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JORNAL
Edição 114 - Ensino de Línguas
10/06/2015
 
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Rosa Maria de Oliveira Graça (UFRGS): “Preparação de professor de línguas exige empenho e estudo”


Professora de língua francesa e de didática da língua francesa, responsável pelas disciplinas de estágio de docência em língua francesa no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rosa Maria de Oliveira Graça coordena o setor de francês do Núcleo de Ensino de Línguas Estrangeiras em Extensão (Nele), na mesma universidade. Há 35 anos no magistério, com experiência no ensino fundamental e médio e na educação superior, Rosa Graça diz que a preparação de um professor de línguas exige muito empenho e estudo.

“Precisamos que haja uma política pública para as licenciaturas de línguas e para a formação de professores de todos os idiomas, promovendo estágios de formação no exterior, atingindo mais licenciandos da área de ensino de línguas”, ressalta a professora, que tem especialização em ensino do francês pela Universidade Paul Valéry, na França, e mestrado e doutorado em estudos da linguagem pela UFRGS. (Fátima Schenini)

 

Jornal do Professor Como está a procura pela área de licenciatura em francês na UFRGS? O francês ainda atrai o interesse dos jovens ou foi superado pelo inglês e pelo espanhol?

— No curso de letras, há uma procura constante — cerca de 50 alunos por ano —, a partir do vestibular. Temos porém de restringir a uma turma de 25, em francês I, por falta de professores. A questão fundamental é a permanência no curso, que exige muita leitura e investimento pessoal na aprendizagem. O inglês tem um público maior, por motivos óbvios e também pela pressão do mercado de trabalho. O espanhol, pelo respaldo da legislação que torna sua inclusão obrigatória na rede escolar. Os jovens buscam o francês por opção, por gostarem de estudar o idioma, primeiramente. Temos uma variação de cinco a dez alunos, por ano, que iniciam a formação didática para se tornarem professores. Alguns diplomados do bacharelado em tradução também realizam, às vezes, uma formação complementar e entram no mercado de trabalho. Nossos bons alunos, dedicados ao estudo da língua e à didática da língua francesa, conseguem boas colocações depois de terminar o mestrado ou o doutorado, inserindo-se em universidades particulares ou em federais, por concursos públicos, ou até mesmo são professores autônomos. Muitos atuam em cursos livres, onde a remuneração não é tão boa. Trabalham muito, embora sejam reconhecidamente bem aceitos pela boa formação que trazem da UFRGS. Há sempre procura de bons profissionais do francês para o ensino. Muitos cursos livres buscam professores formados, mas não oferecem remuneração adequada e aceitam profissionais sem formação didática.

O que é mais importante em uma aula de línguas: a escrita ou a conversação? O que é preciso fazer para atrair o interesse dos estudantes para o aprendizado de uma nova língua?

— Tudo depende dos objetivos de cada estudante. Os acadêmicos, que devem fazer a prova de proficiência para o mestrado ou o doutorado, precisam de uma metodologia que desenvolva a competência leitora em textos acadêmicos. Logo, aprofundar a expressão oral é desnecessário nesse contexto. Mas, há, no momento, vários cursos de graduação e pós-graduação que favorecem estudos em algum país francófono, pelo programa Ciência sem Fronteiras ou mesmo com dupla diplomação, como é o caso de algumas engenharias e letras na UFRGS. Portanto, é importante desenvolver as competências (expressão oral e escrita, compreensão oral e escrita) para que possam se inserir na vida acadêmica e sociocultural do país. O professor precisa estar consciente dos objetivos do ensino-aprendizagem do público em questão, propondo sequências didáticas adequadas, pois os alunos trazem necessidades especificas e, geralmente, querem investir com fins específicos na sua aprendizagem. No contexto escolar, além da questão da faixa etária, há também a responsabilidade do professor em trazer a língua francesa em contextos interessantes (música, cinema, leitura, manifestações culturais em geral etc.), que possam estimular os alunos a reconhecer, nessas atividades, elementos em comum ou diferentes, a fim de trabalhar de forma intercultural a língua francesa. O professor de francês, nesse contexto, como os demais, tem também a responsabilidade de formar os alunos, favorecendo a interação e a colaboração, pois a língua francesa não é um componente isolado de um currículo escolar que cada vez mais deve priorizar a interdisciplinaridade.

Os professores saem bem preparados para lecionar francês?

— Tudo depende do empenho pessoal e investimento na formação linguística e didática. Um licenciando que se prepara bem apresentará um nível melhor, que estará registrado em seu histórico escolar pelos melhores conceitos e pela qualidade das atividades complementares que realizou na universidade. Temos gerações recentes de professores que aproveitaram bolsas de estudos de francês do Nele (extensão da UFRGS); da Aliança Francesa de Porto Alegre, por meio da Associação dos Professores de Francês do RGS; do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) para formação na França, em 2013; do programa de leitorado de português na França, promovido pela Embaixada da França, e ainda bolsas para jovens professores, em final de formação didática, patrocinadas pela Embaixada da França. Ter o diploma de licenciado em francês não basta. A preparação de um professor de línguas exige muito empenho e estudo. O nosso contexto sociocultural afeta essa formação, pelas dificuldades conhecidas, como o alto custo do aprimoramento linguístico qualificado, dos estágios de imersão no exterior e do material de estudo específico da área. Nossos licenciandos ressentem-se por estar fora do programa Ciência sem Fronteiras. Precisamos de uma política pública para as licenciaturas de línguas e para a formação de professores de todos os idiomas, promovendo estágios de formação no exterior, atingindo mais licenciandos da área de ensino de línguas. A qualidade de nossos profissionais e pesquisadores depende da formação em línguas estrangeiras.

Portanto, é uma questão muito séria a formação de nossos professores de línguas. Os profissionais que formamos na UFRGS compreendem que o métier de professor os torna eternos aprendizes e estão realmente preparados para se tornarem excelentes professores de francês. Mas eles precisam estar contemplados nos programas de aperfeiçoamento no exterior, pela própria natureza da formação. Afinal, são eles que formarão nossos profissionais e pesquisadores de ponta, bem como serão responsáveis pela formação em língua francesa de crianças e jovens nas redes escolares. De sua qualificação dependerá a qualidade da formação desses diferentes públicos.

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