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Edição 9 - Educação no Campo
18/11/2008
 
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Alunos do campo se dividem entre lar e escola

Autor: João Bittar/Arquivo MEC


No sertão da Bahia, em uma região extremamente seca, cerca de trinta estudantes das séries finais do ensino fundamental alternam seu tempo entre a casa e o colégio. São alunos da Escola Família Agrícola (EFA) de Andaraí, localizada na Fazenda Sobral, a cerca de 28 Km da sede do município de Andaraí. Durante quinze dias eles ficam na instituição, em regime de internato, e por mais quinze dias permanecem em suas casas.

No período em que estão na escola, além das disciplinas normais de 5ª a 8ª série (6º ao 9º ano) os alunos também aprendem a lidar com a criação de animais – cabras, porcos e vacas – e com plantas. “Como a área da escola é pequena e a região tem problema de falta d’água, optamos por ensinar o cultivo de pequenas hortaliças, que podem ser molhadas com um regador”, diz o diretor da EFA, Gilson de Souza Santos, que também é professor de matemática.

A instituição tem cinco professores, chamados pelo movimento de monitores, e um coordenador. Diariamente, um deles dorme na escola e fica responsável pelo atendimento aos alunos. O ensino prático é ministrado por um técnico agrícola, que mora no local.

A EFA de Andaraí foi criada em 2001, para atender às famílias dos pequenos agricultores e dar suporte aos assentamentos da região, como Santa Luzia de Gamelas, Mocambo, e Santa Clara. O município, que tem em torno de 14 mil habitantes, fica a aproximadamente 400 Km de Salvador.

No município de São Mateus, no Espírito Santo, a cerca de 40 Km de Vitória, encontra-se a EFA do Km 41. Localizada na Rodovia Miguel Curry Carneiro, a escola está inserida em uma região com inúmeras plantações: café, pimenta do reino, macadâmia, cacau, eucalipto, feijão, e milho, são algumas delas. A região, com uma população diversificada que inclui moradores de assentamentos, quilombolas e descendentes de italianos, também atua no setor de pecuária de corte e de leite.

“Os 96 alunos, de 5ª a 8ª série, foram divididos em duas turmas, que se alternam, semanalmente. Enquanto um grupo está na escola, o outro está em casa”, adianta o diretor, Manoel Brandão Simões, professor da área agrícola. A instituição também adota a escala de um monitor responsável, a cada dia, para dormir na escola.

Uma das formas que a escola utiliza para verificar se os alunos estão aplicando o que aprendem é durante visitas às famílias, já que os estudantes de cada turma ficam responsáveis por desenvolver uma experiência diferente em casa. “Aos alunos da 5ª série cabem as hortaliças de folhas, como alface, couve e cebolinha; já os da 8ª série devem manter culturas anuais, como milho, feijão e amendoim”, explica o diretor. Além disso, os alunos também aprendem a cuidar de pequenas criações como peixes, porcos e abelhas, a nível familiar.

Protagonista – A coordenadora pedagógica da EFA do Km 41, Neuza Barcelos Belucio, que já lecionou na cidade, observa algumas diferenças entre os alunos do meio urbano e os da EFA. “Na EFA o aluno é protagonista de seu próprio conhecimento. O professor atua mais como um monitor, auxiliando o estudante nessa busca”, ressalta. Ela destaca, ainda, que há um relacionamento mais próximo dos alunos com professores e funcionários. “Os jovens conversam, pedem ajuda, e as famílias também estão muito presentes”.

Segundo Neuza, como a escola funciona em regime de internato, no início de cada ano é feita uma assembléia para votar as normas de vida em grupo. Na ocasião, os estudantes tomam várias decisões em grupo. Eles decidiram, por exemplo, que os telefones celulares devem ser guardados pela escola, sendo solicitados somente em caso de necessidade.

As duas instituições fazem parte da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (Unefab), que congrega 158 escolas famílias em todo o Brasil. Surgidas na França, em 1935, essas escolas se espalharam pelo mundo, chegando ao Brasil no final da década de 1960, com a criação do Movimento da Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes). Esse movimento se baseia em quatro princípios fundamentais: associação, pedagogia da alternância, formação integral, e desenvolvimento local sustentável e solidário.

Pedagogia da alternância – O ponto principal é a utilização da pedagogia da alternância, na qual o estudante fica um período interno na escola e outro em casa. “Basicamente, essa pedagogia alterna tempos e espaços na escola (meio escolar) e na casa (meio sócio-profissional)”, diz o secretário executivo da Unefab, David Rodrigues de Moura. Segundo ele, “esse sistema de ensino foi criado para atender os jovens que viviam no campo, com atividades rurais e não se adaptavam ao ensino convencional, mais voltado para a realidade urbana.” A pedagogia da alternância, desde o seu nascimento tem sempre buscado, além da educação, a formação profissional e integral para o desenvolvimento sustentável e solidário do meio.

David salienta que muitas escolas lutam com dificuldades para garantir o ensino, devido à falta de recursos públicos, embora sejam comunitárias. Elas funcionam, geralmente, em parceria com governos estaduais e municipais, entidades privadas e as famílias dos alunos, organizadas em associações autônomas, responsáveis pela gestão e animação das mesmas. “Os Estados do Espírito Santo, Amapá e Minas Gerais já conseguiram aprovar uma lei que garante recursos para as EFAs. Essas conquistas de políticas públicas com o devido financiamento têm garantido um melhor desempenho desse projeto educativo de educação do/no campo. Em outros estados, o movimento das EFAs ainda está lutando para isso”, ressalta o secretário executivo da Unefab.

(Fátima Schenini)

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