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Edição 69 - Geografia Criativa
27/03/2012
 
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Rosângela Menta Mello (SE/PR): é importante trabalhar vários recursos integrados

As atividades com o uso do computador complementam o livro didático

As atividades com o uso do computador complementam o livro didático

Autor: Arquivo pessoal


Com 25 anos de magistério na escola pública, onde lecionou diversas disciplinas, Rosângela Menta Mello atua, desde o início deste ano, na Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em Curitiba. Ela ocupa o cargo de assessora técnica junto à Coordenação de Multimeios, na Diretoria de Tecnologia Educacional.

Licenciada em pedagogia – habilitação em administração escolar de 1º e 2º graus – e licenciada em estudos sociais, com especialização em Metodologia Didática do Ensino Superior, em Tecnologias da Informação e da Comunicação na Promoção da Aprendizagem, e em Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), ela trabalhou em diversas instituições ao longo de sua carreira profissional.

Nos últimos anos, Rosângela atuou como professora no Curso de Formação de Docentes para Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental na Modalidade Normal, do 1º ao 4º ano, do Colégio Estadual Wolff Klabin, em Telêmaco Borba (PR). Entre as diferentes disciplinas que lecionou está a de metodologia do ensino de geografia.

Em entrevista ao Jornal do Professor, a professora aborda os recursos e ferramentas que o professor de geografia deve utilizar em suas aulas, fala sobre a utilização do GPS (Sistema de Posicionamento Global), imagens de satélites e outros recursos disponíveis pela internet. Em sua opinião, o importante é trabalhar vários recursos integrados. “O professor precisa fazer um diagnóstico das necessidades da turma, como eles aprendem melhor e variar os recursos pedagógicos”, salienta.

Jornal do Professor – O que todo professor de geografia deve fazer ou utilizar em suas aulas? Quais os recursos e ferramentas mais importantes que deve utilizar?

Rosângela Menta Mello – A ementa da disciplina de metodologia do ensino de geografia prevê o estudo das concepções de geografia – A geografia como ciência; a compreensão do espaço produzido pela sociedade (espaço relacional); os aspectos teórico–metodológicos de ensino da geografia e os objetivos e finalidades do ensino da geografia na proposta curricular do curso de formação de docentes da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, atendendo as especificidades do estado do Paraná (quilombolas, indígenas, campo e ilhas). Diante deste contexto, a futura professora precisa compreender a estrutura desta temática, procurando desenvolver atividades docentes para que o estudante sinta-se um cidadão em nossa sociedade. Sem esta base teórica, o trabalho com a disciplina e o uso das novas tecnologias da informação e comunicação ficaria descontextualizado.

A medida que iniciamos as discussões, buscamos compreender a relação entre conteúdo, método e avaliação. Os estudantes passam a analisar os conteúdos básicos de geografia e sua relação com a história e a ciência na educação infantil e anos iniciais, buscando compreender como evoluiu nas diferentes tendências da geografia, através da bibliografia existente, das experiências de seus antepassados (pais e avós quando estudantes) até a concepção de geografia como ciência.

O trabalho com os recursos didáticos para educação infantil e anos iniciais é desenvolvido de forma prática, nos desdobramentos dos conteúdos. Nós não trabalhamos o conteúdo em si, mas a sua metodologia. Dividimos os conteúdos da disciplina em quatro bimestres e procuramos trabalhar cada período com um recurso didático diferente, ou seja, para que os estudantes do curso passem pelos principais recursos disponíveis na escola pública devem iniciar com a alfabetização cartográfica, um dos primeiros temas da educação infantil e das séries iniciais, trabalhamos a oficina de formas de utilização do mapa como instrumental básico para o estudo da geografia, com meios de orientação, cartografia, maquetes e diversos recursos didáticos, jogos, softwares, estudos de campo.

Uma das atividades realizadas com os estudantes, que teve grande repercussão é a dos meios de orientação:

• Iniciamos com a sua localização na sala de aula, na escola, no município, no estado, no país e no planeta.

• Usamos como ponto de referência o sol, o dia e a noite, a nossa localização em relação com o nosso entorno, sempre utilizando os pontos cardeais e colaterais.

• Como instrumentos iniciamos com o posicionamento correto do nosso corpo em relação ao sol, depois utilizamos o relógio como referência, a bússola (cada dupla de estudantes deve ter uma para poder aprender a usá-la. Atualmente, elas estão disponíveis a preços bem acessíveis. A escola possui 24 bússolas, além das dos professores).

• Com um mapa mudo da escola, a turma inicia a atividade de campo, se localizando, colocando os nomes em cada lugar, escrevendo os graus de azimute de um ponto ao outro, por onde passamos.

• Utilizando os celulares dos estudantes, passamos a observar as posições atuais com o GPS e o Google Maps, à medida que nos movimentamos no entorno da escola.

• No laboratório, vamos acessar o Google Maps, localizar nossa escola, a casa do estudante e verificar como chegar a pé, de ônibus ou de carro, as direções tomadas em relação aos pontos cardeais e colaterais e as distâncias. Observar se o trajeto realizado de casa para a escola é o mesmo que o software sugere, caso contrário, o estudante altera o trajeto e já verifica a sua distância. Utilizamos a visualização de satélite, de mapa, as opções de imagens, vídeos, clima, procurando anotar as modificações que ocorrem em sua comunidade, como era o bairro, que alterações ocorreram na urbanização, existem arroios e rios próximos, quais são os pontos de referência da comunidade em relação à cidade, que infraestrutura possui, vamos diminuindo o zoom e passamos a observar a cidade, o município... até o planeta. Aproveitamos para que observem que não existe em cima e em baixo do planeta, movimentamos o planeta no software, de forma a perceberem a nossa posição em relação ao sol e aos demais astros.

• Paralela a esta atividade abrimos os mapas locais e nacionais e do mundo, para que localizem e percebam as dimensões, a escola, façam leituras de legendas.

• Registrem as atividades realizadas em seu caderno ou blog.

Concluindo:

• O que considero mais importante? A fundamentação teórica do que se faz, senão a atividade fica esvaziada de conteúdo e de sentido para a vida.

• O que todo professor de geografia deve fazer ou utilizar em suas aulas? O estudante precisa perceber o que, por que e para que está trabalhando determinado assunto. Não se trata de ser utilitarista, mas de fundamentar o que se faz em função dos objetivos do curso que leciona. Deve planejar toda a sua ação docente, com propostas para todo o seu período de trabalho, desdobradas conforme a modalidade, seja mensal, bimestral, semestral, variando os recursos em sala de aula, por exemplo, se utilizou uma apresentação, na próxima aula pode utilizar uma webquest, na outra um seminário, na próxima um estudo de campo, por exemplo. Para funcionar bem é necessário que o estudante saiba a sua programação, quais os temas que serão discutidos e estudados durante o mês ou bimestre, tenham em mãos os textos a serem utilizados, para que façam a leitura antecipada, seja programado como será a avaliação, quanto aos prazos de entrega das atividades, o valor de cada proposta, acordado com a turma, de forma que não haja surpresa. O estudante deve possuir responsabilidades e perceber que é valorizado quando é pontual, quando faz contribuições fundamentadas.

• Quais os recursos e ferramentas mais importantes em uma aula de geografia? Depende muito da formação do professor, de seu interesse de uso, por exemplo, a escola pode ter laboratórios de informática com acesso a internet, data show, mapas históricos e novos, lunetas (distribuídas pelo EREA), globos com iluminação interna, GPS, bússolas de precisão, máquinas fotográficas, filmadoras, acervos históricos, jogos, mas se o professor não dominar estes recursos e não perceber sua aplicação no contexto de determinado conteúdo, não resolve o problema, continuará dando aula de forma tradicional com um recurso novo. É a mesma coisa que continuar passando resumos no data show e dando aulas expositivas. Acredito que cada tema da geografia, em cada modalidade de ensino, pode ser trabalhado com um recurso apropriado. Por exemplo: podemos iniciar com maquetes simples no 1º ano até chegarmos ao 5º ano com escalas, desenhos em perspectiva. Fazemos mapas desenhados de trajetos de casa para a escola e a seguir apresentamos o Google Maps para a criança perceber os espaços e se localizar. Paralelamente a essa atividade esticamos o mapa do bairro, do município. O importante é trabalhar vários recursos integrados. O professor precisa fazer um diagnóstico das necessidades da turma, como eles aprendem melhor e variar os recursos pedagógicos. É através do diálogo, das observações, da prática, das orientações pedagógicas e discussões que se constroem o conhecimento, numa perspectiva crítica de sociedade.

JP – Você considera o GPS uma ferramenta importante nas aulas de geografia? Como pode ser utilizado?

RMM – O GPS é um instrumento muito utilizado atualmente, grande parte da população já o possui em seus automóveis, nos celulares, tablets. Pode e deve ser utilizado na escola. Primeiramente deve ser utilizado na sala de aula, com a orientação do professor, posteriormente em estudos de campo até o seu uso independente.

O estudante deve aprender a configurá-lo para utilizar de várias formas:

- Onde estou?

- Para onde pretendo ir?

- Qual a distância?

- Quais os caminhos alternativos?

- Por onde vou passar? Quais os pontos de referência?

- Quanto tempo vai levar?

Podemos associar o Google Maps a mapas impressos, a folders turísticos. O estudante pode aprender a produzir materiais impressos ou para web, mapas, imagens, vídeos utilizando estes recursos.

JP – Como utilizar as imagens de satélites e outros conteúdos disponíveis via computador?

RMM – Considero importante: imagens, ilustrações, vídeos, animações, simuladores, jogos, áudios, entre outros recursos, para o ensino e aprendizagem.

O professor pode produzir um material, com vários recursos, dependendo das necessidades de sua escola. Por exemplo, se possui um laboratório de informática, poderá programar desde o estudo da disciplina, fazendo apresentações para data show, em projetores, retroprojetores; produzir vídeos (TV); gravar sons; para ilustrar uma região a ser construída no formato de maquete, a serem desenhadas, para fazer descrições, comparações, produções textuais impressas, manuais, para web. Propor pesquisas usando a WebQuest, construções de mapas conceituais, fazer web gincanas.

As atividades com o uso do computador complementam o livro didático, mas este não deixa de ser um referencial para o trabalho do professor, um recurso poderoso que todos os estudantes têm acesso, mas que deve ser discutido e analisado.

JP – Os mapas ficaram ultrapassados depois do surgimento do computador e da internet?

RMM – Acredito que as novas tecnologias são importantes e estão construindo um novo cidadão, com novas formas de perceber o mundo. Nossos jovens gostam muito do mundo digital, mas os recursos didáticos impressos não perderam a sua funcionalidade. Nós aprendemos de diversas formas, há os que necessitam estarem em contato com os objetos, outros aprendem mais visualmente ou ouvindo. Podemos comparar o mapa impresso com o livro, os e-books estão entrando no mercado com força, mas não descaracterizam o impresso. Este acesso ao mundo digital ainda não é para todos, infelizmente.

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