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JORNAL
Edição 39 - Professor X Leitura
18/05/2010
 
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Livros precisam ser mais baratos

Tânia Rösing criou as Jornadas Literárias de Passo Fundo

Tânia Rösing criou as Jornadas Literárias de Passo Fundo

Autor:Rafael Czamanski


Doutora em Teoria Literária, com graduação em letras e em pedagogia, a professora e pesquisadora da Universidade de Passo Fundo (RS), Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, coordena o Centro de Referência de Literatura e Multimeios da instituição.

Idealizadora e coordenadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo, ela integra o Comitê Assessor de Artes e Letras da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e o Conselho Diretivo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL).

De acordo com Tânia Rösing, os livros precisam ser disponibilizados em livrarias, mercados, e supermercados a preços acessíveis, para que as pessoas sejam estimuladas a incluí-los em sua cesta básica.

Jornal do Professor – Em sua opinião, o que seria necessário fazer para estimular a leitura em nosso país?

Tânia Rösing – A mídia brasileira ocupa tempo nobre para a divulgação de produtos que, na maioria das vezes, não visam à formação do indivíduo, muito menos do cidadão. Campanhas bem feitas, com forte apelo à importância da leitura tomada em sentido amplo – do impresso ao digital – poderão despertar o interesse de crianças, jovens e adultos sobre a leitura que circula por diferentes suportes.

Os livros precisam ser disponibilizados em livrarias, mercados, supermercados a preços módicos, estimulando as pessoas a incluí-los em sua cesta básica. Infelizmente, o livro ainda não é uma necessidade. A cadeia produtiva do livro não faz nenhum esforço para diminuir o preço do livro para estimular as pessoas a se envolverem com ele.

O mais importante, no entanto, é oferecer uma formação continuidade a professores e pais, capazes de transformá-los, primeiro, em leitores e, na seqüência, como mediadores de leitura. Esse processo deve ser permanente, duradouro. Se não forem desenvolvidos projetos piloto em que haja uma proximidade com os desejados agentes de leitura, essas pessoas não conseguirão seduzir outras pessoas para a leitura.

O setor empresarial, industrial, comercial deve participar desse esforço, contribuindo para a formação desses leitores que, certamente, transformar-se-ão em mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho.

Escola-família-sociedade precisam conscientizar-se de que as inovações tecnológicas passam pela leitura e pela escrita. Por isso mesmo, há que se investir na formação de leitores, de mediadores de leitura leitores.

JP – Como os professores e as escolas podem contribuir para formar jovens leitores?

TR – Devem constituir-se, primeiramente, como leitores. A partir do exemplo, do envolvimento com livros e materiais de leitura apresentados em diferentes suportes, da fala sobre suas experiências de leitura poderão fomentar a curiosidade dos alunos sobre determinados assuntos, sobre determinados livros, sobre possibilidades de navegar na internet para encontrar materiais sobre esse livro, sobre o tema determinado.

A riqueza de livros que está sendo disponibilizada pelo Ministério da Educação e pelo Ministério da Cultura para as escolas precisa ser dinamizada pelos professores, pelos responsáveis pelas bibliotecas escolares. É crime deixar livros em caixas, fechados, proibindo o acesso aos alunos.

Outra forma que pode ser utilizada pelos professores é a atitude perene de levantamento de interesses e necessidades dos jovens com os quais se relacionam. A partir desses dados, poderão indicar obras para leitura que possam envolvê-los.

JP – Os professores saem das universidades preparados para estimular a leitura entre seus alunos?

TR – Os alunos que frequentam as licenciaturas já ingressam nesses cursos desmotivados pela leitura. Não entendem que serão profissionais da leitura e da escrita em qualquer área do conhecimento. Se os professores universitários não se derem conta de que precisam despertar o gosto pela leitura, o que tem acontecido muito em nosso país e na América Latina como um todo, há que se criar programas de caráter nacional que possam despertá-los sobre o compromisso com a leitura, sobre o manuseio de livros em bibliotecas, sobre a leitura de textos em diferentes suportes, sobre a imprescindível necessidade de saber ler as manifestações artísticas e culturais.

Constata-se, no presente momento, que apenas uma minoria sai motivada pela leitura e pela escrita. É necessário deixar de lado a pressuposição de que os calouros ingressam na universidade sendo leitores e produtores de textos. Torna-se mais que urgente preparar esses jovens para a leitura e para a escrita.

JP – Diante de uma rotina de muitas atividades, como o professor pode inserir a prática da leitura no seu dia a dia?

TR – A “rotina” de muitas atividades precisa ser rompida com o oferecimento de materiais diferenciados para a leitura. Usar os recursos da publicidade, da propaganda surte efeitos inesperados. A leitura precisa ser entendida como uma necessidade de preparação do indivíduo e de desencadeamento do seu papel na sociedade. Novidades, descobertas científicas, poemas diferenciados, minicontos, textos de humor, tudo isso pode despertar o interesse pela leitura.

JP – Qual o papel da família para a formação do leitor?

TR – A família também não considera o livro uma necessidade. Preparar pais, cuidadores, avós é tarefa da escola. A disciplina na formação do indivíduo inclui momentos de leitura compartilhada. Aliás, momentos de leitura para ouvir, outros para ver, outros para brincar, outros para ler, outros, ainda, para compartilhar.

JP – A senhora é a criadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo, evento que se tornou conhecido nacionalmente. Qual seu objetivo com a criação das Jornadas?

TR – Há 29 anos, buscamos alcançar o mesmo objetivo: formar leitores literários, capazes de valorizar e de interpretar textos apresentados em distintos suportes e constituídos pelas manifestações artísticas e culturais. Trabalhamos do impresso ao digital.

JP – Quais as principais realizações, desde a criação, e os melhores resultados obtidos até agora pelas Jornadas?

TR – Ampliação do número de leitores multimidiais, reprodução de seminários de leitura paralelamente a feiras do livro na região, título de Passo Fundo como Capital Nacional da Literatura, a partir de pesquisa encomendada pela Câmara Sul-Rio-Grandense do Livro, Passo Fundo é a cidade que mais lê no país – 6,5 livros por pessoa ano, criação do Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura, criação do Programa Mundo da Leitura em televisão, criação da Jornadinha (evento paralelo à Jornada destinado a crianças e jovens – na última edição, participaram 17.000), prêmios nacionais, reconhecimento nacional e internacional, pesquisas publicadas sobre as diferentes ações.

JP – É importante realizar eventos como feiras de livros?

TR – É importante sim. Mas é necessário ter consciência de que a feira por si só não forma leitores. É mais que importante preparar os leitores para encontrar os autores do que um simples passeio entre livros.

JP – E na escola, que tipo de ação tem melhores resultados?

TR – As práticas leitoras multimidiais têm trazido novo ânimo a crianças e jovens para a leitura.

JP – Algumas pessoas e municípios têm criado ações para estimular a leitura. Há livros em paradas de ônibus, que podem ser lidos, gratuitamente, montagem de bibliotecas em periferias, entre outras iniciativas. O que a senhora acha disso?

TR – Qualquer iniciativa que ponha livros de qualidade indubitável nas mãos dos leitores e dos leitores em formação é válida.

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