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JORNAL
Edição 120 - Prêmio Professores do Brasil-2015
09/12/2015
 
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Christianne Medeiros Cavalcante (UFRN): “Projetos constituem um processo de construção de conhecimento dentro do processo de ensino e aprendizagem”

Para Christianne, a relação interpessoal é fator relevante no trabalho com projetos

Para Christianne, a relação interpessoal é fator relevante no trabalho com projetos

Autor:Arquivo pessoal


Professora no curso de pedagogia e chefe adjunta do Departamento de Educação do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres), campus de Caicó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Christianne Medeiros Cavalcante tem experiência de 22 anos como professora da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Sua prática na educação básica foi marcada pela preocupação com a aprendizagem significativa dos alunos, com opção pelo trabalho com projetos. Considera-se como aprendizagem significativa o processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva, não-literal, e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo.

Com licenciatura em pedagogia, Christianne tem mestrado e doutorado em educação. Em sua dissertação de mestrado na UFRN, Ensinando – Pensando – Aprendendo: Prática de Projetos e Autoformação, ela aborda a experiência docente com projetos e demonstra sua viabilidade enquanto metodologia de ensino que possibilita o desenvolvimento do processo autoformativo do professor. Na tese de doutorado, Professoras e Projetos: Concepções e Práticas no Ensino Fundamental, Christianne analisa as práticas de professoras da rede pública que trabalham com projetos.

“Na atualidade, os projetos se tornaram uma possibilidade de trabalho educativo que promove alterações evidentes na rotina escolar, quanto à organização do tempo e do espaço, nos conteúdos disciplinares, na maneira de instrumentalizar o processo de avaliação e, nesse percurso, nas concepções dos professores”, afirma. Ela destaca a flexibilidade identificada no enfoque dado aos conteúdos e à maneira de trabalhá-los, que subsidia uma relação interativa entre o professor e aluno. “A relação interpessoal surgida com essa opção de trabalho é fator relevante”, enfatiza. “A confiança é ponto de partida para que o sujeito-aluno busque no sujeito-professor e nos demais colegas o auxílio necessário para atingir, de forma autônoma, o que ainda não conseguiu independentemente.” (Fátima Schenini)

Jornal do Professor O que são projetos pedagógicos e qual a contribuição que trazem para o processo de ensino-aprendizagem?

Christianne Medeiros Cavalcante – O termo projeto, em sua etimologia, quer dizer “lançar-se à frente”. Isto é, o desejo, a intenção de fazer alguma coisa, de agir. Mas é uma vontade que representa a necessidade de uma organização, principalmente quando nos referimos ao trabalho educativo, que é basicamente intencional. Implica um plano de trabalho que personifique as intenções. Os projetos constituem um conjunto de ideias e conhecimentos, procedimentos e habilidades, hábitos e atitudes; um processo de construção de conhecimento dentro do processo de ensino e aprendizagem; um processo de autoformação dentro de um processo de formação.

Particularmente, considero como uma prática didática, que assume três dimensões: pessoal, política e pedagógica. A dimensão pessoal envolve as ideias, objetivos de vida, de realização, que conferem ao ser humano a diferença entre ele e seus pares e entre ele e os demais seres vivos. Transposto para a dimensão pedagógica, designa a ação do professor e de seus alunos, que dão, juntos, significado às aprendizagens que se formam a partir dos objetivos traçados sobre os tema e problemas de estudo. A dimensão política envolve as justificativas da ação humana, a tomada de decisão por um dado caminho. Isto é, os motivos que conduzem um docente a optar por um dado caminho didático.

Na atualidade, os projetos tornaram-se uma possibilidade de trabalho educativo que promove alterações evidentes na rotina escolar quanto à organização do tempo e do espaço, nos conteúdos disciplinares, na maneira de instrumentalizar o processo de avaliação e, nesse percurso, nas concepções dos professores. Têm funcionado como impulsionadores do processo de formação docente voluntária, compreendendo a ideia de autoformação como um processo autônomo, mas não isolado, de formação do professor que necessita de diferentes aportes para se desenvolver. Compreende-se que a ação de sistematizar as situações de ensino, a partir de etapas que constituem o modelo projetivo, oferece a possibilidade de desenvolver aprendizagem não apenas no sujeito-aluno, mas, sobretudo, no sujeito-professor.

O trabalho com projetos ajuda a superar a perspectiva estreita do conhecimento compartimentado, que expressa as divisões e separações existentes na organização da sociedade contemporânea, especialmente as que marcam as relações de trabalho, quanto aos que idealizam e os que executam. Através do projeto, o aluno vivencia um processo de investigação, cujo tratamento e divulgação das informações produzidas colocam-se como aspectos relevantes no trabalho, além de objetivos para os professores. Pela flexibilidade que deles emana, quanto à forma de conceber e organizar o conhecimento, configura-se o trabalho com o projeto a partir de uma abordagem educativa, que percebe a organização dos conteúdos, pautado na ideia de unidade, desfragmentação, interdisciplinaridade. Com essa abordagem, os conteúdos tornam-se meios para alcançar os objetivos, não os próprios objetivos.

Há uma flexibilidade identificada no enfoque dado aos conteúdos e à maneira de trabalhá-los que subsidia uma relação interativa entre os dois extremos pessoais: professor e aluno. A relação interpessoal surgida com essa opção de trabalho é fator relevante, pois a confiança é ponto de partida para que o sujeito-aluno busque no sujeito-professor e nos demais colegas o auxílio necessário para atingir, de forma autônoma, o que ainda não conseguiu independentemente.

Como elaborar um projeto pedagógico? Há pontos que não podem ser esquecidos?

– A composição estratégica do projeto dá-se no encontro de sua perspectiva formativa de construção de conhecimentos por meio da investigação científica e a definição dos materiais curriculares que os apoiará. O projeto não constitui um recurso didático, mas uma perspectiva de ensino que tem uma concepção pedagógica própria. Consideradas as muitas publicações existentes, são de fácil acesso diferentes orientações para a sistematização de um projeto (tema, justificativa, objetivos, conteúdos, estratégias complementares à própria opção pelo projeto, sistemática de avaliação, produção final). Todavia, o que diferencia o trabalho com projeto é o fator problematização... Os sujeitos precisam vivenciar o problema para se lançarem em busca do conhecimento.

Os estudantes dos cursos de licenciatura saem preparados para o uso de projetos pedagógicos?

– Como formadora já há algum tempo, posso dizer que estão muitos frágeis os conhecimentos sobre o trabalho com projetos. Muitos fatores podem ser elencados, mas não vejo necessidade de apontar. O importante é reconhecer que é preciso um aprofundamento sobre esse tipo de trabalho, bem como de outras opões metodológicas, para que nossos alunos possam escolher seu percurso didático baseados em argumentos teóricos que subsidiem suas escolhas e suas práticas.

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