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JORNAL
Edição 112 - Mestrado para Professores
14/04/2015
 
ou

Marcelo Viana (ProfMat ): “Programas proporcionam ao professor capacitação de qualidade para o exercício da profissão”

Programas como o ProfMat contribuem para o diálogo universidade-escola

Programas como o ProfMat contribuem para o diálogo universidade-escola

Autor:Arquivo pessoal


Pesquisador titular do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Marcelo Miranda Viana da Silva foi um dos idealizadores do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat), programa que formou mais de 1,5 mil professores da educação básica desde a primeira turma, em 2011.

Para ele, programas de mestrado profissional como o ProfMat proporcionam ao professor uma capacitação de qualidade, voltada para exercício da profissão, e abrem oportunidades de valorização profissional. Matemático com doutorado em sistemas dinâmicos pelo Impa, Marcelo Viana é vice-presidente da International Mathematical Union (IMU), membro do comitê executivo do Mathematical Council of the Americas (MCofA) e presidente do Conselho Gestor do ProfMat. (Fátima Schenini)

Jornal do ProfessorA SBM coordena o Profmat, que é oferecido por uma rede de instituições de educação superior. Além desse, outros quatro cursos de mestrado profissional são realizados no Brasil, voltados para o ensino de física, artes, letras e história. Qual a importância de um curso de mestrado para professores da educação básica?

Marcelo Viana – Esses programas de mestrado profissional, de grande escala, e outros que estão sendo formulados (química, inovação tecnológica, etc.) seguindo, em grande medida, o modelo do ProfMat, têm papel múltiplo no cenário da educação básica. Eles colocam o que o país tem de melhor nas respectivas áreas a serviço da formação do professor que atua em sala de aula e proporcionam ao professor uma capacitação de qualidade, voltada para o exercício da profissão. Ao mesmo tempo, abrem ao professor oportunidades de valorização profissional que até então não existiam. Portanto, eles contribuem para a quitação de uma dívida do nosso sistema educativo para com uma categoria profissional tão importante e por longo tempo tão negligenciada. Além disso, esses programas contribuem para o diálogo universidade-escola, que também não existia e é indispensável para que o nosso sistema educativo sane os inúmeros problemas.

O que esse tipo de formação pode acrescentar de positivo ao processo de ensino-aprendizagem, principalmente no que se refere à matemática? Professores mais capacitados podem contribuir para acabar com o mito de que a matemática é uma disciplina difícil e, dessa forma, atrair mais jovens para a área de ciências exatas?

– Esse mito tem origens diversas e não é uma especificidade brasileira. Mas, certamente, a deficiente formação da maioria dos nossos professores contribui muito para ele e perpetua o péssimo desempenho de nossos jovens em todos os testes internacionais que avaliam a proficiência em matemática. Há muitos outros fatores socioeconômico-culturais por trás da situação em que nos encontramos quanto ao ensino no país, incluindo o ensino de matemática. Mas, sem dúvida, a formação do professor é um elemento-chave dessa formação. Mestrados profissionais como o Profmat oferecem uma importante contribuição nesse sentido.

Já é possível observar resultados práticos nas salas de aulas?

– Nós nos baseamos muito no retorno dado por nossos egressos e nossos alunos, os quais relatam de modo extremamente consistente quão importante é o ProfMat para a atuação em sala de aula. O extrato de um relatório de visita ao polo Unifap, em Macapá, é representativo desses testemunhos. Os alunos consideram que o embasamento teórico dos conteúdos adquiridos no ProfMat já tem efeito significativo nas práticas de sala de aula. Eles admitem que, antes, não tinham muita noção das coisas que ensinavam; que conheciam os conteúdos, mas não as abordagens adequadas; que sabiam resolver problemas, mas não sabiam o porquê das coisas. Eles afirmam que o aprofundamento teórico adquirido permite tirar dúvidas dos alunos adequadamente. Um deles declara: “Antes, eu apenas ensinava as coisas; agora, quando os alunos perguntam, eu sei responder”. Além disso, realizamos uma pesquisa on-line entre os egressos, com a pergunta: “A formação que você recebeu do Profmat teve impacto em sua prática docente?” As respostas foram: muito: 83,95%; pouco: 15,43%; nada: 0,62%.

Quais as principais vantagens de oferecer aulas de mestrado a distância? Elas não poderiam ser realizadas pelas instituições de ensino, de forma isolada?

– O ProfMat traz duas inovações para o âmbito da pós-graduação, entre outras: a estrutura em rede e o regime semipresencial. Ambas vão no sentido de aumentar a capacidade de atuação, mantendo a elevada qualidade. Dessa forma, democratizam o acesso à formação de alto nível em todas as regiões do país. De fato, a estrutura em rede nacional significa que instituições em todo o país podem oferecer formação unificada, elaborada pelos melhores professores e pesquisadores, e apoiada em material didático (livros e material multimídia) elaborado pelos melhores especialistas que o Brasil tem a oferecer. É fato que boa parte das instituições que integram a rede do ProfMat, por si sós – particularmente aquelas que ainda não têm programas de pós-graduação acadêmica na área –, dificilmente teriam condições de oferecer esse nível de qualidade aos alunos. Do mesmo modo, o regime semipresencial, que combina aulas presenciais com trabalho realizado on-line por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA), faculta aos alunos a possibilidade de interagir com os melhores professores e pesquisadores do país e, ao mesmo tempo, ter acesso aos materiais didáticos 24 horas por dia, em qualquer ponto do território nacional.

Cabe ressaltar que a rede do ProfMat conta com cerca de 70 instituições (universidades, institutos federais e institutos de pesquisa) que oferecem a seus alunos mais de 90 polos de atendimento presencial, em todas as unidades da Federação.

As aulas do ProfMat são desenvolvidas de forma semipresencial. O que significa isso? Qual é a periodicidade?

– O regime semipresencial significa que os alunos têm ao seu dispor uma combinação de atendimento presencial com trabalho no AVA. O atendimento presencial é semanal, normalmente nas sextas-feiras ou sábados, de 6 horas por semana (3 horas para cada disciplina). Além disso, o ProfMat inclui um período intensivo de verão, com atendimento presencial de 3 horas por dia, em todos os dias úteis, durante quatro semanas, em janeiro ou fevereiro. O AVA contém um repositório de materiais didáticos (vídeos, webaulas, ferramentas moodle etc.) e está disponível a professores e alunos 24 horas por dia, todos os dias. O plano acadêmico prevê que os alunos estudem em casa ou na escola, por meio do AVA, e usem o atendimento presencial para sanar dúvidas.

Especificamente com relação ao Profmat, como tem sido a procura por vagas desde que o curso teve início? Alguma região do país tem se destacado nessa procura?

– O ProfMat já realizou cinco processos seletivos (exames nacionais de acesso 2011 a 2015). O número de vagas estabilizou-se em torno de 1,5 mil. A cada ano, o número de candidatos a essas vagas é de 23 mil. Essa demanda está distribuída em todo o país, com destaque para as regiões Nordeste e Sudeste. A coordenação nacional do ProfMat vem fazendo um esforço bem-sucedido para estender a presença de polos e instituições, sobretudo no interior dos estados.

Quais os pré-requisitos para participar do ProfMat? Os estudantes recebem alguma bolsa?

– Os candidatos devem cumprir todos os pré-requisitos para ingresso na instituição de sua escolha e, além disso, devem ser classificados no processo seletivo (exame nacional de acesso) dentro das vagas disponíveis na instituição. Em cada polo, 80% das vagas são reservadas a professores de matemática em exercício da docência em escolas públicas. Tais professores podem pedir bolsa de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O valor mensal é de R$ 1,5 mil.

Como é o trabalho final dos participantes dos cursos de mestrado profissional? É uma dissertação ou pode ser um produto? Ele deve ter ligação com a experiência na sala de aula? Por quê?

– De acordo com as normas acadêmicas do ProfMat, as dissertações devem versar sobre temas específicos, pertinentes ao currículo de matemática da educação básica e que tenham impacto na prática didática em sala de aula. Cada dissertação é apresentada na forma de uma aula expositiva sobre o tema do projeto e de um trabalho escrito, com a opção de apresentação de produção técnica relativa ao tema. A exigência de impacto na prática docente é coerente com o espírito e os objetivos do programa.

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