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O uso do argumento de autoridade: até que ponto ele é útil?

 

19/08/2013

Autor e Coautor(es)
WALLESKA BERNARDINO SILVA
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias e Lazuíta Goretti

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: organização estrutural dos enunciados
Ensino Médio Língua Portuguesa Gêneros discursivos e textuais: narrativo, argumentativo, descritivo, injuntivo, dialogal
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • Refletir sobre o peso da autoridade de uma pessoa em relação ao próprio discurso, ou seja, o que e por que determinada pessoa está ou não está autorizada a afirmar o que diz.
  • Relacionar, analisar e avaliar critérios para a eleição de argumentos de autoridade eficientes e usos desse recurso em trechos de textos opinativos.
Duração das atividades
2 aulas de 100 minutos cada.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Textos opinativos.
  • Argumentação.
  • Exposição oral.
Estratégias e recursos da aula

Estratégias e recursos:

  • trabalho em equipe;
  • discussão oral e coletiva;
  • apresentação de exposição oral;
  • data show;
  • computador com internet ou xerocópias.

 

Aula 1

Atividade 1

O objetivo dessa atividade é levar os alunos à reflexão de que algo tem mais valor quando dito por alguém que tem autoridade, especialidade, conhecimento "de causa" no assunto.

 

O professor iniciará a aula dizendo o seguinte enunciado: "Amanhã, devido ao meu pedido à prefeitura, algumas ruas do centro da cidade serão interditadas. Isso porque quero levar meus filhos para passearem nas lojas do centro, mas, com o trânsito caótico, tenho medo de que eles  sejam atropelados."

http://3.bp.blogspot.com/_YJvAk71hcUg/SVe2U7WC7cI/AAAAAAAAEbg/AYJ4NkFFXJ4/s400/d%C3%BAvida.jpg Acesso em 17 ago. 2013. 

A ideia é que os alunos mediante esse enunciado questionem a veracidade dele. Quando o fizerem, o professor dirá: "Vocês acham possível eu ter esse pedido atendido? Por quê?"

O propósito desses enunciados é gerar uma discussão em que os alunos reflitam sobre:

  • PEDIDO DE RUAS INTERDITADAS x AUTORIDADE PARA A REALIZAÇÃO DO PEDIDO.

 

http://www.fea.usp.br/media/fck/Image/fotos/20110428%20FEA%20Debate%20-%20Religi%C3%A3o%20(8).jpg Acesso em 17 ago. 2013.  

 

A conclusão esperada é que os alunos entendam que só haveria possibilidades de o pedido ser atendido caso fosse feito por uma autoridade no assunto e que não fosse justificado pelo simples desejo de alguém levar os filhos para passearem nas lojas do centro. 

O professor deverá questionar os alunos: "Em qual situação e com qual justificativa o pedido talvez tivesse chances de ser atendido?"

Uma ideia, por exemplo, é que se a Presidente da República, em visita à cidade, tivesse um trajeto que necessitasse da interdição de algumas ruas do centro, para não causar tumultos, com certeza, o pedido seria acatado, porque foi feito por uma autoridade (no caso, os assessores da Presidente) e porque tem justificativa plausível: evitar tumultos, o que pode gerar acidentes e outros imprevistos graves.

 

Arrolada essa discussão inicial, o professor projetará os trechos de textos opinativos abaixo e após leitura coletiva e em voz alta, pedirá aos alunos que respondam, oralmente, aos questionamentos relativos a cada passagem. 

 

1) "Segundo a Agência Nacional Italiana de Turismo (Enit), em São Paulo, as viagens para a Itália com foco no turismo religioso vai devem crescer em 25% este e no próximo ano. De acordo com Savatore Costanzo, diretor da Enit para América Latina, a visita do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude reforçou o desejo dos viajantes em conhecer a Itália e suas muitas atrações religiosas – são 30 mil basílicas e Igrejas, 700 museus diocesanos, 220 santuários, monastérios e conventos de propriedade da Igreja Católica, ou seja, 70% dos bens culturais daquele país. 'Esperamos um incremento de 25% no número de turistas da América Latina no segundo semestre de 2013, considerando apenas o turismo religioso', diz Costanzo."

POR BRUNO ASTUTO

Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/bruno-astuto/noticia/2013/08/visita-do-bpapa-franciscob-ao-brasil-faz-turismo-religioso-crescer-na-italia.html Acesso em 17 ago. 2013.

a) Qual a tese apresentada no texto?

b) Quem apresenta essa tese?

c) Qual o peso sócio-histórico ideológico de quem apresenta a tese? Comentem. Pensem na tese e na relação dela com quem diz.

 

2) " Infestação na cozinha
Um relatório da ONU diz que os insetos podem ser uma importante fonte de proteínas no futuro. Decidi prová-los"
 
POR NATÁLIA SPINACÉ
 
 
 
a) Esse trecho é título e subtítulo de uma reportagem da Revista Época. Sabendo disso, qual a razão de utilizar a ONU logo no subtítulo?
 
b) O que fez a jornalista afirmar "Decidi prová-los"?
 
c) Qual o impacto do título? Há amenização de impacto no subtítulo? Explique.

 

 

 

 

 

3) "A carne feita em laboratório

O primeiro hambúrguer feito a partir de células-tronco de vaca projeta um futuro em que a carne será produzida em pequenas fazendas urbanas

FELIPE PONTES,  DE LONDRES
18/08/2013 12h49  - Atualizado em 18/08/2013 13h14
 
 
 
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O hambúrguer de laboratório parece mais natural que os servidos em cadeias de sanduíches fast-food. Ele não leva conservantes, tem a cor forte de carne vermelha e, ao ser tostado, fica com a textura levemente irregular de um hambúrguer caseiro. Na comparação, seu congênere do McDonald’s parece pálido. Na última terça-feira, num encontro com o cientista holandês Mark Post, o criador do hambúrguer de laboratório, pude vê-lo de perto e segurá-lo por 30 segundos. Pedi para prová-lo. Post disse que a amostra que ele carregava numa caixa de isopor (uma das três preparadas por ele) não seria boa para degustação, porque estava fria e fora preparada três dias antes. Uma outra amostra – cada uma custou R$ 750 mil – foi comida por Post e por sua equipe há cerca de três meses. Uma terceira, de 140 gramas, fora grelhada na véspera pelo chef britânico Richard McGeown diante de uma plateia de cientistas e jornalistas. Ela foi dividida em dois pedaços. Metade foi guardada para os filhos de Post (uma garota de 14 anos e um garoto de 13) e para a equipe de produção do evento. A outra foi degustada por Post e por dois provadores independentes: o escritor americano Josh Schonwald, autor do livro  The taste of tomorrow (O sabor do amanhã) , e a cientista austríaca Hanni Rützler, especializada em nutrição.


Hanni disse que o hambúrguer tinha o gosto “intenso”, mas podia ser mais “suculento”, apesar da “consistência impressionante”. Schonwald disse que “a sensação da mordida é a mesma de um hambúrguer comum”. “Antes de testá-lo, imaginava que a textura seria estranha, mas ela é familiar como a de um hambúrguer normal. Imaginava também que o gosto seria repulsivo, mas ele me pareceu neutro”, afirmou a ÉPOCA. O que faltou? Segundo Schonwald, “gordura”. “A carne me pareceu extremamente magra. Isso seduz pessoas em busca de proteínas sem gordura”, disse. “Mas, para carnívoros como eu, a gordura teria dado ao hambúrguer de laboratório mais sabor.”

Disponível em:  http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/08/carne-feita-bem-laboratoriob.html Acesso em 17 ago. 2013.

a) Qual o peso da terceira mostra do hambúrguer de laboratório ser grelhada pelo chefe britânico Richar McGeown?

b) E se ela fosse grelhada pelo próprio criador? Quais as implicações para o resultado? 

c) Em termos de peso argumentativo, existe diferença entre a opinião de Hanni e de Josh sobre a degustação do hambúrguer? Uma tem mais peso do que a outra? Por quê?

d) E entre a opinião de Hanni e os filhos de Post? Por que isso acontece?

 

4) "Ser otimista é ser constantemente atropelado pelos fatos. Às vezes nos esquecemos disso, mas os fatos nunca se esquecem de nos atropelar. Foi o que aconteceu comigo. Mesmo sem ser um grande fã do pensamento positivo, escrevi há alguns meses um texto esperançoso obre o hábito da leitura no Brasil. Não preciso nem dizer que um estudo do IBGE, na última sexta-feira, revelou que o brasileiro dedica apenas seis minutos por dia aos livros. Um desastre. Alguns amigos voltaram a me dizer, em tom de provocação, que o brasileiro não lê.

Não exageremos. A pesquisa, afinal, confirma que o brasileiro lê. Lê pouco, mas já é alguma coisa. Com seis minutos por dia e alguma paciência, o brasileiro médio deve conseguir terminar um livro ou dois até o fim do ano. Quase nada, mas melhor do que nada."

POR DANILO VENTICINQUE

Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/danilo-venticinque/noticia/2013/08/seis-minutos-de-bleiturab.html Acesso em 17 ago. 2013. 

a) Qual a tese defendida por Danilo?

b) O que ele recruta para "jogar" em seu favor?

c) Qual o peso argumentativo do "recrutado"? Explique.

 

5)          Dilma e a volta dos que não foram

No que veio a pergunta sobre o retorno de Lula, ela não teve dúvida. Quanto vale sua retórica?

GUILHERME FIUZA
15/08/2013 08h00
 
 
 
 
 
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É dura a vida sem teleprompter. Dilma Rousseff tem ótimas ideias quando lê o que seu marqueteiro escreve para ela dizer à nação. Nem é preciso decorar. Basta dar ênfase às palavras sublinhadas, sorrir quando a rubrica manda sorrir – e surge a estadista. Outro dia, a presidente tomou coragem e resolveu dar uma entrevista por ela mesma, na bucha, sem efeitos especiais. Era para a mídia impressa, então ninguém veria suas famosas pausas na busca aflita pela linha de raciocínio. Mas a coisa complicou mesmo assim. Alguém precisa urgentemente inventar o teleprompter 24 horas.

Na fatídica entrevista à Folha de S.Paulo, Dilma se soltou. “Eu tô misturada com o governo dele total”, disse, numa referência à administração do seu antecessor e padrinho. Nesse tom despachado, tipo estadista de beira de estrada, chamando a repórter de “minha querida” sempre que se irritava (tentando ser contundente sem o bendito letreiro do teleprompter), a presidente produziu uma pérola. Respondendo sobre a queda de sua popularidade, e as consequentes especulações em torno de uma volta de Lula à Presidência em 2014, Dilma disse: “Lula não vai voltar, porque ele não saiu”.

Se o marqueteiro presidencial assistia à entrevista, deve ter suspeitado que o grande momento chegaria. Na busca por tiradas espertas, numa espécie de arremedo brizolista (frases de efeito para não responder ao que é perguntado), Dilma já tinha dito coisas como “tudo o que sobe, desce” – para em seguida emendar, triunfal: “Tudo o que desce, sobe”. E isso acompanhado do gestual de malandragem, usando o dedo indicador para arregalar o olho puxando a pele para baixo, tipo “eu sei das coisas”. No que veio a pergunta sobre o retorno de Lula, ela não teve dúvida: rebateu com uma variação do famoso “a volta dos que não foram”.

A declaração de que Lula não voltará porque não saiu significaria, num país atento e saudável, um fim de linha. Uma admissão cabal e inequívoca de nulidade – a maior autoridade da República desautorizando publicamente a si mesma. A patética confissão de uma marionete. O Brasil passou os últimos dois anos e meio cultivando fetiches para dar recordes de aprovação a Dilma: as mulheres no poder, a grande gestora que enquadra os políticos, a “presidenta” que fala menos (do que Lula) e faz mais, a faxineira ética que não tolera os métodos duvidosos do seu antecessor, a “gerentona” que domou o PT etc. Enquanto o Brasil vivia feliz da vida esse delírio, Dilma agia como se Lula fosse um retrato amarelado na parede. “No meu governo mando eu”, e daí para cima.

De repente, num soluço das pesquisas de opinião, a carruagem vira abóbora. A Cinderela dos oprimidos volta à condição de serviçal e revela a fada madrinha barbuda (ou bigoduda). Ninguém entendeu mal, ninguém ouviu errado. Dilma declarou espontaneamente, sem teleprompter, que Luiz Inácio da Silva nunca saiu da Presidência da República. Não é uma dedução. A pergunta era sobre uma possível volta de Lula à Presidência. Portanto, Dilma declarou que “ele não saiu” da Presidência. Se ela não sabe o que diz, não pode presidir um país. Se sabe – pelo significado do que disse –, também não pode.

O Brasil, por alguma razão misteriosa, se recusa a ver é que Dilma é o Celso Pitta de Lula. Uma personagem inócua, eleita por um país irresponsável, para guardar o lugar do PT e seus sócios na mina de ouro do Planalto. O resultado disso é um governo faz de conta, em que o titular de fato circula por aí fazendo lobby, e a titular de direito solta balões de ensaio para distrair a plateia. Um governo que mente à luz do dia sobre suas próprias contas, que vem anunciar um corte orçamentário de fantasia, quando, na realidade, acaba de gerar o pior resultado fiscal desde o governo passado, avacalhando progressivamente a meta de superavit. Na mesma entrevista, a presidente que é mas não é defende seu ministro da Fazenda, ridicularizado mundo afora, para negar a evidente escalada inflacionária.
Quanto vale a retórica oca de uma autoridade sem poder?

Esse poder emana de um povo que sai às ruas sem saber por quê. Quem sabe o papa Francisco não dá uma passadinha no Palácio e resolve essa bagunça? 

Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/guilherme-fiuza/noticia/2013/08/dilma-e-bvolta-dos-que-nao-foramb.html Acesso em 17 ago. 2013

a) Por que o papa Francisco foi citado por Fiuza como possível personalidade capaz de resolver "essa bagunça"?

b) De que bagunça se trata na visão de Fiuza?

 

Atividade 2

O propósito dessa atividade é permitir que os alunos relacionem regras para a construção de argumentos de autoridade eficientes e usos desse recurso em trechos de textos opinativos.

 

Nessa aula, os alunos deverão ler o texto de Desidério Murcho, "Argumento de autoridade". Disponível em: http://criticanarede.com/autoridade.html Acesso em 17 ago. 2013 

http://skoob.s3.amazonaws.com/autores/5764/57641319555423G.jpg Acesso em 17 ago. 2013  

Desidério apresenta quatro regras que considera essenciais para que o argumento de autoridade seja considerado bom. A partir dessas regras, os alunos, em grupos, deverão voltar aos trechos trabalhados na primeira atividade e opinarem sobre o que considera Desidério e o que está posto nos trechos. Para tanto, há necessidade de os alunos pesquisarem sobre as autoridades citadas nos textos opinativos. As conclusões a que chegarem terão de ser comunicadas em exposição oral com apresentação de recurso visual.

Professor, vá para o laboratório de informática para que os alunos pesquisem ou já traga alguns textos impressos que colaborem para a compreensão, por parte dos alunos, acerca da autoridade de cada texto.

Argumento de autoridade

Desidério Murcho
Universidade Federal de Ouro Preto

Aos argumentos baseados na opinião de um ou mais especialistas chama-se argumentos de autoridade. Os argumentos de autoridade têm geralmente a seguinte forma lógica (ou são a ela redutíveis): “disse que P; logo, P”. Por exemplo: “Aristóteles disse que a Terra é plana; logo, a Terra é plana”. Um argumento de autoridade pode ainda ter a seguinte forma lógica: “Todas as autoridades dizem que P; logo, P”.

A maior parte do conhecimento que temos de física, matemática, história, economia ou qualquer outra área baseia-se no trabalho e opinião de especialistas. Os argumentos de autoridade resultam desta necessidade de nos apoiarmos nos especialistas. Por isso, uma das regras a que um argumento de autoridade tem de obedecer para poder ser bom é esta:

1. O especialista (a autoridade) invocado tem de ser um bom especialista da matéria em causa.

Esta é a regra violada no seguinte argumento de autoridade: “Einstein disse que a maneira de acabar com a guerra era ter um governo mundial; logo, a maneira de acabar com a guerra é ter um governo mundial”. Dado que Einstein era um especialista em física, mas não em filosofia política, este argumento é mau.

Contudo, apesar de Marx ser um especialista em filosofia política, o seguinte argumento de autoridade também é mau: “Marx disse que a maneira de acabar com a guerra era ter um governo mundial; logo, a maneira de acabar com a guerra é ter um governo mundial”. Neste caso, é mau porque viola outra regra:

2. Os especialistas da matéria em causa não podem discordar significativamente entre si quanto à afirmação em causa.

Dado que os especialistas em filosofia política discordam entre si quanto à afirmação em causa, o argumento é mau. É por causa desta regra que quase todos os argumentos de autoridade sobre questões substanciais de filosofia são maus: porque os filósofos discordam entre si sobre questões substanciais. Poucas são as afirmações filosóficas substanciais que a generalidade dos filósofos aceitam unanimemente e por isso não se pode usar a opinião de um filósofo para provar seja o que for de substancial em filosofia. Fazer isso é falacioso.

Os seguintes argumentos contra Galileu são igualmente maus: “Aristóteles disse que a Terra está imóvel; logo, a Terra está imóvel” e “A Bíblia diz que a Terra está imóvel; logo, a Terra está imóvel”. O primeiro é mau porque nem todos os grandes especialistas da altura em astronomia, entre os quais se contava o próprio Galileu, concordavam com Aristóteles; o argumento viola a regra 2. O segundo é mau porque os autores da Bíblia não eram especialistas em astronomia; o argumento viola a regra 1.

Considere-se o seguinte argumento: “Todos os especialistas afirmam que a teoria de Einstein está errada; logo, a teoria de Einstein está errada”. Qualquer pessoa poderia ter usado este argumento quando Einstein publicou pela primeira vez a teoria da relatividade. Este argumento é mau porque é derrotado pela força dos argumentos independentes que sustentam a teoria de Einstein. A regra violada é a seguinte:

3. Só podemos aceitar a conclusão de um argumento de autoridade se não existirem outros argumentos mais fortes ou de força igual a favor da conclusão contrária.

A regra 2 é redundante relativamente a 3. Não se aceita um argumento de autoridade baseado num filósofo quando há outros argumentos de igual força, baseados noutro filósofo, a favor da conclusão contrária. Mas 3 abrange o tipo de erro presente no último argumento sobre Einstein, ao passo que 2 não o faz. No caso do argumento de Einstein, o erro consiste no facto de o argumento de autoridade baseado em todos os especialistas em física ser mais fraco do que os próprios argumentos físicos e matemáticos que sustentam a teoria de Einstein.

Considere-se o seguinte argumento: “O psiquiatra X defende que toda a gente deve ir ao psiquiatra pelo menos três vezes por ano; logo, toda a gente deve ir ao psiquiatra pelo menos três vezes por ano”. Admita-se que todos os especialistas em psiquiatria concordam com X, que é um grande especialista na área. A regra 3 diz-nos que este argumento é fraco porque há outros argumentos que colocam em causa a conclusão: dados estatísticos, por exemplo, que mostram que a percentagem de curas efectuadas pelos psiquiatras é diminuta, o que sugere que esta prática médica é muito diferente de outras práticas cujo sucesso real é muitíssimo superior. Além disso, este argumento viola outra regra:

4. Os especialistas da matéria em causa, no seu todo, não podem ter fortes interesses pessoais na afirmação em causa.

Quando Einstein afirma que a teoria da relatividade é verdadeira, tem certamente muito interesse pessoal na sua teoria. Mas os outros físicos não têm qualquer interesse em que a teoria da relatividade seja verdadeira; pelo contrário, até têm interesse em demonstrar que é falsa, pois nesse caso seriam eles a ficar famosos e não Einstein. Mas nenhum psiquiatra tem interesse em refutar o que diz X. E, por isso, a sua afirmação não tem qualquer valor — porque é a comunidade dos especialistas, no seu todo, que tem tudo a ganhar e nada a perder em concordar com X.

Os argumentos de autoridade são vácuos ou despropositados quando invocam correctamente um especialista para sustentar uma conclusão que pode ser provada por outros meios mais directos. Por exemplo: “Frege afirma que omodus ponens é válido; logo, o modus ponens é válido”. Dado que a validade do modus ponens pode ser verificada por outros meios mais directos (nomeadamente através de um inspector de circunstâncias), este argumento é vácuo ou despropositado. Os argumentos de autoridade devem unicamente ser usados quando não se pode usar outras formas argumentativas mais directas.

Usa-se muitas vezes a expressão “argumento de autoridade” como sinónimo de “mau argumento de autoridade”. Todavia, nem todos os argumentos de autoridade são maus; o progresso do conhecimento é impossível sem recorrer a argumentos de autoridade; e pode-se distinguir com alguma proficiência os bons dos maus argumentos de autoridade, atendendo às regras dadas.

Desidério Murcho
Extraído de  Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos, segunda edição, org. por João Branquinho, Desidério Murcho e Nelson Golçalves Gomes (São Paulo: Martins Fontes, 2006)

 

Atividade 3

O objetivo dessa atividade é os alunos apresentarem suas conclusões acerca da relação entre regras para um bom argumento de autoridade X trechos da primeira atividade.

 

Os alunos terão de apresentar  suas conclusões acerca da relação solicitada na atividade 2, por meio de exposição oral com utilização de recurso visual.

Professor, esse momento é importante para que os alunos compreendam que o argumento de autoridade pode ser um argumento infalível para corroborar uma tese qualquer, desde que a autoridade do argumento atenda a requisitos especiais, conforme colocou Desidério Murcho.

Para comprovar que o argumento de autoridade deve atender a requisitos mínimos, o professor lerá junto com os alunos o texto de Paul Krugman, que questiona a autoridade do argumento posto por outro articulista que é citado por Krugman, em seu texto.

Argumentos de autoridades

6 de julho de 2010 | 15h47

Paul Krugman

Um rápido comentário a respeito da coluna de David Brookspublicada hoje. Não sei a que ele está se referindo quando diz:

Aqueles que enfatizam o lado da procura não apresentam uma boa explicação para os últimos dois anos.

Engraçado, pensei que tivéssemos uma explicação ótima: um agudo declínio na demanda decorrente da crise financeira e um pacote de estímulo que, como alertamos desde o início, estava muito aquém do necessário. E, como tenho tentado demonstrar, os acontecimentos confirmaram quase inequivocamente o ponto de vista daqueles que enfatizam a procura.

Mas há algo mais na coluna de David, algo que vejo com frequência: a noção de que, simplesmente porque um grande número de pessoas importantes acredita numa ideia, ela deve necessariamente fazer sentido:

Além disso, aqueles que enfatizam a procura escrevem como se todos os que discordam de sua opinião são imorais ou imbecis. Mas, na verdade, muitos economistas premiados são contrários a uma nova rodada de estímulo. A maioria dos líderes europeus e dos presidentes dos bancos centrais do continente acha que é hora de reduzir o endividamento, e não aumentá-lo – opinião partilhada por muitos economistas das instituições econômicas internacionais. Têm certeza de que esses teóricos estão equivocados, e os seus, corretos?

Sim, tenho certeza. Isto se chama analisar as evidências. Analisei atentamente os argumentos apresentados pelos Defensores da Dor e também as evidências que supostamente sustentariam a posição deles – e cheguei à conclusão de que nada confirma o que estão sugerindo.

Além disso, temos de nos perguntar como é possível termos passado pelos últimos dez anos e ainda imaginarmos que, simplesmente porque um grande número de Pessoas Sérias acredita em algo, devemos acreditar também. E o Iraque? A bolha imobiliária? O medo da inflação? (Vale lembrar que Trichet de fato aumentou os juros em junho de 2008, pois ele acreditava que a inflação – e não a crise financeira – era a grande ameaça enfrentada pela Europa.)

A lição que aprendi nos últimos anos não foi Seja Humilde e sim Questione a Autoridade. O leitor deveria fazer o mesmo.

Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/paul-krugman/2010/07/06/argumentos-de-autoridades/ Acesso em 17 ago. 2013  

Recursos Complementares

Para leitura do professor:

Artigos:

COELHO, A. Argumento de autoridade: análise argumentativa e ajuizamento crítico. Disponível em:  http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com.br/2010/11/argumento-de-autoridade-argumentum-ad.html Acesso em 17 ago. 2013. 

LOPES, M. M. Sobre convenções em torno de argumentos de autoridade. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/cpa/n27/32138.pdf Acesso em 17 ago. 2013. 

MOSCA, L.S. O espaço tensivo da controvérsia: uma abordagem discursivo-argumentativa. Disponível em: http://dlcv.fflch.usp.br/sites/dlcv.fflch.usp.br/files/Mosca.pdf Acesso em 17 ago. 2013. 

Apresentação:

Argumentação e retórica. Disponível em: http://www.slideshare.net/norbas/argumentao-e-retrica-15126947 Acesso em 17 ago. 2013.

Aulas Portal do Professor:

UCA - Conhecendo a argumentação: tipos de argumentos. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=38507 Acesso em 17 ago. 2013 

Estudando o texto: perspectivas e argumentos. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8208 Acesso em 17 ago. 2013 

Avaliação

Nessa proposta, os alunos deverão ser capazes de avaliar se um argumento de autoridade é de fato eficiente para o que se pretende defender. Isso dar-se-á pelas atividades indutivas do primeiro momento da aula e durante a construção da exposição oral sobre a relação que terão de empreender entre os trechos de textos opinativos lidos e os critérios para produção de um argumento de autoridade.

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