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JORNAL
Edição 59 - Olimpíadas de Matemática
29/08/2011
 
ou

César Camacho (Impa): ao lado dos bons alunos aparece um bom professor

Segundo César Camacho, as olimpíadas têm contribuído para uma maior disseminação da matemática

Segundo César Camacho, as olimpíadas têm contribuído para uma maior disseminação da matemática

Autor:Arquivo pessoal


Diretor geral do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), o professor César Camacho é doutor em matemática pela Universidade da Califórnia, mestre em matemática pelo Impa, e graduado em ciências e físicas matemáticas pela Universidade Nacional de Engenharia do Peru. Também é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) do Brasil, membro do Conselho Científico do Centro Internacional de Matemática Pura e Aplicada, da França, e colaborador do Centro Internacional de Teoria Física, da Itália.

Este pesquisador e professor altamente qualificado tem se manifestado e lutado em prol do ensino da matemática. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Professor, César Camacho diz que a realização de Olimpíadas de Matemática tem contribuído para uma maior disseminação da disciplina, por meio da organização das escolas para preparar os alunos para as provas.

Em sua opinião, a boa formação dos professores se projeta no bom aprendizado da matemática pelo alunos. E isso, segundo ele, pode ser apreciado claramente no desempenho dos estudantes nas olimpíadas – “ao lado dos bons alunos aparece um bom professor.”

Jornal do Professor – A matemática é uma disciplina temida pela maioria dos alunos. A realização das Olimpíadas de Matemática, tanto a das escolas particulares (OBM) quando a das escolas públicas (Obmep) tem contribuído para mudar isso?

César Camacho – Em primeiro lugar, a OBM não é uma olimpíada só para as escolas privadas. Ela é aberta também às escolas públicas e tem por finalidade precípua selecionar estudantes que representarão o Brasil em olimpíadas internacionais de vários tipos: Cone Sul, Ibero-americana, e a maior de todas a IMO (International Mathematical Olympiad). A propósito, a última IMO ocorreu na Holanda em julho deste ano e pela primeira vez, o time brasileiro de seis estudantes contou com a participação de três estudantes de escolas públicas provenientes da Obmep.

As olimpíadas têm contribuído para uma maior disseminação da matemática. Temos inúmeros relatos de escolas que se organizam com entusiasmo para preparar-se para as provas, utilizando-se para esse fim de livros distribuídos pela Obmep em todas as escolas, contendo problemas e suas soluções. Além disso, as questões propostas nas provas das olimpíadas têm sido elaboradas com esmero, por matemáticos profissionais com ampla experiência neste tipo de questões. Elas são interessantes, desafiadoras e simples na sua apresentação o que torna agradável a tarefa de respondê-las.

JP – A matemática é algo que está de forma permanente no dia a dia das pessoas. Como ela poderia ser melhor ensinada e inserida no ambiente escolar e familiar?

CC – A dificuldade do ensino da matemática reside principalmente no fato de seu aprendizado ser sequencial. Se num ano o estudante não aprendeu as operações com frações, por exemplo, a seguir não aprenderá a regra de três que depende do adequado manejo das frações. Nisso a matemática se diferencia de outras disciplinas tais como geografia, ou história, deixando a impressão de ser mais difícil. Seu aprendizado requer, ainda, disciplina e trabalho árduo no sentido de fixarem-se os conceitos, especialmente mediante a solução de exercícios. Daí por que seja necessário o apoio de um professor que domine a disciplina, conheça a fundo a matéria que deve ensinar, e que ao fazê-lo saiba se colocar na posição do aluno que está aprendendo.

JP – Como o senhor avalia a formação dos professores de matemática no Brasil atualmente? É possível melhorar? De que forma?

CC – A boa formação dos professores se projeta no bom aprendizado da matemática por seus alunos. Isso pode ser apreciado claramente no desempenho das olimpíadas, por exemplo, em que ao lado dos bons alunos aparece um bom professor. Por outro lado, testes internacionais efetuados com estudantes dos níveis fundamental e médio, de conhecimento público, mostraram um desempenho médio baixo a nível nacional, em relação a outros países.

JP – Há falta de professores de matemática em nosso país? Qual a solução para essa questão?

CC – Sim. É necessário tornar a profissão mais atraente para os jovens que além de vocação para ensinar tenham capacidade suficiente para exercer o magistério de maneira competente. Isso passa pelo aprimoramento da carreira do magistério de maneira a torná-la mais interessante para os jovens.

JP – Que tipo de cooperação pode ser dada por instituições de ensino e de pesquisa a fim de disseminar o conhecimento matemático?

CC – A pós-graduação brasileira desenvolveu-se nos últimos sessenta anos, mediante um forte e sustentado apoio financeiro do governo, tendo por base a análise do mérito pelos pares como princípio de definição de hierarquias científicas. Formou-se assim uma comunidade que detém o conhecimento científico avançado. De outra parte a escola pública sofreu, nesse período, um processo de deterioração. É evidente que a transmissão de conhecimento acumulado nas universidades e institutos de pesquisa, para as escolas, é de suma importância e vem preencher uma necessidade criada por essas circunstâncias. A Obmep é um exemplo do que pode ser feito em auxílio da escola. Outros exemplos são os programas de aperfeiçoamento de professores do ensino fundamental e médio realizado pelo Impa, ou, ainda, o Mestrado Profissional em Ensino de Matemática (Profmat).

JP – O Impa promove o curso de aperfeiçoamento de professores de matemática do ensino médio em instituições superiores de ensino. Qual seu objetivo? Quem pode participar?

CC – O Programa de Aperfeiçoamento de Professores de Matemática do Ensino Médio existe desde 1991. Ele é realizado anualmente em dois módulos de duração de uma semana cada. Consiste de aulas proferidas desde o Impa e transmitidas pela internet a 32 centros espalhados em todo o país. Nesses centros, uma equipe de matemáticos auxilia os alunos com seminários e mesas redondas nas quais se discutem temas relacionados com as aulas. Os interessados em participar podem consultar o site do Impa.

JP – Qual o segredo para ser um bom professor de matemática?

CC – O bom professor de matemática tem que ter três qualidades: entusiasmo pelo seu trabalho de ensinar, dominar o conteúdo da matéria que tem que ensinar, e saber adequar-se ao conhecimento já adquirido pelo estudante.

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