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JORNAL
Edição 118 - Especial Dia do Professor-2015
14/10/2015
 
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Carmensita Matos Braga Passos (UFC): “A formação de qualidade é imprescindível para o professor”

O  professor não nasce pronto, diz Carmensita

O professor não nasce pronto, diz Carmensita

Autor:Arquivo pessoal


A professora Carmensita Matos Braga Passos diz que o professor não nasce pronto. “A docência é uma profissão, como as demais, que demanda uma formação adequada”, enfatiza. “A formação de qualidade é imprescindível.” Com graduação em pedagogia, mestrado e doutorado em educação, professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Carmensita coordena o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), na UFC, desde 2011. Desde 2007, é tutora do Programa de Educação Tutorial (PET), de pedagogia, responsável pela orientação de bolsistas na realização de atividades de ensino, pesquisa e extensão. (Fátima Schenini)

Quais as qualidades necessárias para ser um bom professor?

— Para ser um bom professor é necessário ter o que chamo de relação ética e afetiva positiva com a profissão: gostar de ser professor, escolher essa profissão, ter compromisso com a aprendizagem dos alunos, encantar-se com a sala de aula, ter prazer em atuar como docente. É indispensável, para um bom professor, dominar os conhecimentos com os quais vai trabalhar, compreender seu papel na formação do estudante, na relação com as demais áreas do saber, abordando-os de forma contextualizada, dinâmica, na direção do desenvolvimento de aprendizagens significativas, não apenas na perspectiva da memorização. O professor também demanda uma formação pedagógica que proporcione a compreensão das perspectivas histórica, filosófica, psicológica e social da educação, de tal forma que essa compreensão permita uma ação–inserção docente crítica e criativa.

Compreender a dimensão política da docência no mundo contemporâneo, assim como posicionar-se diante das políticas educacionais que cercam o desempenho da profissão docente, é mais um aspecto fundamental para um professor de qualidade. Cabe destacar que um bom professor não se “faz” apenas a partir de qualidades intrínsecas do profissional. São necessárias políticas educacionais amplas, que envolvam valorização docente, por meio de formação inicial e continuada de qualidade, condições de trabalho, carreira e salário dignos, coerentes com a complexidade do trabalho que o professor desenvolve.

Um bom professor já nasce pronto? Qual o papel das instituições superiores de ensino na formação de bons professores?

— O professor não nasce pronto. A docência é uma profissão, como as demais, que demanda uma formação adequada. Vez por outra, ouço estudantes admitirem nunca ter pensado em ser professores. No entanto, por alguma circunstância, ingressaram em curso de licenciatura e com ele estão se identificando. Também me deparo com estudantes que desde cedo mostraram a disposição de ser professores. Tanto num caso quanto no outro, a formação de qualidade é imprescindível.

No processo de formação docente, o papel das instituições formadoras é propor experiências curriculares que proporcionem:

• A integração entre universidade e escola básica para favorecer a interação entre teoria e prática.

• O desenvolvimento da capacidade de refletir e investigar a ação docente como requisito de um constante aperfeiçoamento.

• O acesso às artes e aos bens culturais.

• O desenvolvimento da autonomia.

• A inclusão e o atendimento à diversidade.

• A compreensão crítica da escola e seu contexto sócio-histórico-cultural.

• A formação pedagógica para criar, planejar, executar, gerir e avaliar situações didáticas.

• A flexibilidade curricular e a abordagem interdisciplinar.

• A utilização crítica e criativa das tecnologias digitais.

• A compreensão da dimensão ética, social, política, cultural e econômica da profissão, assim como seus fundamentos psicológicos, pedagógicos, históricos e filosóficos.

• O posicionamento crítico em relação à legislação que orienta e organiza os sistemas de ensino.

Não é tarefa simples. É um desafio de grande amplitude. Também não se pode pensar essa formação restrita à sala de aula, senão articulada a experiências diversas, ligadas à pesquisa e à extensão.

O Pibid tem contribuído para a formação de bons professores?

— Sou coordenadora institucional do Pibid na UFC desde 2011. Tem sido uma experiência gratificante. Digo isso com base no retorno que tenho dos bolsistas de iniciação à docência, dos supervisores, dos coordenadores de subprojetos e dos diretores das escolas em que o Pibid está inserido. Dentre as principais contribuições do programa, destaco:

• O estreitamento da relação teoria e prática, por meio da inserção do futuro professor no contexto escolar.

• A compreensão da profissão docente e dos saberes necessários ao seu exercício.

• O questionamento e a reflexão a partir de experiências na realidade escolar.

• A relação colaborativa com a escola básica, em que os diferentes sujeitos e instâncias são valorizados e se beneficiam da parceria.

• O aumento da autoestima e do interesse dos estudantes de licenciatura em relação ao exercício da docência.

• O planejamento e a realização das atividades (artísticas, lúdicas, visitações, oficinas, utilização de metodologias e material didático diversificado, sessões de estudo) que proporcionem melhoria e superação na formação de todos os sujeitos implicados no projeto (licenciandos, professores das licenciaturas, professores e estudantes da escola básica).

• O incentivo à produção de conhecimentos por meio da participação de bolsistas de iniciação à docência e professores supervisores em eventos acadêmico-científicos.

• O desenvolvimento da capacidade de expressão oral e escrita.

• A busca de efetivação de um trabalho interdisciplinar.

• O esforço para o desenvolvimento de novos hábitos de trabalho, em que o isolamento seja substituído pelo diálogo, colaboração e aprendizagem mútua.

• A formação continuada dos professores da escola básica (supervisores) e dos professores da universidade (coordenadores de área).

A senhora atua há cerca de 20 anos na área de formação de professores. Nesse período, a procura pela carreira do magistério continuou igual, diminuiu ou aumentou?

— Apesar da falta de dados estatísticos, acredito que cresceu, mas não na mesma proporção da necessidade da escola básica. Tempos atrás, era impensável uma bolsa para estudantes de licenciatura, mas havia o Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica], que contemplava os bacharelados e a pesquisa. Hoje, temos o Pibid e outras políticas de incentivo à formação docente, que precisam ser mantidas, fortalecidas e ampliadas. Os cursos de licenciatura têm uma identidade mais fortalecida. Ainda temos muito o que caminhar em direção a um incremento quantitativo e qualitativo de professores.

O que é preciso fazer para estimular o interesse dos jovens pela carreira do magistério?

— Temos, sim, necessidade de mais professores, bem formados. Estimular os jovens para o magistério passa por aspectos já apontados aqui. A carreira docente não é valorizada socialmente. É só vermos como são remuneradas outras carreiras para as quais se exige o mesmo nível de formação. A valorização dos professores continua povoando os discursos. Somos ainda herdeiros de uma compreensão de docência como sacerdócio, doação, voluntariado. Como profissionais, os professores merecem salários, carreira e condições de trabalho coerentes com as exigências feitas ao seu trabalho. Então, é um conjunto de fatores. Não adianta uma excelente formação, se o exercício da profissão desencanta e desvaloriza o professor. Assim como não serão suficientes excelentes condições de trabalho onde se insere um professor com uma formação precária. O incentivo à carreira docente envolve qualidade na formação, condições de trabalho adequadas e um projeto de carreira que incentive a ascensão.

Para a senhora, o que significa ser professora?

— Ser professora é uma parte significativa da minha vida, é a profissão que escolhi e que exerço com alegria, prazer e compromisso. Ser professora é emocionar-se com a superação do aluno, seu progresso, seu avanço, seu sucesso. É ter consciência da intervenção que fazemos na vida dos nossos estudantes, e por isso é fundamental cuidar de cada aula, de cada assunto trabalhado, de cada metodologia escolhida e cada instrumento avaliativo aplicado. É ter compromisso com a aprendizagem, com a formação do estudante. O professor não pode ser um “dador” de aula que expõe um conteúdo e acha que cumpriu seu papel. Para além disso, ser professor pressupõe contribuir para que esse conteúdo se transforme em aprendizagem. É claro que nesse percurso esbarramos com dificuldades, problemas, decepções, desânimo. Mas onde estaremos isentos disso? Como nos tornaremos melhores senão por meio do enfrentamento desses desafios?

Decidi ser professora ainda durante o que hoje denominamos de ensino médio, antigo segundo grau. Comecei a dar aulas com 17 anos. Concluído o segundo grau, ingressei no curso de pedagogia.

Aos jovens professores deixo uma mensagem de esperança. Invistam na formação, permanentemente. Comprometam-se com a formação dos alunos. Lutem pela valorização da profissão e por melhores condições para o exercício da docência. E trabalhem com prazer e alegria, com consciência dos desafios!

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