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Edição 67 - Criatividade na Sala de Aula
14/02/2012
 
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Mônica Souza Neves-Pereira (UnB): inserir a criatividade na escola é fundamental

A criatividade é uma ferramenta poderosa, que deveria ser valorizada em todos os contextos, assegura a professora Mônica Neves Pereira

A criatividade é uma ferramenta poderosa, que deveria ser valorizada em todos os contextos, assegura a professora Mônica Neves Pereira

Autor: Arquivo pessoal


Professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Mônica Souza Neves-Pereira atua no Departamento de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento (PED). Pedagoga, fez mestrado e doutorado em psicologia na Universidade de Brasília, onde abordou o tema Criatividade.

Consultora em órgãos governamentais nas áreas de educação e psicologia, também participa de dois grupos de pesquisa do CNPq, desenvolvendo projetos nas áreas de desenvolvimento humano, criatividade e educação.

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora Mônica ressalta que um professor criativo não irá, necessariamente, promover um ensino criativo. “Um professor, para ser criativo, necessita de formação consistente, orientação pedagógica de qualidade e ambiente favorável”, defende.

Para ela, inserir a criatividade na escola é fundamental para valorizar o elemento humano. E é uma ferramenta poderosa, que deveria ser valorizada em todos os contextos, para além do educacional.

Jornal do Professor – Quais as principais características de um professor criativo?

Mônica Souza Neves-Pereira – Em primeiro lugar, considero importante definir criatividade. Criatividade é a emergência de algo novo, original e útil. Criatividade está circunscrita ao tempo histórico e aos valores culturais. O que é criativo em uma cultura pode não ser na outra. Há vários graus de criatividade, que vão desde a solução de problemas cotidianos até os grandes feitos dos gênios humanos.

Um professor criativo tem as mesmas características de qualquer outra pessoa criativa, como por exemplo: uma estrutura personológica orientada para o novo, para a descoberta, para o desconhecido, curiosidade, interesses diversos, originalidade, habilidade em solucionar problemas, olhar diferenciado sob o mundo e seus fenômenos, dentre outras. Mas é importante destacar que um professor criativo não necessariamente promoverá ensino criativo. Ser criativo é um diferencial que, certamente, favorece a promoção de ensino criativo, mas não garante. Ensinar é um ofício, um fazer intencional que exige preparo. Ensinar de modo criativo exige preparo duplo: no ofício docente e no entendimento dos fatores que promovem a criatividade. Há um equívoco enorme em relação ao fazer docente. A sociedade entende a docência como vocação, como algo a ser feito por pessoas com “jeito para ensinar” e não é nada disso. Ser professor é ser um profissional. É necessário muito preparo, apropriação teórica, metodológica e experiência. Em relação à criatividade, é a mesma coisa.

JP – De que maneira o professor pode estimular a criatividade entre os alunos?

MSNP – Eu posso fazer uma lista de práticas educacionais que favorecerem a criatividade, como por exemplo:

a) Planeje as aulas e as atividades docentes por meio de atividades que estimulem a imaginação do aluno;

b) Estruture as atividades realizadas em sala de aula de modo a explorar as habilidades e talentos dos alunos;

c) Estimule a participação do aluno em todas as atividades, garantindo um clima de respeito às diferenças e aproveitamento do erro como matéria-prima do crescimento;

d) Planeje exercícios e avaliações diferentes, onde o aluno busque informações extras e seja incentivado a pesquisar, a inserir seus próprios saberes na tarefa;

e) Aceite as contribuições de cada aluno sem julgamentos e críticas. Aprenda a valorizar as idéias de cada criança, em sala de aula;

f) Crie espaço para que seus alunos falem sobre seus sentimentos, com confiança, sem medo de julgamentos ou avaliações. Valorize o clima emocional da sua sala de aula. Procure torná-lo confortável e receptivo;

g) Ensaie todas as maneiras de dar uma aula e dê cada aula de um jeito diferente, envolvendo os alunos a participarem ativamente de cada momento;

h) Ouse, tenha coragem de propor coisas novas em sala de aula;

i) Inclua a diversão em sala de aula, despertando o prazer pelo aprendizado, pela descoberta, pelo novo.

Porém, estas sugestões tendem a ser esquecidas ao longo do tempo. Um professor, para ser criativo, necessita de formação consistente, orientação pedagógica de qualidade e ambiente favorável. A criatividade ter que ser vivida pelo sujeito e não sugerida por meio de exercícios ocasionais.

JP – Nesse sentido, algumas práticas pedagógicas possibilitam melhores resultados do que outras?

MSNP – Sim, como dito na pergunta anterior, sugerir práticas voltadas para o fomento da criatividade vai tornar a aula, no mínimo, mais divertida e original. Há formas de trabalhar neste sentido, mas é importante ter em mente que estas práticas terão resultado enquanto o estímulo for mantido. Ao longo do tempo, elas tendem a diminuir e desaparecer.

JP – Quais as principais barreiras para a criatividade na sala de aula?

MSNP – A principal barreira, a meu ver, é a estrutura do sistema educacional que mina a motivação do professor e do aluno. O ensino, como nós o conhecemos, tende a eliminar a confiança e a autoestima do aluno, uma vez que suas possibilidades de fracasso são consideráveis. Mas, há outras barreiras, como por exemplo:

· Medo do ridículo e da crítica;

· Julgar, ao invés de gerar ideias;

· Autoconceito negativo;

· Desconhecimento de seu próprio potencial;

· Apatia;

· Sentimento de inferioridade e menos valia;

· Medo de arriscar;

· Necessidade de aceitação pelo grupo;

· Expectativas com relação ao papel sexual (coisas de menino X coisas de meninas);

· Consideração da fantasia e imaginação como perda de tempo;

· Pressão por divergir das normas e ser diferente;

· Medo do fracasso;

· Dificuldade em reestruturar um problema, vendo-o sob outro ponto de vista ou enfoque;

· Inabilidade para observar e isolar aspectos diversos de um problema;

· Dificuldade em reformular um julgamento formado a respeito de algo.

JP – Aulas mais criativas possibilitam melhores resultados na aprendizagem?

MSNP – Há vários estudos que mostram uma relação direta entre ensino criativo e desempenho escolar de qualidade. Para além da promoção de ótimos resultados na aprendizagem, inserir a criatividade na escola é fundamental para valorizar o elemento humano, o grande capital de que dispomos e o único capaz de criar o novo. Criatividade é tecnologia de ponta, como já disse, é a única possibilidade que temos de responder às vicissitudes da existência. É uma ferramenta poderosa que deveria ser valorizada em todos os contextos, para além do educacional. Acho a postura de desconsideração da criatividade e do talento, seja em que âmbito for, algo pouco inteligente.

JP – Existe alguma relação entre criatividade e quociente de inteligência, ou seja: alunos mais criativos apresentam maior QI?

MSNP – A relação criatividade e inteligência é controversa. Os estudos mostram uma relação não correspondente. Em pessoas muito inteligentes, nem sempre encontramos criatividade, mas, em pessoas criativas, sempre encontramos muita inteligência. O ensino criativo, portanto, não só promove a aprendizagem e a criatividade do aluno como favorece seus processos de construção do conhecimento. Só há vantagens em inserir a criatividade no contexto educacional.

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