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Edição 9 - Educação no Campo
18/11/2008
 
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O campo não é uma projeção da cidade

Autor: Júlio César Paes


Doutor em Problemas Políticos da Educação pela Universidade de Stanford (EUA), Miguel Gonzalez Arroyo acompanha propostas educativas em várias redes estaduais e municipais do Brasil. Pós-doutor na área de sociologia da educação pela Universidade Complutense de Madri e professor titular emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, foi secretário adjunto de Educação de Belo Horizonte, onde coordenou e elaborou a implantação da proposta político-pedagógica da Escola Plural.

 

JP - De que forma o senhor vê a educação no campo atualmente? Quais os principais problemas que ela enfrenta?

MGA – Antes de falar em problemas, devemos falar sobre o quanto a educação no campo está avançando. A politização da educação do campo por parte dos movimentos sociais que atuam neste setor é um dos fatos mais marcantes na área da educação. E mais marcantes por quê? Porque as questões que chegam ao campo da educação normalmente vêm de novas teorias, inovações e modas pedagógicas. E desta vez as grandes indagações para o sistema educacional estão vindo dos movimentos sociais. São eles que hoje interrogam as teorias pedagógicas, políticas educativas e questionam o fazer educativo, a formação de professores. Então esse é um grande ganho.

O problema é que a teoria pedagógica ainda não incorporou essas indagações que vêm da educação no campo. Ela ainda está baseada em uma teoria urbana, o currículo é urbano, os percursos escolares são urbanos, a formação é para professores urbanos, enfim, isso é lamentável, porque já faz quase 20 anos que os movimentos sociais do campo estão fazendo essa politização. Outro problema é a capacidade dos governos federal, estadual e municipal em equacionar bem a educação no campo nessas dimensões políticas trazidas pelos movimentos sociais. Neste aspecto nós ainda não avançamos. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação, tem avançado nessa direção, mas ela mesma não encontra canais fáceis de diálogo com os movimentos sociais do campo. Mas é importante que esta política seja debatida e não imposta.

JP – Que benefícios o senhor vê com a formação de professores para atuarem no campo, como é o caso do programa Procampo, da Secad?

MGA – Eu acho muito importante isso. O campo não é uma projeção da cidade. O campo tem sua identidade, sua cultura, suas raízes, suas formas de pensar. O trabalho no interior produz conhecimentos, valores, culturas. A infância e a adolescência estão inseridas radicalmente nessas culturas, nessas raízes. Então, tem que ser gente que vem dessas raízes, dessa cultura, formada para ser educadora, educadora do campo. Tem que ser os que atuam nas escolas do campo. Me parece que esse projeto é muito interessante, mas ainda é muito tímido.

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