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JORNAL
Edição 100 - Novas Tecnologias na Escola
22/05/2014
 
ou

Nuria Pons Vilardell Camas (UFPR): “O melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação”

O importante, independentemente da tecnologia, é entender, criar e dar vazão a uma nova escola

O importante, independentemente da tecnologia, é entender, criar e dar vazão a uma nova escola

Autor:Arquivo pessoal


Professora do Setor de Educação, do Departamento de Teoria e Prática do Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Nuria Pons Vilardell Camas dedica-se desde 2000 a estudar a integração de novas tecnologias ao currículo educacional. Ela constata que o mundo no qual vivemos é praticamente digital e que, portanto, a tecnologia faz parte do dia a dia. Entretanto, independentemente da tecnologia, afirma que o importante é entender, criar e dar vazão a uma nova escola, que vislumbre o currículo como o caminho a ser construído para e pelos aprendizes. “O melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação”, avalia. “A tecnologia é parte, não é o todo.”

Com mestrado e doutorado na área de educação, Nuria atua como docente na graduação e na extensão. No Programa de Pós-Graduação em Educação: Teoria e Prática do Ensino, promove pesquisas sobre cultura digital e formação de professores, letramento da informação e integração curricular das tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Jornal do ProfessorO que pode ser considerado como novas tecnologias e quais podem ser usadas nas escolas com melhores resultados?

Nuria Pons Vilardell Camas – Por novas tecnologias entende-se a convergência de tecnologias e mídias para um único dispositivo, que pode ser o notebook, o celular, o tablet, a lousa digital, o robô e quaisquer outras que surjam. Para o uso educacional, interessa particularmente a produção colaborativa de conhecimento, o registro, a busca de informações atualizadas, a autoria e a coautoria de nossos alunos, um professor e um gestor aberto às mudanças e também reflexivo. O importante, independentemente da tecnologia, é entender, criar e dar vazão a uma nova escola, que vislumbre o currículo como o caminho a ser construído para e pelos aprendizes, incluindo alunos, professores, gestores e familiares.

Na verdade, o melhor resultado não virá pela tecnologia, mas pela compreensão do que se espera da educação, pelo revisitar do projeto político-pedagógico da escola em que o professor atua, discuti-lo amplamente, reformular e formular para não continuar errando na ação pedagógica. A tecnologia é parte, não o todo. Criar um projeto para a realidade em que atua e planejar as aulas levará o professor a escolher a melhor tecnologia para dado conteúdo e contexto. Não se deve esperar um manual de melhores ferramentas e tecnologias para a aula, mas a compreensão da condição em que se está para a realização das ações.

Qual a importância das novas tecnologias na educação? Quais os principais benefícios que elas podem trazer à aprendizagem?

– Este é o mundo atual e ele é praticamente digital. Portanto, usar tecnologias em sala de aula, na escola, em casa e nas ruas faz parte do dia a dia. Lógico que não se pode esquecer que ainda se luta para tirar crianças e jovens da condição de isolados e também é necessário voltar os olhares e esforços para o ensino e a aprendizagem, de forma a incluí-los digitalmente. A aprendizagem é um dos fins. O que deveria importar na condição escolar é a educação, vista na amplitude dos possíveis caminhos que os estudantes percorrem e percorrerão enquanto cidadãos que se educam. É neste sentido que as tecnologias fazem parte, independentemente de serem novas ou velhas, como o livro, o quadro negro, o giz, ou o celular. É necessário oferecer condições para promoção da educação de nosso tempo, que deve estar integrada ao local em que estivermos.

As instituições de educação superior estão preparando os futuros professores para o uso de novas tecnologias na sala de aula? Na UFPR, especificamente, o que vem sendo feito com relação a esse tema?

– Talvez este seja um dos nossos maiores enfrentamentos na formação de futuros professores. Basta olhar os projetos político-pedagógicos das licenciaturas e das pedagogias, salvo exceções, para saber que, quando muito, os discentes têm em suas cargas horárias no máximo 100 horas sobre o uso de tecnologias em sala de aula. Para alguns, esse uso é voltado à parte técnica — ligar, desligar, usar um software ou aplicativo — ou apenas à teórica, como estudar a condição pós-moderna das mídias. Isso é importante, sim. Entretanto, não será somente isso que o professor enfrentará na escola. E é no enfrentar, entendido como prática, que se deve pensar. E em preparar o professor.

Na UFPR, num movimento de avanço, estamos instituindo um núcleo de pesquisa de integração das tecnologias à educação, entre os setores de ciências exatas e de educação. A proposta é exatamente esse enfrentamento: unir os conhecimentos técnico-pedagógicos de forma interdisciplinar para a formação dos futuros professores no âmbito do uso das tecnologias e na parte pedagógica, que deve se dar também na prática. Ou seja, potencializar projetos de ensino, pesquisa e extensão que possibilitem aos alunos licenciandos desenvolver e experimentar, desde recursos educacionais abertos (REA) a plataformas formadoras e games, entre outros, para uso em sala de aula, na educação básica, tanto pelos alunos da UFPR quanto por professores na ativa.

A união histórica desses dois setores da universidade deve possibilitar a formação inicial dos futuros professores e permitir o atendimento, no ensino, na pesquisa e na extensão, e o diálogo com as escolas e seus professores. Além de revisitar, reformular e, quem sabe, propor a criação de licenciaturas, no setor de exatas, que atendam as necessidades atuais de uma escola de seu tempo, com professores de seu tempo, para preparar o hoje e o amanhã. Pensar na escola sem as fragmentações às quais todos estão acostumados. Nesse sentido, não podemos esquecer o apoio do reitor, Zaki Akel Sobrinho. Talvez estejamos começando a promover, na prática, o que já temos em teoria, que é a colaboração entre as áreas, num esforço para melhorar a educação e a formação dos professores.

O fato de a internet oferecer uma variedade de conteúdos a qualquer pessoa pode, em algum momento, resultar na dispensa da figura do professor ou do ensino formal? Por quê?

– É comum essa preocupação. Entretanto, sempre será necessário um professor para dar conhecimento científico aos alunos, propiciar aos alunos a mediação do conhecimento. Propiciar significa aqui a possibilidade freireana da autonomia do aluno. Essa autonomia passa pelo questionamento, pesquisa, registro, organização, autoria e coautoria, que são também propiciados por sistemas eletrônico-digitais com acesso à internet: a web com todo o potencial. Ao docente cabe o papel de auxiliar os alunos a adquirir a capacidade plena de desenvolvimento para as necessidades do mundo digital. A união das possibilidades com o uso da web 2.0 — escrita, leitura, partilha, imagem e som em uma única página navegável, colaboração — pode ser feita por todos que tenham acesso à rede de computadores. Entretanto, acesso não significa uso, e leitura de páginas da web não significa leitor que aprende, muito menos que compartilhe a aprendizagem e que tenha autoria. Há a necessidade de uma mediação pedagógica, preparada desde a formação inicial até a formação continuada para a inclusão da cultura digital na narrativa curricular, e essa mediação pedagógica é representada pelo papel do professor.

O Ministério da Educação tem promovido cursos de formação para professores sobre o uso didático e pedagógico das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no cotidiano escolar. Qual a importância de ações como essas?

– O MEC tem investido na formação do professor. É de extrema importância formar o professor na ativa, não apenas para o uso das TIC. Os cursos têm usado as tecnologias como processo de ensino e aprendizagem com os professores. O Setor de Educação da UFPR, com apoio do MEC e da prefeitura de Curitiba, promoveu o projeto-piloto Edupesquisa para os professores da rede municipal. O curso foi realizado por meio de ambiente virtual de aprendizagem. A intenção não era o ensino do uso das ferramentas digitais. Mas dar um passo além. As tecnologias não eram o fim, mas o meio para a realização do curso de extensão. Um dos resultados da pesquisa, ao fim do curso, em dezembro de 2013, foi a reflexão, pelos professores, sobre o que mudara nas práticas em sala de aula com o uso das tecnologias. Essa reflexão os levou a inovar nessas práticas.

Esse investimento, não só em cursos, mas em infraestrutura, é um alerta sobre o nascer de uma nova escola e de um novo professor. Aponta mudanças no olhar e no aproveitar melhor o que se tem na escola. Os cursos têm mostrado que modernizar nem sempre significa mudar. Obviamente, as TIC podem propiciar relações e transformações. É fundamental ter em mente que o desenvolvimento profissional do docente somente é representativo se houver melhora na educação. Nesse sentido reside a importância das ações do MEC na promoção e no apoio a muitos cursos.

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