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O uso da metáfora para marcar uma posição socioideológica

 

24/05/2013

Autor e Coautor(es)
WALLESKA BERNARDINO SILVA
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias e Lazuíta Goretti de Oliveira

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Recursos linguísticos em uso: fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais
Ensino Médio Língua Portuguesa Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: léxico e redes semânticas
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

 

  • Conceituar metáfora.
  • Identificar usos metafóricos.
  • Reconhecer a metáfora enquanto um recurso argumentativo.
  • Compreender e explicar a orientação argumentativa  ou posição socioideológica dos usos metafóricos.
Duração das atividades
1 aula de 100 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Argumentação.
  • Sentidos denotativo e conotativo - figuras de linguagem.
  • Paráfrase.
Estratégias e recursos da aula

Estratégias e recursos:

  • data-show;
  • material impresso;
  • trabalho coletivo;
  • leitura coletiva oral e orientada;
  • produção de texto.

 

Módulo 1

Atividade 1

Essa atividade tem por objetivo levar os alunos à compreensão do que seja metáfora.

 

Para iniciar a aula, o professor exibirá aos alunos o vídeo de Gilberto Gil, cantando a música "Metáfora".  http://www.youtube.com/watch?v=HOpmOmh1l6A

 

Antes de exibir o vídeo, o professor entregará cópia da letra da canção.

Metáfora

Gilberto Gil

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

 

Depois de apreciar a interpretação de Gilberto Gil, o professor incitará a turma, por meio de questionamentos orais, a participar da discussão proposta a partir da música acima sobre o conceito de metáfora.

1. Na primeira e segunda estrofes, por que há mudança de sentido das palavras "lata" e "meta", quando são ditas pelo poeta?

2. Uma lata é um recipiente para se guardar coisas. "Na lata do poeta tudo nada cabe". Qual os sentidos possíveis para esse verso?

3. O que seria o "incabível" que cabe na lata do poeta? 

4. Por que a última palavra do poema é "metáfora"?

Professor, a ideia é permitir que os alunos reflitam sobre a especificidade do poeta no que diz respeito ao uso da língua. Por trabalhar com lirismo, ao poeta é dada licença para que sentidos inesperados sejam alcançados por meio da palavra que não, necessariamente, segue a norma padrão, tampouco, os sentidos denotativos. Assim, no caso desse poema, a metáfora é escolhida enquanto recurso da língua que permite alusões comparativas, geralmente implícitas, a coisas, objetos, situações, sentimentos, momentos etc.

 

Atividade 2

Nessa atividade, o objetivo é que os alunos reconheçam que a metáfora pode marcar uma posição socioideológica, ou seja, ter direção argumentativa.

 

Primeiro, o professor lerá junto com os alunos, fazendo as intervenções cabíveis (especialmente em relação a alguns termos específicos da Linguística , como "traços semânticos", "intersecção sêmica"), o artigo de José Luiz Fiorin: "A força da metáfora", disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/63/artigo249011-1.asp

Professor, projete o texto de modo a facilitar a leitura orientada com os alunos.

A força da metáfora

Ao concentrar significados, figura de linguagem adquire um valor argumentativo intenso

José Luiz Fiorin

Tomemos um exemplo de uma metáfora banal. No cap. III de A Intrusa, de Júlia Lopes de Almeida, a personagem Argemiro faz o seguinte comentário sobre o sogro:

"- Não é homem que discuta fatos consumados. Depois, está velho e é amigo do repouso... Fez-se botânico, para entreter os ócios da chácara. Teve uma mocidade tempestuosa; a mulher não foi feliz; agora então, para compensá-la, dá-lhe toda a soberania e é um cordeiro. O bom velho fez esquecido o mau rapaz...".

Não pertinente 
O que nos interessa é a afirmação de que agora ele é um cordeiro. Trata-se, como se percebe, de uma predicação não pertinente. Afinal, um homem não é um cordeiro. Qual é o mecanismo para estabelecer a propriedade semântica dessa frase? O termo "cordeiro" possui, entre outros, os seguintes traços semânticos: mamífero, ovino, lanoso, macho, não adulto; a expressão "meu sogro" tem, entre outros, os traços semânticos: mamífero, humano, macho, adulto. Os dois termos apresentam uma intersecção sêmica, traços comuns a ambos: pacífico, cordato.

A metáfora é uma concentração semântica. No eixo da extensão, ela despreza uma série de traços e leva em conta apenas alguns traços comuns a dois significados que coexistem. Com isso, dá concretude a uma ideia abstrata (no caso, a de mansidão do sogro), aumentando a intensidade do sentido. Poder-se-ia dizer que o sentido torna-se mais tônico. Ao dar ao sentido tonicidade, a metáfora tem um valor argumentativo muito forte. O que estabelece uma compatibilidade entre os dois sentidos é uma similaridade, ou seja, a existência de traços comuns a ambos. A metáfora é, pois, o tropo em que se estabelece uma compatibilidade predicativa por similaridade, restringindo a extensão sêmica dos elementos coexistentes e aumentando sua tonicidade.

A metáfora não é um tropo apenas da linguagem verbal. Ela aparece em outras linguagens, como, por exemplo, a visual. No logotipo da Good Year, fábrica de pneus, aparece um pé dotado de asas para metaforizar a velocidade do produto fabricado. O  22º Anuário da Criaçãotraz uma publicidade da Parati GTI (1997, p. 115). O texto diz "Nova Parati GTI. Agora com motor de 16 válvulas". Mostra-se uma imagem de uma Parati num estacionamento, cercada por tartarugas "estacionadas" nas outras vagas. A similaridade que faz coexistirem os significados de tartarugas e outros carros, que não a nova Parati, é a lentidão. O artista de rua italiano Blu realizou em Berlim esta pintura. O bloco de gelo transformando-se em água na parte superior da ampulheta e uma cidade sendo submergida na parte inferior metaforizam a destruição da civilização, com o tempo, pelo aquecimento global, a destruição da cultura pela natureza. O derretimento da pedra de gelo na parte superior da ampulheta é idêntico à liquefação das geleiras; a submersão de uma cidade na parte inferior é análoga às inundações das cidades costeiras provocadas pelo aumento do nível dos oceanos. 

Desenho do italiano Blu em Berlim, Alemanha: metáfora do aquecimento
 
Alegoria 
As metáforas podem ter a dimensão de uma palavra, de uma frase ou de um texto. José Eduardo Agualusa, em seu livro  Barroco Tropical , tem uma frase que ele próprio analisa como metáfora: 

"Vi cair o belo palácio de Dona Ana Joaquina, a golpes de camartelo, para ser substituído por uma réplica em mau betão, e achei que era uma metáfora dos novos tempos o velho sistema colonial e escravista ser substituído por uma réplica ridícula em nefasto calão dos musseques" (São Paulo: Cia das Letras, 2009, p. 88-89).

Chamamos alegoria um texto que constitui em sua integralidade uma metáfora. São exemplos as fábulas, os apólogos, a parábolas, etc. Eis uma fábula de Esopo, "O asno e a carga de sal":

"Um asno carregado de sal atravessava um rio. Um passo em falso e ei-lo dentro da água. O sal então derreteu e o asno se levantou mais leve. Ficou todo feliz. Um pouco depois, estando carregado de esponja às margens do mesmo rio, pensou que se caísse de novo ficaria mais leve e caiu de propósito nas águas. O que aconteceu? As esponjas ficaram encharcadas e, impossibilitado de se erguer, o asno morreu afogado.

Algumas pessoas são vítimas de suas próprias artimanhas."

A moral da fábula é uma leitura da metáfora narrada pelo texto figurativo: o asno é o símile do homem vitimado por sua tentativa de ser esperto e levar vantagem em tudo.

A catacrese é uma metáfora lexicalizada. Ela já pertence ao léxico da língua e, então, no sentido próprio deixa de ser um tropo. No entanto, mesmo com essas metáforas cristalizadas, um poeta como José Paulo Paes constrói, no livro  É Isso Ali , um poema metaforizando as razões da língua ("Inutilidades"): 

Ninguém coça as costas da cadeira. 
Ninguém chupa a manga da camisa. 
O piano jamais abana a cauda. 
Tem asa, porém não voa, a xícara. 
De que serve o pé da mesa se não anda? 
E a boca da calça se não fala nunca? Nem sempre o botão está em sua casa. 
O dente de alho não morde coisa alguma. 
Ah! se trotassem os cavalos do motor... 
Ah! se fosse de circo o macaco do carro... 
Então a menina dos olhos comeria 
Até bolo esportivo e bala de revólver. 

José Luiz Fiorin    é professor do Departamento de Linguística da USP e autor de As astúcias da enunciação

 

Segundo, após leitura do texto, os alunos deverão parafraseá-lo. As paráfrases deverão ser lidas para a turma a fim de serem avaliadas por todos (professor e colegas), quanto ao conteúdo parafraseado. 

 

Atividade 3

Nessa atividade, os alunos deverão identificar metáforas e indicar orientação argumentativa ou posição socioideológica dos usos metafóricos.

 

Os alunos deverão ser divididos em grupos com até quatro componentes para realizarem a tarefa de identificação e explicação da orientação argumentativa das metáforas nos textos abaixo relacionados. Finalizada essa tarefa, o professor iniciará um momento de discussão coletiva oral para verificar se cada grupo identificou as mesmas ocorrências metafóricas e o que propuseram como explicação para o uso do recurso. É o momento de os alunos exercitarem o reconhecimento de metáforas e vislumbrarem sua direção argumentativa. Antes, porém, o professor mostrará um exemplo do que deve ser feito.

  • Sugestão de exemplo dado pelo professor:

Qual a relação entre a imagem e Camões, poeta português?

http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/19/artigo159523-1.asp

 

Para explicar, o professor utilizar-se-á do poema de Camões: "Amor é fogo que arde sem se ver", especificamente, desse verso, e basear-se-á na explicação abaixo.

 

Camões e a metáfora

Uma das metáforas mais conhecidas da literatura de língua portuguesa é o verso que inicia um soneto de Luís de Camões: "Amor é fogo que arde sem se ver". Na construção, o termo fogo mantém seu sentido próprio - desenvolvimento simultâneo de calor e luz, que é produto da combustão de matérias inflamáveis - e possui sentidos figurados, como fervor, paixão, excitação, sofrimento etc. A construção da metáfora para ilustrar a relação entre o sentimento do amor e o fogo por meio da imagem paradoxal é o que torna tão bela a poesia - e é em referência a esse verso a imagem que abre esta reportagem.

Texto retirado do sítio: http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/19/artigo159523-1.asp

 

Professor, a orientação argumentativa do verso de Camões é justamente potencializar os sentimentos de amor enquanto sentimentos que causam fervor, excitação.

 

  • Abaixo sugestões de textos com metáforas para serem entregues aos grupos e discutidos oralmente a posteriori.

1) 

http://soumaisenem.com.br/sites/default/files/homens.jpg

 

2)

"O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa, em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel e das coisas do Mundo, uma que vão, outras que vêm, outras que atravessam - e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um..."
(Pe. Antônio Vieira)

 

3) 

http://2.bp.blogspot.com/_kmTOV4Va-UI/TPwxq1DxAzI/AAAAAAAAADc/FeYN4Io2Vj8/s1600/metafora.jpg

 

4)

Mas não foi isso que aconteceu. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: [o pássaro] deixou de cantar. (...) Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus voos são flechas em todas as direções.


(Rubem Alves, Concerto para corpo e alma.)

http://www.blogdovestibular.com/2013/01/questao-do-dia-metafora-confira.html

 

5) 

http://1.bp.blogspot.com/-LAgnIKGZAkM/UIVFXlqfMwI/AAAAAAAAPqw/wtdTxzv7iYM/s1600/cachorro-n%25C3%25A3o.jpg

 

6)

"A Terra do 'Nunca fica pronto'. A saga da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, é um exemplo de como as obras públicas no Brasil são delirantes, demoradas e absurdamente caras."

(Revista Época, edição 781, 13 mai. 2013)

 

7)

Ideologia 
Cazuza 

Meu partido 
É um coração partido 
E as ilusões 
Estão todas perdidas 
Os meus sonhos 
Foram todos vendidos 
Tão barato 
Que eu nem acredito 
Ah! eu nem acredito? 

Que aquele garoto 
Que ia mudar o mundo 
Mudar o mundo 
Frequenta agora 
As festas do "Grand Monde"? 

Meus heróis 
Morreram de overdose 
Meus inimigos 
Estão no poder 
Ideologia! 
Eu quero uma prá viver 
Ideologia! 
Eu quero uma prá viver? 

O meu prazer 
Agora é risco de vida 
Meu sex and drugs 
Não tem nenhum rock 'n' roll 
Eu vou pagar 
A conta do analista 
Prá nunca mais 
Ter que saber 
Quem eu sou 
Ah! saber quem eu sou.. 

Pois aquele garoto 
Que ia mudar o mundo 
Mudar o mundo 
Agora assiste a tudo 
Em cima do muro 
Em cima do muro? 

http://letras.mus.br/cazuza/43860/

 

8)

"Boião de leite / que a noite leva / com mãos de treva, /pra não sei quem beber. / E que, embora levado / muito devagarinho, / vai derramando pingos brancos / pelo caminho."
(Cassiano Ricardo. Poesias completas. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1957 )

Recursos Complementares

Leituras para o professor:

"Importância da metáfora para a Filosofia da Linguagem e da Comunicação". Disponível em:  http://www.ifl.pt/private/admin/ficheiros/uploads/64690deab902b91cd225a7b8ce3cb1c2.pdf Acesso em: 19 maio 2013
"Falando por metáforas". Disponível em: http://www.golfinho.com.br/artigospnl/falando_por_metaforas.asp Acesso em: 19 maio 2013.
"Metáforas no aprendizado". Disponível em: http://www.golfinho.com.br/artigospnl/artigodomes200709.asp Acesso em: 19 maio 2013.
"Metáforas na literatura". Disponível em: http://www.radames.manosso.nom.br/retorica/metafora.htm Acesso em: 19 maio 2013.
"Metáfora no ensino de língua materna: em busca de um novo caminho". Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/37832 Acesso em: 19 maio 2013.
 
Aulas do Portal do Professor:
 
"A metáfora na propaganda". Disponível em:  http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=24622 Acesso em: 19 maio 2013.
"Linguagem figurada - metáfora". Disponível em:   http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8148 Acesso em: 19 maio 2013.
"Metáforas em linguagem não verbal". Disponível em:  http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=16274 Acesso em: 19 maio 2013.
Avaliação

Nessa proposta, o mais importante é o aluno associar, para cada uso metafórico, o seu potencial argumentativo. Assim, a última atividade será responsável, em grande medida, pela avaliação da proposta, uma vez que o aluno deverá ser capaz de explicar a posição socioideológica da metáfora nos textos.

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