vista de seus objetivos, alcançando esferas mais amplas da vida dos alunos, que não envolva os pais e o entorno da escola. Necessariamente será um projeto coletivamente assumido, trazendo também as contradições e problemas dessa coletividade.

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