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JORNAL
Edição 7 - Especial Dia do Professor
15/10/2008
 
ou

"Sistema de formação e piso salarial são avanços importantes", diz diretor geral da Unesco

Vincent Defourny

Vincent Defourny

Autor:UNESCO/Ricardo Labastier


Representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, Vincent Defourny, traça um panorama da profissão de educador tanto no Brasil quanto em outros países. Assumiu a Direção Interina do Escritório da UNESCO no Brasil em maio de 2006, sendo confirmado no posto pelo diretor geral, em 22 de agosto de 2007.

Nasceu na Bélgica, na cidade de Liège, em 30 de outubro de 1959. Tem doutorado em Comunicação pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, licenciatura em Comunicação Social pela mesma universidade, diploma para o ensino de Ciências Sociais e formação universitária de base em Ciências Econômicas, Política e Sociais.

JP - No dia 5 de outubro é celebrado o Dia Mundial do Professor e no dia 15 de outubro celebramos o Dia do Professor no Brasil. Há o que comemorar?

VD - No âmbito da UNESCO, sempre que se aproxima o Dia do Professor, duas questões emergem naturalmente. A primeira refere-se ao reconhecimento a uma das profissões mais importantes do mundo sobre a qual pesa a responsabilidade pela educação de crianças, jovens e adultos. A segunda, que decorre da primeira, é que devido à grande responsabilidade e dimensão ética dessa profissão há a necessidade de se refletir em que medida os países estão atendendo as orientações da Recomendação UNESCO-OIT sobre a Situação do Pessoal Docente, aprovada há mais de 40 anos (1966) e que estabeleceu os princípios e diretrizes que devem reger a profissão docente, para que, de fato, ela viesse a ser dotada das condições necessárias para assegurar às crianças, jovens e adultos o direito a uma educação de qualidade e profundamente humana. No caso do Brasil, em que pese o quadro crítico dessa profissão que se arrasta há decênios, surgem na atualidade duas perspectivas promissoras que são a aprovação da Lei do Piso Salarial e a criação do Sistema Nacional de Formação de Professores. Ambas, a médio e longo prazo, poderão concorrer para a solução de um dos maiores desafios da política educacional brasileira, saldando desta forma, uma dívida histórica.

JP - De forma geral, qual o cenário global da profissão de professor?

VD - O cenário global não é promissor. Há um enorme percurso a ser feito. O processo de expansão da escolaridade não está sendo acompanhado por medidas que assegurem a qualidade. Esta, por sua vez, vincula-se diretamente à qualidade da formação do magistério e às condições de trabalho proporcionadas pelos sistemas de educação. Em suma, sem professores bem formados e condignamente remunerados não se pode esperar resultados satisfatórios. O mais grave desse quadro é o de aumentar a distância dos mais pobres com relação aos bens civilizatórios que poderiam ser colocados à disposição de todos. Não se pode perder de vista que estamos em uma sociedade do conhecimento e só uma escola pública de qualidade universal pode promover uma inclusão qualificada.

JP - A UNESCO estima que mais 18 milhões de professores sejam necessários para que a meta de Educação Primária Universal (EPU) seja atingida até 2015. O que precisa ser feito para atingir essa meta?

VD - Para atingir a meta de 2015 há a necessidade, por um lado, de aumentos progressivos dos investimentos em educação e, por outro, não menos importante, da aplicação dos recursos de forma competente, com base em critérios éticos e de responsabilidade pública. Todavia, para que isso aconteça, há a necessidade de ampla e permanente mobilização da sociedade de forma a mostrar o grande valor agregado da educação e seus retornos assegurados tanto para a melhoria de vida das pessoas quanto para a construção de cenários sociais pautados pelos valores da modernidade.

JP - O Brasil está conseguindo fazer a sua parte no sentido de alcançar esta meta?

VD - O lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e seus desdobramentos indicam uma nova direção da educação brasileira. O estabelecimento de metas para os estados, Distrito Federal, municípios e escolas, seguido de planos e repasses de recursos para o cumprimento das metas estabelecidas, constitui o caminho para um novo capítulo na história educacional do país. É certo que não se pode comemorar antes, até porque, em matéria de política educacional, os resultados não surgem por milagre. O único milagre possível é o de um trabalho continuado e permanentemente monitorado por vários anos com ampliação crescente dos recursos. Os desafios são enormes. Torna-se imperativo uma visão de longo prazo, não apenas dos dirigentes e dos políticos, mas de toda a sociedade.

JP - Em relação a outros países, em que patamar se encontram os professores do Brasil?

VD - Com a aprovação da Lei do Piso e a criação do Sistema Nacional de Formação, as perspectivas se ampliaram. Alguns estados e municípios já estão procurando oferecer condições melhores de salários e condições de trabalho. A postura do MEC, inclusive mais recentemente, colocando experiência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no circuito da política educacional, significa que o Ministério está procurando mobilizar novos mecanismos para enfrentar o desafio. Destaque-se nessa direção o papel que passam a ter as universidades públicas, sobretudo as federais, que estão recebendo recursos para ampliar os cursos de licenciatura e oferecer programas permanentes de aperfeiçoamento docente. Além disso, observa-se hoje maior lucidez política de segmentos importantes para tornar a educação uma das principais prioridades do país, como o movimento Todos pela Educação, e também os meios de comunicação que estão disponibilizando espaços importantes com vistas a mostrar a relevância da educação para o país.

JP - Quais as perspectivas de futuro para quem está entrando na carreira?

VD - Nesse cenário, e por essas novas condições e perspectivas para a formação do professor no Brasil e para um melhor desempenho de suas funções na sociedade, é que as perspectivas para um jovem egresso do ensino médio que optar pela carreira docente são bem mais promissoras. Com a valorização da carreira no âmbito governamental e a reconquista do respeito e reconhecimento que a profissão já teve no Brasil, em passado recente, acredito que haverá um futuro digno para os professores que se dedicarem a dar a sua contribuição para uma educação de qualidade. (Renata Chamarelli)

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