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Edição 124 - Xadrez na Escola
25/04/2016
 
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Charles Moura Netto (CBX): “Xadrez é fácil e divertido de aprender”


Professor internacional de xadrez, membro da World Chess Federation (Fide) e vice-presidente financeiro da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX), Charles Moura Netto nega que o jogo seja difícil para as crianças. “Pelo contrário, é fácil e divertido de aprender”. Segundo Netto, como qualquer atividade, o xadrez sempre terá maior aceitação de uns e menor de outros. Porém, de uma forma geral, as crianças gostam muito e querem se divertir com o jogo. “O segredo é a metodologia e a didática na hora do ensino”, afirma.

Com graduação em educação física (licenciado e bacharel) e mestrado em educação ambiental, Netto exerce ainda a atividade de coordenador do Laboratório de Xadrez Pedagógico da Faculdade da Região Serrana (Farese), em Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo. Ele também é secretário de educação da cidade, considerada a capital capixaba do xadrez. “Em nosso município, o xadrez é incentivado das séries iniciais às finais”, diz. (Fátima Schenini)

Jornal do Professor – Quais os benefícios do xadrez para a aprendizagem?

Charles Moura Netto – A prática sistematizada do xadrez, de forma lúdico-pedagógica ou esportiva (alto rendimento), pode potencializar em seus praticantes várias habilidades cognitivas que, sem dúvida, contribuem para o processo de aprendizagem. Dentre vários benefícios podemos citar:

• Melhor capacidade de recuperação de informação já assimilada, bem como o uso de combinações desse conhecimento em modelos lógicos.

• Representação e concepção espaciais; uso da perspectiva, reconhecimento de posições e longitudes; capacidade de observação e inteligência espacial.

• Inteligência verbal; domínio da linguagem escrita: signos e símbolos.

• Desenvolvimento do autocontrole e da atenção; aplicação do pensamento aprofundado; trabalho dos contextos de superação de frustrações.

• Administração racional do tempo; busca de soluções em um período de tempo preestabelecido; concepção e representação temporais.

• Desenvolvimento da capacidade de tomada de decisões; autonomia de pensamento.

• Empenho pelo progresso contínuo; busca de melhores resultados.

• Personalidade autônoma, autoestima, realização pelas conquistas.

• Criatividade, imaginação e fantasia.

• Focalização – as crianças são instruídas sobre os benefícios de observar cuidadosamente e de se concentrar.

• Visualização – as crianças são estimuladas a imaginar uma sucessão de ações antes que elas aconteçam. O xadrez permite o fortalecimento da habilidade de visualização a partir da troca das peças de posição apenas mentalmente. Primeiro, com um movimento; depois, vários à frente.

• Previsão – as crianças são ensinadas a pensar e, então, agir. Com o passar do tempo, o xadrez ajuda a desenvolver a paciência e a atenção.

• Avaliação de opções – as crianças aprendem a não fazer a primeira coisa que surge em mente. Aprendem a identificar alternativas e a considerar os prós e os contras de várias ações.

• Análise concreta – os jogadores aprendem a avaliar os resultados de ações específicas e sequência de ações. Decisões são melhores quando guiadas pela lógica em vez do impulso.

• Pensamento abstrato – os aprendizes são ensinados a, periodicamente, deixar de lado os detalhes e considerar o quadro maior. Também aprendem a transpor padrões usados em um contexto para situações diferentes, mas relacionadas.

• Planejamento – as crianças são ensinadas a desenvolver metas de objetivos mais longos e dar os passos necessários para concretizá-los. Elas também são ensinadas sobre a necessidade de reavaliar seus planos de acordo com novos contextos desenvolvidos que alterem a situação.

• Trabalho com considerações múltiplas simultâneas – os alunos são incentivados a não se deixar absorver demais em apenas uma consideração, mas a tentar pesar diversos fatores, todos de uma vez.

• Cognição - recuperação mais ágil e coordenada de informações já armazenadas, para solução de situações enfrentadas no dia a dia, inclusive nas partidas de xadrez.

É importante que o jogo seja estimulado nas escolas? Essa opinião é compartilhada pela Confederação Brasileira de Xadrez?

– Como atividade milenar, estruturada em torno de uma federação internacional que congrega mais de 150 países, e contando com aproximadamente 600 milhões de praticantes em todo o planeta, certamente o jogo deve ser considerado relevante. O xadrez tem adquirido grande importância no âmbito educacional. É usado como instrumento social e didático-pedagógico. Muitos países já o adotam como ferramenta pedagógica pelo fato de o xadrez ser uma importante ferramenta de ensino-aprendizagem em diversas áreas de conhecimento. O raciocínio é elemento de grande fator para que a cidadania se efetive. Nesse contexto, o xadrez proporciona habilidades, não apenas em raciocínio.

A prática do xadrez, segundo vários pesquisadores, possibilita capacidades que podem ser benéficas para os alunos em salas de aulas. Estas habilidades são relevantes num desenvolvimento cognitivo global. As crianças que praticam alguma atividade lúdica na infância se tornam adultos mais interessados e criativos. Com base nesse pensamento, seguimos os princípios de Jean Piaget [1896-1980], que relaciona os jogos na infância com um fator de formação do adulto. Segundo ele, “o jogo constitui o polo extremo da assimilação da realidade no ego, tendo relação com a imaginação criativa que será fonte de todo o pensamento e raciocínio posterior”. A prática do jogo quando criança permite desenvolver nos adultos a capacidade de autocontrole, de tomada de decisões e de raciocínio.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, “no ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos, os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar, as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhe deram origem, sabendo que estão brincando”. Em outras palavras, ao brincar, as crianças adquirem possibilidades de estabelecer relações com si mesmas e com os outros.

O brincar é direito de todas as crianças, assegurado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente. O Capítulo II, art. 16°, inciso IV, acrescenta que toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e divertir-se. Nas brincadeiras, elas recriam situações que a favorecem na vida social e escolar. Os jogos inseridos na educação favorecem a capacidade do aluno de criar novas situações que permitam a aquisição de habilidades no contexto escolar.

De acordo com o professor Marcos T. Pinheiro de Almeida, a brincadeira se caracteriza por alguma estruturação e pelo uso de regras. A brincadeira é uma atividade que pode ser tanto coletiva quanto individual. Na brincadeira, a existência de regras não limita a ação lúdica. A criança pode modificá-la, ausentar-se quando desejar, incluir novos membros, modificar as próprias regras. Enfim, existe maior liberdade de ação para as crianças. Ao praticar alguma atividade que envolva brincadeira, mesmo contendo regras, as crianças estarão praticando atividades lúdicas e, consequentemente, mais interessadas e atentas estarão ao que o professor deseja. Entre as brincadeiras que podem ser usadas em sala de aula como atividades lúdicas que favoreçam o ensino-aprendizagem e a capacidade de cognição dos alunos está o xadrez. Os estudantes estarão brincando com o jogo, com suas peças e, ao mesmo tempo, aprendendo um conteúdo.

A Confederação Brasileira de Xadrez compartilha dessa ideia, pois tem a convicção da importância do ensino de xadrez nas escolas para os alunos. Ao longo da sua história, a confederação tem desenvolvido, em parceria com o terceiro setor e com os ministérios do Esporte e da Educação, inúmeras iniciativas para estimular a prática do jogo em ambientes formais e informais de educação, além de organizar e promover torneios para estimular ainda mais a prática entre crianças em idade escolar.

O xadrez não é um jogo muito difícil para crianças? Há técnicas específicas para ensiná-lo?

– O xadrez não é um jogo difícil, pelo contrário. É fácil e divertido de aprender. Como qualquer atividade, sempre terá maior aceitabilidade de uns e menor de outros. Porém, de uma forma geral, as crianças gostam muito e querem se divertir com o xadrez. O segredo é a metodologia e a didática na hora do ensino, pois o professor tem o poder de transformar a aprendizagem em algo convidativo, aguçando na criança o desejo de querer mais e mais.

O xadrez faz parte das atividades desenvolvidas nas escolas de Santa Maria de Jetibá?

– Sim, Santa Maria de Jetibá é considerada a capital estadual do xadrez. Em nosso município, o jogo é incentivado desde as séries iniciais até as finais. A partir de 2006, o município inseriu o xadrez na cultura municipal. Foram os primeiros passos para se tornar a cidade que pensa o xadrez. Para incentivar essa nova prática, que começava a florescer no município, a Câmara de Vereadores aprovou a Lei Municipal nº 1000/2007, que dispõe sobre o ensino do xadrez nas escolas da rede municipal de ensino e cria o Projeto de Xadrez Escolar – Pró-Chess. Esta mesma lei previu a criação do Clube de Xadrez. A partir disso, as escolas da rede passaram a desenvolver o projeto, com uma aula semanal.

Para auxiliar as escolas, a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, através do Clube de Xadrez, entrou em parceria no projeto ao oferecer curso de capacitação para os professores da rede. Além da capacitação, a parceria entre as secretarias municipais de Educação e de Esportes e Lazer proporcionou visitas de uma equipe às escolas para incentivar o ensino do xadrez, com a realização de torneios escolares. Atualmente, o município é sede da CBX.

A CBX incentiva, de algum modo, a formação de professores de xadrez? De que forma?

A Confederação Brasileira de Xadrez tem como uma de suas metas multiplicar o número de professores de xadrez no Brasil. Queremos que todos os cidadãos tenham a oportunidade de praticar a modalidade. A confederação é pioneira, em parceria com a Faculdade da Região Serrana, em pós-graduações em xadrez pedagógico. Está disponível na internet uma plataforma com vários cursos de xadrez, tanto para iniciantes quanto para alunos mais avançados. Também são promovidas capacitações de xadrez em várias secretarias de educação do país.

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