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Edição 68 - Rádio na Escola
06/03/2012
 
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Zeneida Alves de Assumpção (UEPG): rádio na escola pode ser um mecanismo de ensino, educação e cultura

Rádio na escola é um vetor de incentivo a toda a comunidade escolar

Rádio na escola é um vetor de incentivo a toda a comunidade escolar

Autor: Arquivo pessoal


Professora do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, Zeneida Alves de Assumpção implantou e coordena a Radioweb da instituição.

Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná. Jornalista aposentada da Prefeitura Municipal de Curitiba, é pesquisadora em Mídia-Educação e Jornalismo Científico.

Em entrevista ao Jornal do Professor, Zeneida Alves de Assumpção afirma que a utilização do rádio na escola poderá ser um mecanismo de ensino, educação e cultura permanentes e um vetor de incentivo à toda a comunidade escolar. Em sua visão, é uma mídia eletrônica de fácil acesso, que pode ser instalada em qualquer escola, com equipamentos simples e custos pequenos.

Jornal do Professor – Qual a colaboração que a utilização de uma rádio na escola pode trazer para o ensino e a educação?

Zeneida Alves de Assumpção – São muitas. A radioescola poderá contribuir com o ensino e a educação de forma crítica e contextualizada. Ela é um vetor de incentivo para toda a comunidade escolar, do aluno à cantineira/merendeira, que poderá anunciar qual será o cardápio de merenda semanal, por exemplo. O anúncio do novo cardápio poderá, por exemplo, ser feito pelos próprios estudantes através da radioescola. Assim, eles colocarão em prática a oralidade e conhecimentos aprendidos e apreendidos em diversas aulas: língua portuguesa (nesse momento, os alunos poderão colocar em prática a escrita, o falar corretamente), ciência (os conhecimentos sobre alimentos, a saúde, o se alimentar bem, a cultura dos alimentos, etc..), história (a origem dos povos e alimentação); geografia (tipos de alimentos e solos), etc... sem ninguém estar corrigindo-os com “caneta vermelha”. Nesse contexto, a escola deixa de ser o “panóptico” e passa a ser a ser parceira do ensino, da educação e da cultura, tendo a radioescola como aliada, permitindo aos estudantes a livre liberdade de expressão, pensamento, comunicação e construção do próprio conhecimento.

A mídia radiofônica (seja qual for à tecnologia utilizada) necessita tanto da escrita quanto da fala, do conhecimento, da cultura geral. Nesse aspecto, reside a relevância da radioescola no espaço escolar. Ela poderá ser um mecanismo de ensino, educação e cultura. Quando falamos aqui de educação e de cultura, não estamos nos remetendo somente à educação escolar, mas também à educação e cultura permanentes. A rádio (tradicional/hertziana, webradio, radio-online) faz parte do cotidiano de alunos, pais, professores, gestores e funcionários pertencentes à comunidade escolar e divulgam, de alguma forma, cultura. Quando os alunos utilizam a radioescola no espaço escolar orientados por professores, passam também a perceber e questionar a mídia radiofônica externa com outros olhos e ouvidos. Ou seja: com olhos e ouvidos mais aguçados, mais críticos. A radioescola poderá, então, colaborar com o ensino e educação dentro e fora dos muros escolares.

JP – Quais as habilidades que o projeto de uma rádio pode desenvolver com professores e alunos?

ZAA – Os professores precisam entender que as mídias estão presentes na vida e no cotidiano das pessoas, inclusive de seus alunos. O rádio é considerado a primeira mídia eletrônica de fácil acesso e vem contribuindo com a educação escolar e não-formal desde os seus primórdios. A radioescola também é de fácil acesso e qualquer escola poderá instalá-la. Os recursos são de custos pequenos. A radioescola permite o desenvolvimento de determinadas habilidades: a) fluência na leitura de pequenos textos (mensagens) ao microfone; b) interpretação; c) produção de texto; d) espírito de equipe e companheirismo; e) responsabilidade com a programação da radioescola e com os ouvintes; f) síntese de textos; g) pesquisa de temas; h) iniciativa própria de estudantes e professores; i) análise crítica do meio radiofônico e demais mídias; j) eloquência...

JP – De que maneira o professor pode utilizar essa ferramenta na sala de aula? Quais os conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio dela? Dê alguns exemplos.

ZAA – A radioescola deve ser utilizada na sala de aula de forma problematizadora e crítica, levando o educando (emissor/receptor) à aquisição do conhecimento sistematizado, à reflexão e a possíveis intervenções no seu cotidiano (seja escolar ou fora dele). Ela deverá possibilitar ao estudante compartilhar, democratizar, com outros colegas, o saber elaborado e novos conhecimentos. Para isso, o estudante e professor deverão conhecer e se familiarizar com a linguagem radiofônica, promover o intercâmbio de informações entre estudantes e comunidade escolar, ter conhecimento técnico e artístico de emissora radiofônica, bem como o conhecimento sobre mensagens elaboradas (por meio da edição).

A radioescola possibilita trabalhar com a maioria dos conteúdos. Dentre eles: geografia, história, ciência, artes, educação física, língua portuguesa, literatura, língua estrangeira. Por exemplo: língua portuguesa (produção e edição de textos; leitura e interpretação de textos mediante notas, notícias, reportagens, entrevistas). Na literatura (peças radiofônicas de contos consagrados de Machado de Assis ou de livros indicados para o vestibular); língua estrangeira (um programa de entrevista com professores das disciplinas de francês, italiano, inglês, espanhol, alemão, etc..., posteriormente questionado em sala de aula); ciência (uma radionovela falando sobre alimentação, nutrição, saúde, meio ambiente....); história (programa de entrevista sobre o Egito antigo ou outro tema). Cabe aqui a criatividade do professor e o direcionamento dele para com os alunos e para com a radioescola. Qualquer produto a ser produzido pelos alunos e veiculado pela radioescola deverá ter o direcionamento pedagógico de forma democrática.

JP – Como inserir o projeto de uma rádio escola no projeto pedagógico da escola? Há sugestões de projetos prontos bem desenvolvidos?

ZAA – Para que a radioescola seja inserida no projeto pedagógico da escola e que dê certo, é primordial que a escola não seja adepta de uma pedagogia tradicional. Qualquer projeto envolvendo mídias jamais terá bons resultados se a comunidade escolar, professores e gestores não forem democráticos e participativos. Em 1994, a Secretaria de Educação Municipal de Curitiba implantou, em várias escolas, o meu projeto Radioescola. Ele permaneceu atuante por seis anos ininterruptos. Atualmente, ele reaparece também numa das escolas municipais de Curitiba. A programação realizada por estudantes sob a coordenação/orientação de professores e jornalistas é veiculada pela Radioweb da Prefeitura de Curitiba.

Outra experiência nesse sentido foi um de meus projetos, intitulado “Pedagogia da comunicação, mídias e ensino: o uso delas na educação”. Esse projeto contemplava a Rádioescola Meneleu. Alunos do ensino médio do Colégio Estadual Professor Meneleu, em Ponta Grossa, participavam desse projeto realizado sob minha coordenação, na UEPG. Nos encontros semanais, os estudantes do ensino fundamental discutiam e produziam a programação, a qual era veiculada pela a Radioweb-UEPG.

JP – Quais os equipamentos básicos necessários para que uma escola possa produzir programas de rádio?

ZAA – Os equipamentos são simples. Com o advento da internet e com a presença dela nas escolas, há mais facilidade hoje dessas instituições instalarem suas próprias webrádios-escolas. Basta ter um computador, uma mesa de áudio de 12 ou 16 canais. Talvez, o pior entrave seja a capacitação docente. Por isso, é necessário que haja políticas educacionais públicas para a inclusão das mídias na sala de aula. Assim, os professores deverão ser capacitados (mídia-radiofônica e informática). Os estudantes aprendem rapidamente a informática básica e as mídias. Eles são “a geração da rede”, na concepção de Juan Luis Cebrian (1999). Porém, precisam do professor capacitado também.

JP – A senhora coordenou o programa Rádio Aluno, em 1995 e 1996, em que jornalistas e estudantes de escolas públicas municipais, estaduais e particulares produziam programas que eram veiculados na Rádio Educativa do Paraná. O que pode nos contar sobre essa experiência? Quais os principais resultados obtidos com os estudantes?

ZAA – As minhas atividades como coordenadora do Programa Rádio-Aluno começaram em abril de 1995 e encerraram-se em setembro de 1996, com 40 programas produzidos por alunos e levados ao ar pela Rádio Educativa do Paraná e demais emissoras do interior paranaense. Nesse período de vigência do Rádio-Aluno, diversas escolas públicas e particulares de Curitiba e interior do Paraná participaram desse programa. A metodologia do projeto funcionava assim: as escolas eram comunicadas sobre a visita de minha equipe. Os alunos escolhiam os temas e os discutiam democraticamente entre eles e com os professores. Os temas eram repassados à minha equipe. De posse dos temas e convidados, a minha equipe se dirigia à escola. Com as externas da Rádio Educativa montada na sala de aula, os alunos faziam entrevista com os convidados sobre o tema em pauta. Por exemplo: tema “Pena de Morte” (os alunos escolheram esse tema e estudaram-no com os professores). A nossa equipe convidou especialistas de diversas áreas: teológica, jurídica, educacional, psicologia, psiquiatria, entre outras, para serem entrevistados pelos estudantes. E, dessa forma, ocorreu com os 40 programas, dentre eles: “Aborto”, “Namoro na Adolescência”; “Mercado de Trabalho”; “Gravidez na Adolescência”; “Brigas de Torcida de Futebol”; “O Jovem e a Religião”; “A televisão”; “Ecologia” e outros. Os temas escolhidos pelos estudantes sempre se relacionaram com temas sociais que os afligiam.

O Programa Rádio-Aluno era constituído por três blocos: 1) “Rádio-Aluno Informa”; 2. “Rádio-Aluno Debate” e 3) Rádio-Aluno integrando o Paraná”. Nos três blocos havia a participação dos estudantes de ensino fundamental. Dentre os principais resultados dessa iniciativa, é de que os alunos ao escolherem democraticamente os temas, os pesquisavam cientificamente mediante ajuda dos professores e procuravam obter mais conhecimentos para poderem questionar e debater com os especialistas convidados. Dessa forma, os estudantes construíam o conhecimento sobre o tema, livremente, sem cobranças de professores. Nesse aspecto, a radioescola é uma grande aliada da educação e do ensino-aprendizagem. O projeto/programa foi encerrado devido a meu retorno à Universidade Estadual de Ponta Grossa e meu ingresso no Programa de Pós-Graduação Sctrito Sensu (doutorado em Comunicação e Semiótica) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1997.

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