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Edição 122 - Educação Financeira
24/02/2016
 
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José Lucas Pedreira Bueno (Unir): “Educação financeira é necessária para todos”


Professor e pesquisador do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Rondônia (Unir), José Lucas Pedreira Bueno integra o Grupo de Apoio Pedagógico (GAP), presidido pelo Ministério da Educação, na formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). O GAP é integrado por um representante docente de instituição pública de educação superior das cinco regiões do Brasil, além de representantes do setor financeiro e de instituições da sociedade civil.

Para José Lucas, a educação financeira é necessária não apenas para crianças e adolescentes, mas para todos nós. “Temos de nos perguntar se é possível conceber sujeitos para exercer a cidadania nos dias de hoje sem o domínio de saberes acerca da relação existente entre as finanças e a nossa vida doméstica, onde se planeja e vivencia grande parte dos fatos da vida”, destaca.

Com graduação em gestão da tecnologia da informação e licenciatura em letras (português e inglês), José Lucas tem mestrado e doutorado em engenharia de produção. (Fátima Schenini)

 

Jornal do ProfessorQual a importância de se proporcionar aulas de educação financeira a crianças e jovens?

José Lucas Pedreira Bueno — A educação básica deve prever o ensino de saberes para que crianças e jovens alcancem condições de exercer a “cidadania com autonomia”. Para isso, diversos saberes precisam ser ensinados desde a infância, para crianças e jovens continuarem em desenvolvimento ao longo da vida, em cada uma de suas fases.

Com uma intencional redundância, destaquei com aspas “cidadania com autonomia”, no esforço de ser didático, porque não é possível conceber que qualquer sujeito seja um cidadão se este não contar com autonomia em suas escolhas, decisões e ações no exercício de direitos e deveres.

A partir disso, governo e sociedade vivem em constante discussão para eleger os saberes imprescindíveis para que as escolas consigam formar cidadãos para conviver, viver, aprender e desenvolver em sociedade. E, para elegermos esses saberes, temos de nos perguntar: qual é a sociedade em que vivemos? Quais aspectos determinam nossas relações e o que podemos fazer para influenciar para que essas determinações sejam menos perversas e injustas?

Da mesma forma, também temos de nos perguntar se é possível conceber sujeitos para exercer a cidadania nos dias de hoje sem o domínio de saberes acerca da relação existente entre as finanças e a nossa vida doméstica, onde se planeja e vivencia grande parte dos fatos da vida. E ainda se é possível a escola acreditar que forma cidadãos sem lhes proporcionar a capacidade de produzir e criticar o modo de vida, a produção, o consumo e a subsistência em nossa sociedade, que basicamente se assentam sobre nossas finanças.

Talvez aí esteja a importância da educação financeira para crianças e jovens, que não é necessária só para eles, mas para todos nós. Acreditamos, ainda, que as crianças e os jovens se constituem em verdadeiros multiplicadores desses aprendizados no contexto familiar.

Quais os principais conteúdos abordados no tema educação financeira? De que forma eles devem ser repassados aos estudantes?

— O Programa Educação Financeira nas Escolas é uma iniciativa da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef). Para que o tema educação financeira fosse levado ao contexto escolar, foi produzido o documento Orientações para Educação Financeira nas Escolas e, a partir dele, um conjunto de materiais educativos voltados para o ensino fundamental e médio, com conteúdos a serem aplicados de forma transversal, por meio de projetos e dinâmicas que propõem atividades em grupo e muita interação entre os alunos e com o meio em que vivem para aprenderem e contextualizarem os conhecimentos.

Os conteúdos são diversos e norteados por objetivos que buscam o “desenvolvimento da cultura de planejamento, prevenção, poupança, investimento e consumo consciente”. Tratam da forma de produção de alguns alimentos, explicitando a noção de cadeia produtiva; tratam da necessidade do trabalho e empreendedorismo e das concepções para se alcançar bens necessários à vida, por meio da compreensão ética dos desafiadores temas de juros, empréstimos, endividamento, poupança, aplicações, forma e momento mais adequado para aquisições, entre outros, de forma a buscar soluções para se alcançar o domínio das finanças pessoais. Os saberes tocam em temas pertinentes aos alunos, como mesada, orçamento e despesas pessoais, cotações, visitas a mercados e lojas. Além disso, ainda esclarecem sobre moedas, bancos, seguros, previdência, poupança, investimentos, aplicações etc.

O ensino da educação financeira é uma tendência mundial e já ocorre em outros países?

— O ensino da educação financeira, como podemos conferir em alguns trabalhos já publicados sobre a temática, não é uma questão muita clara para as instituições de ensino, grupos e entidades de pesquisas educacionais, tanto no exterior quanto no Brasil. Alguns países desenvolvidos movimentam discussões e experiências educativas já há algum tempo, como Estados Unidos e Inglaterra. Na América Latina, provocadas por organismos internacionais, há algumas poucas discussões incipientes, que custam a amadurecer. No Brasil, o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), por meio do convênio com a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), tem implementado ações relevantes para que o tema ganhe, cada vez mais, os espaços escolares. No ensino médio, nesse momento, o projeto de educação financeira encontra-se em fase de disseminação, a partir da impressão e distribuição dos materiais educativos pelo MEC para 2.969 escolas, nas 27 unidades da Federação. No ensino fundamental, estamos na fase de finalização do projeto-piloto implementado em 2015 nos municípios de Joinville (SC) e Manaus (AM), em 212 escolas, com a participação aproximadamente de 18 mil alunos. As escolas públicas e particulares, desde o ano passado, já contam com os materiais para o ensino médio, disponíveis gratuitamente na internet. Acreditamos que, dessa forma, o tema pode alcançar cada vez mais um número significativo de escolas em nosso país, que apresenta dimensões continentais.

Os professores brasileiros são preparados para a transmissão de conteúdos de educação financeira? De que forma?

— Um importante passo foi dado em 2015, com o Grupo de Apoio Pedagógico (GAP) da Estratégia Nacional de Educação Financeira, que apresentou à Diretoria de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação um documento para propor o reconhecimento da educação financeira na elaboração da Base Nacional Comum Curricular.

Acreditamos que, a partir da inclusão da educação financeira na Base Nacional Comum Curricular, políticas públicas, pesquisas, formação de professores e novas experiências com o ensino da educação financeira podem ser viabilizadas e apresentadas à sociedade. Especificamente, ainda podemos citar que o curso de pedagogia do campus de Porto Velho da Universidade Federal de Rondônia inclui, desde 2013, a educação financeira em seu currículo, prevendo já formar professores da educação básica com saberes críticos e propostas de práticas de ensino da educação financeira.

É ainda muito pouco, mas, em termos educacionais, devido a tantas necessidades educativas, à diversidade educacional brasileira e à necessidade de amadurecer criticamente e academicamente as propostas a serem levadas às escolas, a educação financeira já deu muitos passos e pode ampliar em muitos seus horizontes, principalmente no tempo de crise em que vivemos.

Quais as atividades que o senhor realiza como membro do Grupo de Apoio Pedagógico na formulação da Estratégia Nacional de Educação Financeira?

— Os membros do GAP participam de frequentes reuniões para se informar, discutir, propor, elaborar, corrigir, criticar e planejar documentos, materiais didáticos, ações e iniciativas, entre outras atividades e demandas ligadas à Estratégia Nacional de Educação Financeira. Além de participações em reuniões, ainda analisamos e elaboramos pareceres sobre documentos e materiais didáticos. O GAP é presidido pelo MEC, conta com um representante docente de instituição pública de educação superior das cinco regiões do Brasil e representantes do setor financeiro e de instituições da sociedade civil.

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