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Edição 4 - Família na Escola
30/08/2008
 
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A participação da família na escola

Reunião escolar

Reunião escolar

Autor: João Bittar


A educação perpassa tanto o ambiente escolar quanto o familiar. A interação entre ambos é muito importante para o sucesso do processo ensino-aprendizagem. Mas de que forma deve ocorrer a participação da família na escola? De que maneira a escola pode estimular a participação dos pais? Quais os principais resultados trazidos por essa participação?

Para responder a estas e outras perguntas, o Jornal do Professor ouviu a filósofa, mestre em educação, e pesquisadora em educação, Tania Zagury. Escritora com 13 livros publicados no Brasil e no exterior, Tania Zagury é casada e mãe de dois filhos.

Entre suas principais obras estão Educar sem Culpa – A Gênese da Ética; Limites sem Trauma - Construindo Cidadãos; Escola sem Conflito: Parceria com os pais; Os Direitos dos Pais – Construindo Cidadãos em Tempo de Crise; e O Professor Refém - Porque fracassa o ensino no Brasil.

 

JP - A senhora considera importante a participação da família na escola?

TZ - Sem dúvida alguma é muito importante.

 

JP - Por quê?

TZ - Na medida em que percebem que os pais acompanham o trabalho da escola e, além disso, supervisionam e acompanham seus estudos, o cumprimento de tarefas e também seus progressos e dificuldades, os filhos começam a compreender a importância que o saber – e a escola é o veículo primeiro desse saber - tem para a vida moderna, o que é essencial.

 

JP - Como deve ser essa participação? Atualmente, os pais se queixam muito de falta de tempo.

TZ - A participação não obrigatoriamente demanda muito tempo. Deve ser antes de tudo qualitativa, isto é, não é preciso ir à escola todos os dias, assumir funções em comissões ou algo assim; quem puder e quiser, pode fazê-lo, porém mais importante é deixar claro para os filhos que acreditam no trabalho da escola, que estudar não é opção, é obrigação e que os professores têm o apoio da família. Além disso, a supervisão às tarefas e a atenção que dão aos comunicados que o colégio envia, explicitam concretamente às crianças a dimensão que a família dá aos estudos. Atualmente o que a escola mais necessita ter é o apoio da família e da sociedade para poder fazer o seu trabalho de forma eficiente.

 

JP - Pais com pouca escolaridade podem participar da educação dos filhos?

TZ - Podem sim. Só não precisam, por exemplo, tirar dúvidas em questões que não estudaram, sem que isso lhes cause qualquer constrangimento. Além disso, a formação ética não demanda cultura, mas caráter. E nessa função ninguém tem mais força e importância do que pai e mãe.

 

JP - De que forma?

TZ – Podem, por exemplo, mostrar aos filhos a oportunidade que estão tendo e que eles, pais, não tiveram, Além disso, dando apoio ao trabalho da escola e acompanhando em casa o cumprimento de tarefas e horários de estudo. Para isso não é necessário dominar o conteúdo, basta ser pai, confiar na escola e exigir a contrapartida dos filhos. Um nível saudável de exigência só faz bem... Uma ótima contribuição que os pais podem dar: mostrar aos filhos que sem esforço não se consegue nada na vida.

 

JP - Quais são os principais resultados trazidos pela participação dos pais?

TZ – Primeiro a revalorização do saber; os filhos compreendem que estudar é importante; segundo: tendo mais contato com o trabalho que a escola desenvolve, os pais compreendem melhor as dificuldades e os empecilhos que existem no processo de ensinar e aprender, tornando-se mais aptos a colaborar; um terceiro resultado positivo é indireto: demonstrando confiar na escola, os pais ajudam a reconstruir a autoridade do professor, hoje um item fundamental para que a aprendizagem possa ocorrer. Quando os alunos não confiam e/ou não respeitam os docentes, não aprendem. Pais que vivem questionando, criticando e superprotegendo os filhos, não percebem que, de certa forma, incentivam a indisciplina e a desmotivação. É claro que estou me referindo às críticas feitas inadequada e constantemente, e sem base concreta. Todo mundo pode errar; professor também. A forma pela qual se faz a crítica é que faz diferença.

 

JP - Uma criança com pais participativos terá melhores resultados do que outra com pais indiferentes ao processo escolar?

TZ - Em se tratando de seres humanos é sempre temerário fazer afirmativas categóricas, mas eu poderia afirmar sem receio de ser leviana que, nesse caso em especial, as chances de sucesso da criança são muito maiores.

 

JP - Alguns pais acreditam que colaborar em atividades que visem arrecadar dinheiro para a escola, ou fazer trabalhos de conservação, pintura etc., basta para ter participação na escola. Por outro lado, alguns educadores defendem uma participação mais efetiva da família no processo ensino-aprendizagem. Como a senhora vê essa questão e de que forma ela se daria?

TZ - Creio que a participação mais efetiva, como já afirmei, é de fato o apoio à escola como instituição de ensino, especialmente nesse momento em que a imagem do professor está tão enfraquecida. Não significa que a escola esteja acima de qualquer avaliação ou crítica, de forma alguma. Refiro-me ao processo de desconfiança mútua que se estabeleceu entre família e escola, que tem trazido sérios prejuízos especialmente para as crianças, como mostrei em meu livro "Escola sem Conflito, Parceria com os Pais". É um círculo vicioso que precisamos romper. E nisso os pais podem ajudar muitíssimo. Afinal, qual a criança ou jovem que vai à escola motivado, se, em casa, os pais são os primeiros a criticar, a falar mal e a desautorizá-la?

 

JP - A senhora acredita que as escolas estão preparadas para uma maior participação dos pais?

TZ – Esse é o outro lado da moeda: a convivência sem conflitos entre família e escola só é possível se houver uma relação mútua de confiança; quer dizer, nem os pais devem criticar sem conhecer realmente o que está ocorrendo, nem a escola pode tratar os pais como "intrusos" ou considerar sua presença incômoda; ouvir com atenção o que a família reporta é fundamental; aliás ouvir e considerar, não apenas ouvir. É superimportante levar em conta relatos, reivindicações e sugestões; se os pais sentem que não estão falando com as paredes, tendem, cada vez mais, a confiar; e vice-versa. É preciso, no entanto, que a equipe técnico-pedagógica ouça, analise e dê um retorno. Mesmo quando não se aceita uma sugestão, se isso é explicitado de forma técnica mas compreensível, costuma funcionar bem. A adesão dos pais é essencial e começa no momento em que se sentem aceitos e respeitados. Como todas as pessoas querem se sentir, não é mesmo?

 

JP - De que forma os diretores e professores podem estimular a participação dos pais?

TZ - Tendo um sistema organizado de recepção aos pais. Significa dizer que a escola se organiza para recebê-los sempre que sintam necessidade de falar, reclamar ou trocar idéias. Por outro lado, esse esquema ajuda a perceber que ali há uma organização e pessoas trabalhando de forma técnica, que os receberá amistosa e abertamente. É preciso transparecer que quem os ouve são profissionais, que como tal, só farão o que realmente for útil e viável para os alunos como um todo. É comum os pais trazerem informações importantes; fatos que ocorrem nos corredores ou na hora da saída como situações de bullying, por exemplo, podem vir à tona. São coisas que a escola tem dificuldade em saber, porque sempre ocorrem em surdina. Pais atentos por vezes têm acesso a informações que a escola não tem. A colaboração que a família pode dar é muito grande, portanto; sem falar em iniciativas que levam à modernização de infra-estrutura, enriquecimento de acervos, biblioteca, além de depoimentos profissionais, etc.

 

JP - Os pais devem participar da formulação das políticas públicas na área educacional? De que modo?

TZ - O MEC já promoveu algumas pesquisas de opinião junto a pais de alunos, em pelo menos duas ocasiões. Li e analisei alguns desses estudos, que trouxeram à luz dados importantíssimos. Por exemplo: os pais querem uma escola com mais autoridade; professores qualificados e que exijam resultados dos alunos. O desejo de dar um futuro melhor aos filhos faz com que, mesmo os que não têm muito estudo, tenham competência para opinar, competência essa gerada pelo amor, que lhes clarifica caminhos que por vezes, os melhores especialistas custam a perceber. Eles sabem onde estão as falhas e as apontam sem medo, porque é o destino de suas crianças que está em jogo.

 

JP - Outras observações sobre o assunto.

TZ - Só tenho um aspecto a ressalvar, de tudo o que coloquei: a família deve ser recebida, ouvida e deve participar. Porém isso não significa nem pode ser confundido com direito de tomar decisões por ou pela escola. Cada uma dessas duas instituições fundamentais tem um papel pelo qual é responsável. Família tem poder decisório e autoridade em casa; a escola tem que ter autonomia na sua função decisória, muito embora os pais possam opinar e participar. Em última análise, quem deve ter a palavra final sobre o que deve ser feito ou mudado na escola, são as equipes pedagógicas e os docentes. Afinal, somos ou não profissionais da educação?

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