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Edição 119 - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2015
10/11/2015
 
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Projeto da UnB atrai mulheres para os cursos de computação

O projeto Meninas na Computação é em parceria com escolas públicas do DF

O projeto Meninas na Computação é em parceria com escolas públicas do DF

Autor: Fátima Schenini


O século 21 inaugurou uma mudança no mundo das brincadeiras e do desenvolvimento da criatividade. Meninos e meninas descobriram possibilidades de diversão e de criação acessíveis em telefones celulares, tablets e computadores. Porém, na fase adulta, o mundo virtual e a curiosidade em explorar uma série de recursos tecnológicos parecem menos atrativos para as meninas. Por consequência, no momento de decidir a carreira profissional, elas pouco se interessam pelos cursos relacionados à área da computação.

Essa constatação levou três professores do Departamento da Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) a criar um projeto, em parceria com escolas públicas do Distrito Federal, destinado a atrair as mulheres para esse campo de conhecimento. Desde 2010, o projeto Meninas na Computação (meninas.comp) incentiva projetos de programação e desenvolvimento de softwares em escolas do ensino médio e mostra que a escolha da profissão independe de gênero. Professores e alunas do projeto apresentaram a questão ao público na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Brasília, de 19 a 25 de outubro último.

“Nosso objetivo é ampliar o número de mulheres na graduação”, explica a professora Maristela Terto de Holanda, uma das coordenadoras do projeto da UnB. Por isso, o slogan reforça a ideia de que “computação também é coisa de meninas”. Estudo de 2014 da UnB, orientado pelo professor Jan Mendonça Correa, apontou, com base em dados do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), que apenas 10% do total de alunos que ingressaram nos cursos de ciência da computação, licenciatura em computação e engenharia da computação são do gênero feminino.

Desigualdade — Essa desigualdade de gêneros é verificada na prática pela professora Aletéia Patrícia Favacho de Araújo, também coordenadora do projeto. “Na minha turma do segundo semestre de 2015, dos 55 alunos, há apenas uma mulher”, diz. Ela acredita em influência cultural para a representatividade menor de mulheres no campo da computação, realidade do Brasil e de outros países. Por isso, projetos como o da UnB também são desenvolvidos por universidades brasileiras e estrangeiras e contam com o incentivo das grandes empresas de informática, interessadas em profissionais mulheres na criação de softwares voltados para o público feminino.

As professoras explicam que não há motivo para essa diferença de gênero, uma vez que as mulheres podem ser tão boas ou melhores do que os homens no campo da computação. No início da computação, no período pós-Segunda Guerra Mundial, elas ocupavam posições de destaque na indústria computacional. Entre as mulheres de sucesso na computação, são exemplos Ada Lovelace, considerada a primeira programadora da história, reconhecida por ter escrito o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina, e Grace Hopper, a primeira programadora da Harvard Mark I, conhecida como a Mãe de Cobol. Ou seja, de uma linguagem de programação para o processamento de banco de dados comerciais.

Robôs — O projeto Meninas na Computação apoia atualmente oficinas de programação, criação de softwares e robótica no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, em Brasília. O professor de matemática Carlos Alberto Jesus de Oliveira é o responsável pelas atividades do projeto na escola, com aulas duas vezes por semana, em turno e contraturno. Sete alunas participam. “São as melhores alunas de matemática”, afirma. “Nosso objetivo é trabalhar a linguagem de programação, que engloba raciocínio lógico, e estruturação de dados.” De acordo com o professor, as alunas devem criar um software capaz de controlar os movimentos de um robô.

Um dos trabalhos desenvolvido pelas estudantes é a Casa Inteligente, que usa sensores para controle de luz e emissão de gás. Sem movimento de pessoas nos cômodos da casa, as luzes são automaticamente desligadas. Em caso de vazamento de gás, o sistema também é desligado e o dono da residência é avisado por mensagem. Todo esse sistema é alimentado por uma placa solar construída com lâmpadas de led, que consomem menos energia. Tudo feito pelas alunas. “Com esse projeto de automação residencial, é possível reduzir o gasto com energia elétrica e aumentar a segurança”, diz Carlos Alberto.

Os materiais usados pelas alunas são comprados com recursos obtidos pelo projeto da UnB. As estudantes também são convidadas a visitar os laboratórios de computação, de bioinformática e de engenharia da universidade.

Desafio — Ana Júlia Luziano Briceño, 15 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio, pensava em cursar ciência política, mas depois de participar do projeto está decidida a disputar vaga em mecatrônica. “Comecei a mexer com os robôs e agora quero continuar”, diz. “É um campo bastante desafiador, que exige esforço e várias tentativas para dar certo.”

Annelise Schulz dos Santos, 20 anos, decidiu pela área da ciência da computação depois de conhecer o projeto e participar de oficina durante a Semana Universitária na UnB, em 2013. A paixão pela computação vem desde que ela era pequena, mas o interesse pendia mais para os recursos do que pelas brincadeiras. “Eu gostava de escrever livros usando programas como o PowerPoint”, revela. “Organizava minha agenda no Excel, fazia amigos em chats on-line, assistia a vídeos de receita, fazia atividades em websites dos meus programas de TV preferidos, várias coisas além de só entretenimento.”

No momento, a estudante é bolsista do programa Ciência sem Fronteiras na City University of New York. Ela está otimista em relação às perspectivas de trabalho. “Não só há espaço, como há necessidade; precisamos de mentes criativas e inteligentes, que não são privilégios só masculinos”, comenta. Segundo Annelise, por falta de incentivo das escolas e das famílias, muitas meninas não sabem o que um cientista da computação faz. “E desconhecem o grande leque de oportunidades que essa profissão oferece”, afirma. “Então, pela falta de conhecimento e pela intimidante quantidade de homens, acabam seguindo carreiras mais conhecidas e misturadas.” (Rovênia Amorim)

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