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JORNAL
Edição 72 - Literatura de Cordel
25/05/2012
 
ou

Ana Cristina Marinho Lúcio (UFPB): professores de todas as áreas podem trabalhar com o cordel

Universo mágico do cordel não pode ser excluído da sala de aula

Universo mágico do cordel não pode ser excluído da sala de aula

Autor:Arquivo pessoal


Professora do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Cristina Marinho Lúcio é doutora em letras e graduada em história. Autora de livros sobre literatura de cordel, também desenvolve pesquisas sobre literatura brasileira e africana e cultura popular.

Em sua visão, professores de todas as áreas podem realizar um trabalho conjunto com a literatura de cordel. “Artes, história, geografia, ciências podem caminhar juntas, desde que a literatura não seja um meio e sim um fim”, avalia. De acordo com ela, a inventividade, a ludicidade e o prazer estético devem estar em primeiro lugar.

Jornal do Professor – Qual a origem da literatura de cordel?

Ana Cristina Marinho Lúcio – Durante muito tempo os pesquisadores associaram a literatura de cordel nordestina ao cordel português. Pesquisas realizadas na década de 1990, pela professora Márcia Abreu, comprovam que a literatura de cordel portuguesa continha uma diversidade de gêneros (textos dramáticos, novelas, poemas, romances, contos) que não pode ser comparada à literatura de folhetos nordestina. O cordel no Brasil, como dizem os próprios poetas populares, é sinônimo de poesia rimada. Como afirma Márcia Abreu, o cordel pode ser associado muito mais a um gênero editorial (livros vendidos a preços populares, nas ruas, feiras, praças) do que a um gênero literário. No nordeste brasileiro os folhetos começaram a ser vendidos nas feiras ou de porta em porta, no final do século XIX, quando o poeta Leandro Gomes de Barros resolveu viajar até Recife e editar os seus versos e de outros cantadores populares da Paraíba. A partir daí passaram a circular nas feiras e nas praças os folhetinhos ou romances, que eram lidos pelos poetas e vendidos aos seus ouvintes (poucos eram leitores).

JP – Qual é a importância de se utilizar a literatura de cordel nas escolas?

ACML – A literatura de cordel é um tipo de poesia popular que circula no país, desde o seu início, de uma forma totalmente independente de grandes editoras e mercados livreiros. Os poetas fazem os versos, imprimem, vendem, recitam. Ou seja, controlam todo o processo editorial. Os poetas versam sobre tudo que acontece no país, acompanham as notícias (alguém importante morre e já surge um folhetinho), narram histórias de princesas, fadas, cavaleiros medievais, histórias de bichos, pelejas entre cantadores, histórias de amor ou vingança. Esse universo mágico, social, político, não pode ser excluído da sala de aula. Acredito que o lugar da literatura de cordel na escola deve ser o mesmo ocupado pela literatura clássica.

JP – A literatura de cordel atrai a atenção e o interesse dos alunos?

ACML – Os alunos se interessam por histórias bem narradas, por versos bem rimados. Nas experiências que temos feito (eu e o professor Hélder Pinheiro) com o cordel, a recepção dos alunos e professores é muito boa. As crianças adoram os versos sobre bichos, as fábulas, as histórias de assombração. Os jovens buscam histórias de amor e também são seduzidos pela rima bem feita, pela inventividade dos poetas. Os adultos sempre têm uma história para contar sobre cantadores famosos, parentes que aprenderam a ler com os folhetos, histórias de pelejas que duravam dias e noites.

JP – Quais os benefícios que sua utilização na sala de aula pode trazer à aprendizagem?

ACML – Os alunos aprendem a reconhecer nas vozes dos poetas populares a sua cultura, se identificam com os modos de vida, passam a respeitar os artistas populares. Esses são os maiores ganhos com a presença da literatura popular no cotidiano escolar. Os alunos devem, antes de mais nada, conhecer a rica produção de folhetos brasileira. Não acredito numa aproximação utilitarista da literatura na escola, primeiro os alunos devem ser seduzidos para a leitura (e um professor leitor é o principal responsável por isso). Aprender sobre as diferenças culturais, sobre as diversas formas de abordar um assunto, ter contato com os próprios sentimentos, se reconhecer no outro, esses são os maiores ganhos quando a literatura (popular ou não) assume um lugar na escola.

JP – Como os professores podem utilizar o cordel? Que atividades podem ser realizadas?

ACML – O professor deve conhecer os vários gêneros da literatura de cordel, conhecer os interesses dos seus alunos, e realizar uma prática cotidiana de leitura. Nas séries iniciais, os folhetos sobre bichos e as fábulas podem ser lidos, encenados, ilustrados. As crianças também podem conhecer o processo da xilogravura e ilustrar seus livros com essa técnica. Os professores, junto com os alunos, podem realizar uma pesquisa na comunidade sobre a literatura popular (no Nordeste, muitas vezes, os pais dos alunos ou funcionários das escolas são poetas). A escola pode abrir as portas para a poesia popular, realizar exposições de xilogravuras, disputas entre cantadores, concursos de poesia encenada.

JP – O cordel deve ser utilizado nas aulas de português e literatura ou nas aulas de artes? Ou sua utilização deve ser interdisciplinar?

ACML – Acredito que os professores de todas as áreas podem realizar um trabalho conjunto com a literatura de cordel. Artes, história, geografia, ciências podem caminhar juntas, desde que a literatura não seja um meio e sim um fim. A inventividade, a ludicidade, o prazer estético devem estar em primeiro lugar.

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