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Edição 38 - Educação a Distância
29/04/2010
 
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Professores devem estar preparados para uso de tecnologia digital


A utilização de tecnologia digital traz contribuições significativas para a educação a distância e transforma as possibilidades de comunicação entre professores e alunos. De acordo com a professora Lea Fagundes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor que for trabalhar em educação incluída na cultura digital deve ter uma formação especial. Segundo ela, além de saber como atuar nessa área o professor também precisa aprender como inovar em educação, seja presencial ou a distância.

Formada em pedagogia e em psicologia, com mestrado em educação e doutorado em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, Lea Fagundes é professora titular aposentada da UFRGS. Atualmente, na mesma instituição, ela é docente permanente, convidada no Mestrado em Psicologia Social e Institucional, docente no Programa de Pós-Graduação Informática na Educação, e coordenadora de pesquisa no Laboratório de Estudos Cognitivos.

Jornal do Professor – Quem é o professor que dá aulas em cursos de EAD? Quais as características que ele deve ter para atuar nesse segmento?

Lea Fagundes – Não considero dois segmentos, pois as transformações que estão acontecendo em nossa sociedade aproximam cursos em EAD dos cursos presenciais, não só porque permitem uma comunicação a distância “sem distâncias”, aproximando os alunos tanto do professor quanto de outros alunos pelas conexões virtuais, como também muitas atividades de um curso presencial podem se beneficiar dos recursos digitais para minimizar as distâncias.

Com a cultura digital a tradicional “educação a distância” recebe contribuições muito significativas:

- os meios de comunicação são totalmente modificados – do transporte pelo correio de materiais impressos, jornais, de programas em rádio e em televisão, que dependiam de emissões em horários e locais pré-programados para serem acessados pelos alunos, passamos a dispor de ambientes virtuais de aprendizagem como suporte a materiais digitalizados não só os específicos para um curso, mas redes de sistemas de informações amplas e permanentemente acessíveis à pesquisa e em constantes atualizações;

- o uso da tecnologia digital transforma as possibilidades de comunicação entre professor e aluno, as trocas podem ser interativas em modalidades síncronas ou assíncronas, não mais só unidirecionais e hierarquizadas como a EAD tradicional que considera que o professor emite a mensagem porque sabe mais, tem autoridade para decidir, por isso planeja o ensino, e o aluno a recebe porque será avaliado por reproduzir e aplicar adequadamente essa mesma mensagem. Pois a EAD agora dispõe de recursos para que os indivíduos passem a interagir cooperativamente não só com um professor especialista, mas com outros professores estabelecendo conexões interdisciplinares. O aluno não só interage linear e hierarquicamente, respondendo às perguntas do professor, ou cumprindo suas ordens, ele pode interagir com colegas de outros grupos heterarquicamente, escolhendo conteúdos, recebendo e enviando comentários, sugestões, contribuindo nas soluções de problemas, formulando outras questões, argumentando com os próprios professores e até com outras comunidades na rede. E então pode ser alcançado o desenvolvimento, as competências, habilidades, atitudes, procedimentos que os cursos buscam.

Nos programas que tenho avaliado de cursos em EAD não encontrei caracterizações especiais para seus professores. De um lado, o planejamento desses cursos tendem a reproduzir os cursos presenciais que as instituições já desenvolvem, de outro, os professores são aceitos, e não selecionados, porque são competentes no ensino presencial e porque se apresentam disponíveis a aprender a usar as novas tecnologias.

Não estou afirmando que não há características que ele deva ter! Estou tentando analisar as diferenças entre EAD tradicional e as relevantes características da EAD na cultura digital e sublinhando que é necessário tratá-la como inovação revolucionária.

JP – A formação de um professor de EAD deve ser diferente de um professor presencial? O que é necessário que ele saiba para atuar nessa área?

LF – Um professor presencial não é necessariamente diferente de um professor de um curso EAD, se neste último os recursos forem textos, apostilas, radio, televisão, ou vídeoconferências. E não será diferente se o curso EAD for trabalhado sem considerar os recursos da cultura digital, quando só privilegiem o atendimento de alunos que estejam distantes de instituições de ensino e sem dispor de tempo para frequentá-las.

Entretanto, seja um professor presencial ou seja um professor em EAD, ele necessitará de formação especial se desejar trabalhar em educação incluída na cultura digital. Muita atenção: há instituições que possuem equipamentos, laboratórios e conexões à internet, mas usam esses recursos para desenvolver um ensino tradicional, como, por exemplo, currículo fragmentado em disciplinas de períodos predeterminados, cumprindo tarefas pré-programadas com conteúdos descontextualizados, de forma linear, centralizado no ensino pelo professor, e avaliado por desempenho com apresentação de uma só resposta certa, de atender turmas como fossem todos os alunos semelhantes e com níveis de desenvolvimento equivalentes para aprendizagem dos mesmos conteúdos.

Seja na educação presencial, ou seja em EAD, o importante é sua inclusão na cultura, é o esforço para mudar a concepção de ensino da sociedade industrial para a concepção de desenvolvimento cognitivo e sócioafetivo no processo de aprendizagem, da sociedade da informação, da sociedade do conhecimento.

Não é só necessário que ele saiba como atuar nessa área, o professor necessita aprender como inovar em educação seja na presencial, seja em EAD. Por quê? Porque mesmo na educação presencial a cultura digital pressupõe tanto contatos presentes como interações no espaço virtual, trabalho nas salas da escola, mas também trabalhos cooperativos no espaço virtual, uso de hipertexto, de recursos multimídias, de radio digital, de televisão digital, de bibliotecas digitais, de museus virtuais, na própria escola conectada com redes de escolas próximas ou distantes.

Uma nova formação também é necessária para o professor para que se aproprie das novas contribuições da cultura com reflexão crítica, com experimentação metódica para testar, analisar e avaliar novas práticas como um investigador permanente e consciente. É fundamental que comunidades de professores aprendam a buscar os melhores, os mais explicativos fundamentos teóricos para entender melhor seu próprio processo de aprendizagem e o de seus alunos, e como esse processo acontece na apropriação dos recursos da tecnologia digital sustentando as atividades de comunicação interativa, colaboração e cooperação para a construção de conceitos, para a prática de procedimentos criativos nas ciências, nas técnicas como nas artes, para a prática de atitudes e valores na convivência social local e planetária.

JP – Há diferenças no planejamento de aulas presenciais e a distância? Quais?

LF – São muitas as semelhanças e pouquíssimas as diferenças quando se reestrutura a educação incluindo-a na cultura digital. O que está acontecendo atualmente são apenas adaptações do ensino presencial à EAD. Urge que se iniciem pesquisas substanciais considerando desde o grande problema dos técnicos em desenvolver ambientes virtuais de aprendizagem, estruturados em rede, com distribuição de espaços tanto para alunos como para os professores, para garantir cooperação nos planejamentos e autoria nas produções. O que isto significa? Assegurar a liberdade para tentar e para errar, o tempo para discutir, refletir e replanejar, a distribuição das tarefas interdisciplinares em que o professor exerce as funções de mediador e não decide unilateralmente. O plano precisa considerar sempre diferentes pontos de vista, múltiplas perspectivas assegurando defesas contra a repressão e buscando a ampliação valorizando o investimento dos aprendizes. Os alunos podem participar na elaboração dos objetos de aprendizagem, na proposta de atividades criativas, desde o primeiro ano do ensino fundamental até o ensino universitário.

Isto não é o que está acontecendo. Precisamos repensar e ter a coragem para novas iniciativas. No Brasil temos, felizmente, acesso a esse novo conhecimento. Só precisamos valorizá-lo mais e experimentá-lo com critérios bem definidos.

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