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JORNAL
Edição 23 - Aperfeiçoamento de Professores
21/07/2009
 
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Carlos Roberto Jamil Cury: cabe aos poderes públicos oferecer oportunidades gratuitas e planejadas para a formação continuada

O professor Carlos Roberto Jamil Cury integra o Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Capes.

O professor Carlos Roberto Jamil Cury integra o Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Capes.

Autor: Arquivo pessoal


Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Carlos Roberto Jamil Cury integra o Conselho Técnico Científico da Educação Básica da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). Também é membro da Câmara de Ciências Humanas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

Professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde recebeu o título de professor emérito, Jamil Cury foi presidente da Capes, em 2003, e da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, em dois períodos: entre 1996 e 1998 e 2002 e 2003.

Doutor em educação, graduado em filosofia, fez estudos de pós-doutoramento na França. É especialista em políticas públicas na área de educação no Brasil.

Jornal do Professor – Qual é a importância da formação dos professores para a melhoria da aprendizagem?

Carlos Roberto Jamil Cury – A aprendizagem dos alunos é que justifica a existência do docente no âmbito da educação pública. A aprendizagem é o núcleo do direito à educação. Portanto, a capacidade de ensinar deve estar à altura desse direito e do preenchimento desse dever. E como o ensino não é algo que conquista por osmose, a formação inicial é crucial para uma formação teoricamente sólida e articulada com as injunções da prática profissional.

JP – O que o senhor pensa do Plano Nacional de Formação de Professores de Educação Básica, criado pelo MEC? Trará benefícios?

CRJC – Um Plano Nacional implica a presença proativa da União. Até hoje, por tradição e por interpretação legal, tal presença, quando muito, foi apenas supletiva. Com isso, se perdeu o concurso da União nesse assunto.

Logicamente, como o próprio Plano prevê, trata - se de algo que os Estados deverão acompanhar por meio de adesão voluntária. É um pequeno passo na direção de um aspecto do regime de colaboração tão falado e pouco executado.

JP – Existem muitos professores que não têm curso superior mas têm anos de prática. O senhor acredita que o fato de um professor fazer um curso superior pode contribuir para a melhoria da aprendizagem dos alunos? De que forma?

CRJC – A pergunta fala em "contribuir" para a melhoria. Logicamente que contribui. Abre vias para novas perspectivas, atualiza conhecimentos e aumenta a auto estima pelo valor simbólico que o diploma superior representa. Contudo, a prática profissional é fonte de saberes. A experiência por vezes corrige dimensões teóricas e dá a essas a oportunidade de se repensar. A questão é como colher os saberes nascidos do fazer, sistematizá-los e depois, metodologicamente, irradiá-los.

JP – No caso de professores que lecionam em áreas diferentes daquela em que se formaram, o senhor considera importante e necessário que cursem uma segunda licenciatura, com habilitação específica para a disciplina onde já dão aulas?

CRJC – O problema é que, apesar das diretrizes curriculares das licenciaturas incitarem os projetos pedagógicos a se constituírem por áreas dado o avanço epistemológico atual, nossa tradição é fortemente disciplinar. Claro que uma disciplina dá segurança, mas é preciso que ela se abra ao parentesco que ela possui com outras disciplinas congêneres e com a ligação com outras áreas.

Além disso, os projetos pedagógicos dos estabelecimentos são pensados como projetos coletivos em cujo planejamento dar-se-ia a tessitura pela interdisciplinaridade. Acrescente-se a isso a urgência de uma formação continuada a partir dos projetos pedagógicos.

JP – Um professor com diploma de bacharelado (e não de licenciatura) deve realizar estudos complementares que o habilitem ao exercício do magistério? Quais os principais benefícios advindos dessa decisão?

CRJC – O Conselho Nacional disciplinou essa matéria por meio de uma Resolução em 1997. Há vazios no Brasil em termos de professores cujos postos poderiam ser preenchidos por bacharéis de áreas contíguas que cursassem as exigências da Resolução. Com isso os discentes não ficariam com "janelas" no horários das aulas e teriam ao menos uma iniciação naquela área. A Resolução, contudo, era voltada para lugares carentes de professores profissionalizados pela licenciatura. Mas enquanto a docência continuar não atraente e tomada por uma intensificação de trabalho, haverá vazios e lacunas.

JP – Novas descobertas e tecnologias surgem a todo momento. Os professores devem acompanhar esses novos tempos? Como isso pode ser feito? É importante participar de cursos de atualização? Quem deve promover esses cursos e de que forma?

CRJC – A legislação e a normatização são claras a esse respeito: cabe aos poderes públicos oferecer oportunidades gratuitas e planejadas para a formação continuada, hoje indispensável por conta da obscelecência de muitos conhecimentos, da necessidade de encontro entre docentes e da análise crítica da realidade. Por outro lado, a formação inicial deve provocar o "aprender a aprender" como método. Isso implica o esforço proativo do professor para usufruir das possibilidades que a internet oferece.

JP – O senhor gostaria de incluir alguma pergunta que não foi formulada?

CRJC – Se não houver um esforço consciente e consistente para a valorização dos professores, inclusive com remuneração condigna e atraente, esse espaço, de um lado, sofrerá vazios significativos e, de outro lado, favorecerá o distanciamento entre autoridades e associações representativas.

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