01/08/2010
Claudia Helena Azevedo Alvarenga
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Compreensão da música como produto cultural e histórico |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Expressão e comunicação em música: improvisação, composição e interpretação |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Cultura e diversidade cultural |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical |
Ensino Médio | Artes | Música: Canal |
Ensino Médio | Artes | Música: Contextualização |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas morfológicas |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Artes | Música: desenvolvimento da linguagem musical |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas sintáticas |
Caro(a) professor(a), nesta série de aulas abordaremos alguns dos aspectos pedagógicos envolvidos no processo coletivo de criação de canções em sala de aula. Por meio de recursos simples de autoconhecimento da voz e da comunicação cotidiana, é possível introduzir na prática musical dos alunos a criação de suas próprias canções.
Da mesma maneira como a criança se permite riscar o papel em suas primeiras ‘garatujas’ e desenhos, acreditamos ser possível incentivar jovens e crianças a produzir e a organizar seus próprios sons cantados. Muitas vezes a cobrança por um ‘resultado’ prático, ‘bonito’ e condizente com os padrões identificados nos meios de comunicação, sabota um processo de descoberta do som, de possibilidade do erro, do esboço e do ‘brincar’. Compreendemos a canção como ‘brinquedo’, como uma estrutura com a qual desde cedo estamos acostumados, mas que pode ser desmontada, reinventada, experimentada. O percurso de descoberta é salutar para o desenvolvimento cognitivo e expressivo.
Conceitualmente, propomos uma perspectiva de música contemporânea na abordagem da canção popular. Historicamente, a entrada dos compositores contemporâneos, como Schafer e Koellreutter, no campo da educação musical, contribuiu para uma ampliação do conceito de música ao considerar que qualquer som pode ser organizado com intencionalidade musical. No entanto, no Brasil, esta abertura de pensamento, em geral, não faz parte do cotidiano musical do público não especializado que, na maioria das vezes, relaciona-se com música por meio da canção popular através de uma cultura de tradição oral e midiática, por exemplo: Tv aberta, rádios populares e comunitárias, internet etc. Para esta grande audiência, a canção é um dado, um objeto pronto, acabado, figurativo e dotado de padrões, ou seja, tudo aquilo que não se enquadra, não é ou não tem semelhança com o que é considerado tradicionalmente como música.
Esta série de aulas tem por finalidade contribuir para uma compreensão crítica sobre as maneiras como a criança e o jovem de hoje se relacionam com música. Acreditamos que com isso podemos estimular uma relação com música para além da reprodução de um repertório já conhecido. Com este intuito, sugerimos que seja incentivado nas aulas de música o aproveitamento do conhecimento musical informal por meio de discussão, análise e transformação deste material. Sem desconsiderar as especificidades técnicas e estéticas do fazer musical, a criação coletiva de canções, quando abordada em uma perspectiva crítica, é um instrumento provocador de insights e ‘leituras de mundo’.
Afinal, como são compostas canções de funk, pagode, rap, bossa nova, mpb, pop, rock e outros gêneros populares? Como é possível compor um verso, um refrão, como o que ouvimos comumente em nossos ipods (mp3 player)? O que envolve este tipo de criação? Que características melódicas, rítmicas, poéticas, harmônicas e interpretativas, encontramos em cada estilo? Qualquer pessoa pode compor uma canção ou é algo destinado apenas a alguns poucos talentos iluminados? Qual o sentido de compor uma canção hoje? É relevante? O que pode expressar? É possível compor uma canção mesmo com pouco conhecimento técnico e recursos limitados?
Nesta série de aulas propomos problematizar aspectos como estes e desafiar o professor a levantar outros tópicos para discussão com seus alunos. Ao esboçar respostas através de uma atividade prática de criação de canções, sugerimos aos educadores que reflitam sobre a necessidade constante de busca por uma ação musical significativa construída junto aos seus alunos.
Para uma pesquisa inicial sobre canção e sua história, vide links 1, 2 e 3 em Recursos Complementares.
Sobre práticas de criação em música, vide links 4 e 5 em Recursos Complementares.
Sobre ritmo e gênero musical, vide links 6, 7 e 8 em Recursos Complementares.
Professor(a), inicie uma discussão a respeito de estilos musicais que os alunos conhecem e elabore uma lista com as suas sugestões.
Pergunte sobre características que diferenciam um tipo de música de outro. Algumas possíveis: instrumentação, texto, função, estrutura, contextualização, etc.
E o ritmo? O tipo de acompanhamento rítmico de uma música também caracteriza uma diferença de estilo?
Apresente aos alunos os seguintes exemplos:
Villa-Lobos
Na versão original do Trenzinho Caipira de Villa-Lobos, o compositor constrói a narrativa sonora inspirado nas características do movimento de uma locomotiva. Os efeitos são obtidos através de diversos recursos expressivos com instrumentos da orquestra e se distinguem tanto pelo aspecto timbrístico, quanto pela rítmica. Por exemplo: sopros que alternam entre um papel melódico e efeitos de apito do trem na estação; percussões que simulam o impacto das rodas sobre os trilhos e ao mesmo tempo reproduzem andamentos variados de aceleração e desaceleração do trem, etc.
A versão do grupo Tira Poeira apresenta uma série de possibilidades de efeitos com instrumentos típicos de um regional de choro: pandeiro, violões, bandolim, além do sax soprano (mais contemporâneo). De imediato, percebemos que o arranjo mantém um dos aspectos principais da obra: a simulação do movimento do trem. Para obter este efeito, os músicos subvertem, em alguns momentos, a forma de tocar os instrumentos. Por exemplo, raspando, abafando e rasgueando as cordas dos violões e do bandolim, batucando no tampo, etc. O pandeiro assume as funções de conduzir as variações de andamento e de reforçar a sonoridade dos "trilhos" e, para tanto, exigem bastante virtuosismo do instrumentista. Já o sax soprano, desenha a linha melódica principal, bem como os efeitos de apito de chegada e partida do trem. Uma outra característica do arranjo do Tira Poeira é a incorporação do improviso e de variações sobre o material original, aproximando a performance do universo do jazz e da experimentação.
No terceiro exemplo, a música de Villa-Lobos é apresentada em formato canção (com letra de Ferreira Gullar), em uma versão pop. São utilizados diversos clichês do estilo: batida eletrônica constante; vibratos na voz, timbre e sotaque vocal típicos de cantoras da música pop americana; repetições de letra, etc. Efeitos de sintetizador simulam o apito de trem, que é praticamente o único elemento da versão original que se mantém. Já não há variações de andamento, destacando-se no arranjo seu caráter dançante. Podemos observar nesta versão, para além de juízos sobre o mérito nas soluções sonoras, um deslocamento simbólico dos sentidos da música original de Villa-Lobos, por se tratar de uma associação um tanto inusitada de estilos.
É muito interessante discutir com os alunos como estas versões podem apresentar efeitos ao mesmo tempo diversos, do ponto de vista semântico, e parecidos, mesmo com instrumentações muito distintas. Em ambas as versões, trata-se do imaginário de um trem em movimento representado através de sons, seja em uma perspectiva realista ou como mero pretexto para uma citação conceitual.
Proponha um novo exercício de audição, agora com estes outros links abaixo:
Tom Jobim
Nestes exemplos, percebemos como a versão rock da música Wave de Tom Jobim também realça clichês do estilo: guitarras pesadas, acompanhamento rítmico da bateria, timbre de guitarra-solo, etc. O objetivo destas comparações é mostrar aos alunos que as composições não são algo fechado, imutável. Não estamos avaliando o grau de criatividade da versão rock, mas sim, observando este material como exercício, como pesquisa por maneiras diversas de transformar elementos musicais e principalmente, criar novas composições.
Professor(a), incentive a liberdade da experimentação de processos e seus efeitos, sem antecipar hierarquizações entre padrões e referências estéticas. Instigue os alunos a pesquisarem outras combinações possíveis ou versões diferentes de músicas que já conhecem. Aos poucos, as descobertas e constantes exercícios de comparações e análises formam a base para uma leitura crítica e uma audição mais aguçada.
Acrescente à discussão um debate breve sobre a figura do DJ, artista contemporâneo que tem por prática a manipulação de material musical pré-gravado, transformando muitas vezes a ´batida´ do acompanhamento. O DJ é um músico? O que ele faz é música?
Professor(a), apresente aos alunos a canção "Cirandeiro" de Edu Lobo: http://www.youtube.com/watch?v=EYpaoRCDbGM
Edu Lobo
Sobre ciranda, vide links 9 e 10, em Recursos Complementares.
Distribua a letra da música e cante com os alunos:
Cirandeiro
Ó cirandeiro
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
Ó cirandeiro,
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
A ciranda de estrelas
Caminhando pelo céu
É o luar da lua cheia
É o farol de Santarém
Não é lua nem estrela
É saudade clareando
Nos olhinhos de meu bem
É saudade clareando
Nos olhinhos de meu bem
Ó cirandeiro, ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
Ó cirandeiro,
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
A ciranda de sereno
Visitando a madrugada
O espanto achei dormindo
Nos sonhos da namorada
Que serena dorme e sonha
Carregada pelo vento
Num andor de nuvem clara
Carregada pelo vento
Num andor de nuvem clara
Ó cirandeiro
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
Ó cirandeiro,
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
São sete estrelas correndo
Sete juras a jurar
Três Marias, Três Marias
Se cuidem de bom cuidar
No amor e o juramento
Que a estrela D'alva chora
De nos sete acreditar
Que a estrela D'alva chora
De nos sete acreditar
Ó cirandeiro,
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
Ó cirandeiro,
Ó cirandeiro, ó
A pedra do teu anel
Brilha mais do que o sol
Depois de cantar algumas vezes, analise com os alunos a forma da música. Esta apresenta a seguinte sequência: Refrão, Parte A, Refrão, Parte B, Refrão, Parte C, Refrão. O refrão é uma ciranda tradicional do Recife enquanto a composição de Edu Lobo se restringe às partes A, B e C.
Instigue os alunos: "se vocês fossem os compositores, de que maneira poderiam transformar esta música?".
Debata as ideias que surgirem e estabeleça uma lista de possibilidades imaginadas pelos alunos de modificação do material musical. Vale destacar, que a própria versão inicial é o resultado de transformações que a música sofre na prática popular ao longo de muitos anos. Este aspecto em constante movimento se relaciona com a noção de que a cultura não é algo estável ou imóvel, mas uma complexidade de elementos em contínuo processo de mudanças.
Proponha aos alunos que transformem a música do Cirandeiro, mantendo apenas sua forma e palavras-chave da letra. Outros aspectos como melodia, rítmica, acompanhamento, frases do texto e estilo, deverão ser modificados pelos alunos. Não é necessário se ater a quaisquer características da versão inicial. Construa um banco com as palavras-chave, por exemplo: cirandeiro, pedra, anel, sol, sereno, madrugada, namorada, sonhos etc.
Dica:
Para a construção de um banco de palavras, veja a Atividade 2 da aula:
Conceitos de Música – cultura e significado - aula 4 - http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19050
Para tornar o jogo mais motivador, proponha aos alunos trabalhar com um número mínimo de palavras na nova composição. Por exemplo, se o banco criado possui 24 palavras, peça que a composição dos alunos mantenha no mínimo 12 destas palavras. Outras variantes podem ser sugeridas de acordo com a criatividade do professor e da sua turma.
Obs.: Esteja disponível para ouvir as ideias dos alunos. Muitas vezes acrescentam aspectos extremamente inovadores, potencializando o sentido da atividade e abrindo novos caminhos. Busque sempre incorporar as sugestões do grupo e as que não forem possíveis de serem realizadas naquele momento, anote e resgate em uma aula futura.
A partir das palavras, instigue os alunos a criarem frases e melodias para uma nova composição. E como criar uma melodia? Sugestão:
É importante que os alunos sintam-se à vontade para experimentar os sons, sem preocupação com um som que seja certo ou errado, dentro ou fora dos padrões. A experiência de cantar a ideia melódica proposta por um aluno com toda a turma pode ativar a criatividade e encorajá-los.
Dê tempo suficiente para que os alunos organizem-se em grupos de 4 a 6 pessoas, elaborem, ensaiem a composição e apresentem para a turma.
Obs.:
Link 1 - Canção na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Canção
Link 2 - O Século da Canção, Luiz Tatit - http://books.google.com/books?id=IZrktBBCEb4C&printsec=frontcover&dq=canção&hl=pt-BR&cd=3#v=onepage&q&f=false
Link 3 - História Social da Música Popular Brasileira, José Ramos Tinhorão http://books.google.com/books?id=8qbjll0LmbwC&pg=PA129&dq=canção&lr=&hl=pt-BR&cd=13#v=onepage&q=can%C3%A7%C3%A3o&f=false
Link 4 - Música na Educação Infantil, Teca Alencar de Brito http://books.google.com/books?id=dQUI4OQfk8YC&printsec=frontcover&dq=teca+alencar+de+brito&lr=&as_brr=0&hl=pt-BR&cd=1#v=onepage&q&f=false
Link 5 - Koellreutter Educador, Teca Alencar de Brito http://books.google.com/books?id=uKUkCKTgPskC&printsec=frontcover&dq=teca+alencar+de+brito&lr=&as_brr=0&hl=pt-BR&cd=2#v=onepage&q&f=false
Link 6 - Ritmo na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ritmo
Link 7 - Gênero musical na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Gênero_musical
Link 8 - Lista de gêneros musicais na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_gêneros_musicais
Link 9 - Ciranda - http://dancasbrasileiras.wikispaces.com/Ciranda
Link 10 - Música – Cantando e dançando a ciranda – aulas 1 a 6
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=13599
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=13625
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=13671
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=13672
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=14897
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=14900
Ao final da atividade, observe se os alunos atingiram os objetivos propostos. Avalie:
1. Relacionaram o conceito de ritmo ao de gênero musical?
2. Aprenderam a cantar a música "Cirandeiro", analisando seu estilo e forma?
3. Conseguiram transformar o material musical original criando uma nova composição?
4. Elaboraram canções com intenção de manter a forma e as palavras-chave?
5. Conseguiram discutir em conjunto a composição e tomar decisões em grupo?
6. Motivaram-se com a possibilidade de modificar músicas que conhecem?
Cinco estrelas 1 classificações
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03/11/2010
Cinco estrelasMuito Bom... Excelente abordagem!!!!