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Edição 118 - Especial Dia do Professor-2015
14/10/2015
 
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José Luiz dos Santos: “O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno”

"Aprender é extremamente prazeroso", diz Santos

Autor: Arquivo pessoal


Graduado em física, mestre em ensino de física, José Luiz dos Santos está no magistério há 35 anos, com passagem em várias escolas públicas e particulares como professor de física e de matemática. Há 33 anos, trabalha no Colégio Brigadeiro Newton Braga (CBNB), instituição pública federal subordinada ao 3º Comando Aéreo Regional (Comar), do Comando da Aeronáutica, Ministério da Defesa, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele desempenha a função de coordenador de física, além de lecionar a disciplina a duas turmas do preparatório pré-militar — uma para concurso de nível fundamental e outra para o nível médio.

“O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno”, diz Santos, que descobriu o prazer de ajudar os outros a aprender quando ainda era aluno do ensino médio. “É esse elo fundamental que, bem preparado, utilizando as ferramentas adequadas, com os alunos sensibilizados para o aprendizado, é capaz de despertar no aluno o interesse para aprender.”

Antes da aposentadoria, prevista para o fim do próximo ano, Santos procura repassar sua experiência às novas gerações. Assim, hoje, dia 14, faz palestra no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus de Nilópolis: Trocando Experiências: uma Vivência de 35 Anos de Carteira Assinada como Docente na Educação Básica. O evento será realizado no auditório da instituição, às 16h30. (Fátima Schenini)

O que significa ser professor? O que o levou a escolher essa profissão?

— O professor é o agente mais importante entre o conhecimento e o aluno, é esse elo fundamental que, bem preparado, utilizando as ferramentas adequadas, com os alunos sensibilizados para o aprendizado, é capaz de despertar no aluno o interesse para aprender. Escolhi a profissão quando ainda era aluno do primeiro ano do ensino médio, antigo segundo grau, no CBNB, em 1975. Um amigo chegou ao colégio no meio do ano letivo, com muitas dificuldades em matemática. Eu o ajudei a tirar as notas necessárias para passar de ano. O fato de eu falar e ele aprender e de ver nele a felicidade de passar de ano foi gratificante.

Ao saber que eu ajudava um amigo de turma, minha mãe indicou-me ao filho de uma amiga. Ele faria uma prova de matemática e conseguiu boa nota depois de algumas aulas comigo. Foi meu primeiro “salário” como professor, minha primeira aula particular, efetivamente. Esse aluno indicou-me a um primo, que estava em recuperação em física. Depois de algumas aulas, ele obteve a aprovação. Pronto: eu me apaixonei por ajudar os outros a aprender.

Ainda no primeiro ano do segundo grau, na minha primeira aula de física, fiquei encantado com o fato de poder realizar medições e descrever objetos sem vê-los — medir a distância da Terra à Lua, a temperatura de uma estrela, o diâmetro da Via Láctea etc. Descrever o átomo sem nunca tê-lo visto e, ainda, descobrir que ele é constituído de partículas e que algumas dessas partículas são constituídas de outras. Juntei o gosto de ajudar os outros a aprender com a fascinação e o encantamento com essa bela e interessante ciência denominada física.

Você vai se aposentar no final de 2016. Qual o saldo da carreira?

— Sinto-me com o dever cumprido. Estudei em escolas públicas e retribuí à sociedade o investimento que ela, a sociedade, fez. Trabalhei tanto em escolas de comunidades quanto de pessoas com condições financeiras privilegiadas, sempre com o mesmo empenho e dedicação. Isso valeu a pena. Tenho a sensação do dever cumprido.

Por que resolveu fazer a palestra no IFRJ sobre a vivência como professor?

— O motivo foi o de realmente poder trocar experiências com futuros professores, falar das glórias, das dificuldades, dos sonhos, das realizações, das decepções. Enfim, 35 anos de estrada efetiva como professor.

Tem alguma mensagem para os estudantes de cursos de pedagogia ou de licenciatura, que serão professores das novas gerações?

— Dediquem-se à carreira que escolheram, tal como se os alunos fossem familiares queridos, sem perder de vista a condição de agentes sociais e sua importância. Outro fator é o de buscar efetivamente seus direitos políticos e trabalhistas, sem se deixar levar pelo “achismo”. Tenham sempre em mente que não é tanto o que vocês falam que ensinam, mas o comportamento e o compromisso com a profissão e com a sociedade que são capazes de ser exemplo. Lembrem-se dos professores que marcaram vocês positivamente. O que eles fizeram para marcar vocês? Façam o mesmo ou, ainda, façam melhor, pois vocês são jovens. E os jovens têm a característica de mudar e, sabendo, podem melhorar ainda mais.

Ao longo de sua vida profissional, constatou alguma mudança no comportamento dos alunos?

— Não vejo uma mudança no aluno, a não ser um imediatismo para respostas sem o devido aprofundamento e reflexões capazes de gerar o conhecimento. Vejo uma mudança em como os tratamos e, consequentemente, como eles reagem. Não acredito que os alunos de hoje tenham coisas mais interessantes em relação aos de antes. No meu tempo de infância e jovem, havia a “pelada” na rua, bolinhas de gude, pião, brincadeiras de pique, cantigas de ciranda e roda etc. Tudo isso era muito mais interessante e prazeroso do que estudar, mas assim mesmo tínhamos de estudar.

Estudar não é um ato natural nem prazeroso, mas aprender é extremamente prazeroso. Quem nunca passou por uma situação, geralmente em matemática, de ficar quebrando a cabeça para resolver um problema e, depois de certo tempo, conseguir resolvê-lo? Daí advém uma satisfação, uma superação que só quem passou pela experiência é que pode descrever. Os alunos de hoje não estão vivendo isso e não estão sendo devidamente cobrados.

Atualmente, há outro fator preponderante: a maioria dos pais trabalha ou os jovens não têm pai ou mãe, ou ambos, próximos. As famílias têm outras estruturas. Isso interfere diretamente na aprendizagem e na formação do caráter do jovem, o que se reflete no comportamento do aluno na sala de aula. Mas acho que o professor não é capaz — e nem deve — de suprir essa dificuldade. A sociedade, através de mecanismos dos estados e municípios, pode auxiliar melhor as famílias modernas, com os conselhos tutelares e agentes de assistência social, caso realmente essa desestruturação familiar ou social esteja interferindo na aprendizagem do aluno.

No interior do Piauí, a mãe de um estudante tornou-se alcoólatra ao ser abandonada pelo marido. Isso afetou o comportamento e a aprendizagem do filho. Com o apoio do conselho tutelar, ela deixou de beber e aprendeu uma profissão. O estudante voltou à escola e, consequentemente, seu rendimento melhorou. Outro caso, esse com maior visibilidade, ocorreu na Escola Estadual Augustinho Brandão, no município de Cocal dos Alves, na zona rural do Piauí. Era grande a dificuldade em convencer os pais, que queriam os filhos na lavoura, que o melhor para os jovens era estudar. Hoje, a escola é referência nacional.

Quais os planos para depois da aposentadoria?

— Estarei à disposição dos institutos que tenham cursos de licenciatura para uma troca de experiências com os futuros professores. Pretendo estudar física por conta própria e me dedicar à dissertação de mestrado que conclui em 2012, cujo tema é Cinemática das Corridas de Atletismo. Nela, com o meu orientador, o professor Carlos Eduardo Magalhães, é desenvolvida uma expressão matemática que permite a obtenção de parâmetros relevantes sobre um atleta, possível atleta ou pessoa comum. No caso de ser um atleta ou possível atleta, esses parâmetros são relevantes no seu desempenho.

É possível, nos estudos que pretendo desenvolver, ser aberta a possibilidade de fazer outros cursos, talvez um de doutorado. Sei que não vou parar de estudar e que não pretendo mais lecionar no ensino médio, pois sinto um distanciamento entre minha linguagem e a dos alunos. Ou seja, não estou conseguindo realizar o sonho do começo, lá em 1975, como eu gostaria e desejaria. Outra decisão importante é a de me dedicar à família.

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