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JORNAL
Edição 19 - Meio Ambiente na Escola
12/05/2009
 
ou

Meio ambiente na escola: quanto mais cedo melhor, diz José Alexandre Diniz Filho

Autor:Arquivo pessoal


Professor titular da Universidade Federal de Goiás (UFG), desde 1996, José Alexandre Felizola Diniz Filho é chefe do Departamento de Ecologia, do Instituto de Ciências Biológicas. Doutor em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), é pesquisador do CNPq e coordenador adjunto da área de ecologia e meio ambiente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação, (Capes/MEC).

De acordo com o professor Diniz Filho, quanto mais cedo o tema meio ambiente for abordado na escola, melhor será. Em sua opinião a escola deve ser usada, em todos os níveis, para tentar reverter ou minimizar os efeitos da crise ambiental. E acredita que o principal problema, atualmente, é a formação científica dos profissionais na área ambiental, principalmente no sentido de distinguir questões científicas de ideológicas ou puramente emocionais.

 

Jornal do Professor – Para o senhor, qual é a importância que o tema meio ambiente deve ter na escola?

Diniz Filho – A crise ambiental atual é uma realidade, apesar de muitas das suas consequências serem incertas a médio e longo prazo. Deste modo, é importante preparar a sociedade para isso e usar a escola, em todos os níveis, para tentar reverter ou minimizar seus impactos.

JP – Em sua opinião, o tema deve ser abordado na escola, tanto no ensino infantil quanto no ensino fundamental, médio e até superior?

DF – Sim, claro, e quanto mais cedo melhor, embora a forma de abordar o problema tenha que ser, obviamente, diferente em cada nível. Em níveis mais básicos, acho que o mais interessante seria chamar atenção dos alunos para os problemas ambientais e mostrar potenciais soluções (acho que, em diferentes graus, isso vem acontecendo). À medida que o aluno passa para o ensino médio (e principalmente o superior) seria preciso mostrar como essas questões podem ser compreendidas sob um ponto de vista científico, tanto em termos de suas origens como de suas possíveis soluções (isso, infelizmente, ainda não acontece de modo geral).

JP – Meio ambiente precisa ser uma disciplina específica nas escolas? É indicado para alguma série do colégio ou deve ser abordado ao longo da vida estudantil?

DF –Acho que é difícil definir isso... Meio ambiente não é de fato uma disciplina, mas sim uma abordagem em todas as disciplinas, já que é de fato um tema claramente interdisciplinar. É preciso estudar a questão do meio ambiente em diferentes contextos, nas disciplinas biológicas, físicas e humanas. Mas, como os professores das diferentes disciplinas normalmente não estão preparados para isso, ou não conseguem avaliar a importância da questão sob um mesmo ângulo, talvez seja interessante ter uma disciplina especifica para tratar do tema. De qualquer forma, acho que é algo muito semelhante ao que acontece com a idéia de evolução em biologia: é um tema integrador que deveria permear todos os conteúdos, mas como há problemas na formação dos professores em torno da própria idéia integradora, a melhor solução (pelo menos por enquanto) parece ser ter uma disciplina própria. Em geral é isso que acontece atualmente, pelo menos no ensino superior, nos cursos de ciências biológicas.

JP – Existe algum material que o professor possa utilizar em sala de aula para auxiliar na aplicação do tema?

DF – Acho que, como o tema é abrangente, há muito material, mas ele está disperso. Seria interessante começar um esforço mais sistematizado para produzir material de boa qualidade, com bases científicas mais claras.

JP – Tratar de meio ambiente em sala de aula serve apenas para criar consciência ambiental?

DF – Sim, esse é um ponto importante e pode ter uma implicação “prática” no sentido de reverter a crise. Acho que esse tem sido o principal enfoque, principalmente nos ensinos médio e fundamental, e parece que tem funcionado bem. Mas não acho que deva ser só isso, é preciso avançar. Tão importante quanto alertar para o problema, esse ensino deveria se enquadrar em uma categoria mais geral de “educação científica”, sendo assim uma maneira de demonstrar como a ciência é importante para entender e resolver problemas do dia-a-dia. Precisamos muito de educação científica para aumentar o nível de consciência da população e desmistificar muitos assuntos, inclusive alguns componentes ideológicos e anticientíficos relacionados à própria questão ambiental.

JP – Como fazer com que os alunos apliquem o aprendizado no dia a dia?

DF – Acho que isso é bem natural e na prática isso vem acontecendo. Sou bastante otimista em relação a isso e, embora eu possa estar errado, eu confio na capacidade da ciência e da educação científica para reverter muitos dos problemas que estão acontecendo hoje. Minhas filhas de 7sete e cinco anos têm uma consciência dos problemas ambientais que eu não tinha na mesma idade. Isso vem muito da escola e do reforço que elas recebem em casa. A mídia teria também um papel importante nessa divulgação.

JP – Quais as dificuldades que os professores encontram para abordar o assunto em sala de aula?

DF – Acho que o principal problema hoje é de formação científica dos profissionais na área ambiental, principalmente no sentido de distinguir bem questões científicas de questões ideológicas ou puramente emocionais. Assim, há um grande risco de que um professor despreparado transmita aos jovens uma visão ingênua, quase infantil, sobre a crise ambiental, uma visão de falta de perspectiva, ou de que a ciência é “culpada” pela crise. Isso seria desastroso... Um ponto importante é que, embora hoje estejam sendo criados vários cursos superiores em torno da idéia de meio ambiente, ainda não está claro se o perfil do profissional a ser formado – que será com certeza muito variado – será adequado para ensino também. Acho que isso é um tema bastante delicado em ciências ambientais, mas que precisa ser enfrentado.

JP - Para falar de meio ambiente, apenas as aulas teóricas são eficientes ou os professores também devem levar os alunos para fazer trabalho de campo?

DF – O campo é interessante, mas é preciso pensar bem em como proporcionar essas atividades. Trabalhos de campo não são simples de elaborar de forma consistente, pois eles podem passar uma impressão ingênua ou errada dos problemas. Por exemplo, dar a impressão de que soluções são simples de obter. Acho que em nível fundamental, o interessante seria levar os alunos para visitar projetos ambientais de sucesso (como, por exemplo, uso de energias alternativas), e em um segundo momento (ensino médio) explicar mais cientificamente como esses projetos se originaram, quais as bases cientificas das soluções e em que sentido eles são bem sucedidos. Mas isso é só uma ideia.

JP – Existe preconceito em relação à importância da abordagem do tema em relação às demais matérias?

DF – Talvez, é difícil dizer... Acho que pouca gente atualmente está totalmente alheia à questão ambiental. Mas a geração que está ensinando essas questões, de fato, não percebeu efetivamente (ainda) os possíveis impactos da crise. Mas isso está mudando muito rapidamente, de qualquer modo.

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